São Paulo, Segunda-feira, 08 de Março de 1999
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OUTROS MERCADOS
Metal acompanhou variação do dólar e se valorizou 65% no ano; analistas não crêem em recuperação
Não deixe o brilho do ouro ofuscar você

Cleo Velleda/Folha Imagem
O médico Lorenzo Franzero, 37, que comprou ouro para se proteger da perda de valor da moeda


RITA NAZARETH
da Reportagem Local

Preocupado em proteger seu patrimônio logo após a maxidesvalorização do real, o médico Lorenzo Giuseppe Franzero, 37, decidiu fazer algo que não fazia desde a época em que a inflação atingia níveis gritantes: comprou ouro. E, acredite, ganhou.
Do dia 15 de janeiro, dia em que decidiu investir no metal, até a última sexta-feira, Franzero ganhou 33,5%. Fechando em R$ 18,70 por grama no último dia 5, o ouro acumula valorização de 65% no ano. Uma vitória para o metal que, de 1986 até 1997, registrava desvalorização de 72,8%. Mas será que ele realmente acabou recuperando seu brilho?
Segundo Renato Rabello, diretor da corretora Indusval, uma das líderes em negociação de ouro, o valor do metal simplesmente acompanhou a valorização da moeda norte-americana em relação ao real no período.
"O valor do ouro é definido pela cotação internacional e fechado pelo valor do dólar do dia", afirma Rabello. "Como a cotação do metal no exterior não subiu, o aumento de seu valor foi definido mesmo pela valorização do dólar em relação ao real."
Da mesma forma, a queda do dólar de 2,89% em relação ao real na última quinta-feira provocou queda da cotação do ouro, o que demonstra que o preço do metal está atrelado à variação da moeda norte-americana. Cotado a R$ 20,40 na última quarta-feira, o grama do ouro passou a R$ 19,25 no dia seguinte.

Investimentos
Como Franzero, não foram poucos os que se animaram para comprar ouro depois da máxi. A BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros), que vinha registrando média diária de negociação de ouro de 117 kg em 98, passou a registrar a negociação de 358,50 kg por dia em janeiro e de 271,60 kg em fevereiro.
"Não creio que essa seja a melhor forma de se proteger contra a inflação", diz Rabello. "Mas, entre um e outro, está mais bem protegido atualmente contra as oscilações do câmbio quem já optou, antes da alta, pelo dólar."
Ele explica. "Se o valor do ouro cair mais ainda no exterior, o investidor vai acabar perdendo dinheiro ainda que o dólar esteja valorizado em relação ao real", diz. "Mas, se o ouro perder seu valor, não significa que o preço do dólar venha a baixar."
Edinardo Figueiredo Júnior, diretor da administradora de recursos Linear, afirma ser bastante cético em relação à valorização de ambos.
"Quem tinha de ganhar dinheiro com dólar já ganhou", diz. "O mesmo pode-se dizer em relação ao ouro."
Além do metal, Figueiredo Júnior diz que, temendo corrosão da moeda, muita gente se volta para os imóveis, pois são ativos reais. "O que não consideram é que, em uma hiperinflação, tudo acaba perdendo valor."
Ele orienta os investidores que queiram se proteger atualmente a optarem por uma aplicação financeira de caráter defensivo.
"Nesse caso, o fundo DI é a melhor alternativa para o investidor", afirma Figueiredo Júnior. "Ele acompanha os altos juros do mercado e, por isso, o risco oferecido é baixíssimo."
Além disso, a desvalorização do dólar na semana passada já pode ser um indício de que o ouro deverá voltar a perder valor.
E o médico Franzero? "Quando o sinal está verde vou para ações, amarelo, para renda fixa, e vermelho, para ouro", afirma. "Assim que as coisas começarem a voltar a um nível "intermediário" passo o metal para frente. Espero que não demore muito."


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