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CAPITAL ABERTO
Tornar-se sócio de empresas recém-chegadas à Bolsa pode ser um bom negócio, mas há riscos
Preço de largada pode ser superestimado
ODETE PACHECO
Editora-adjunta do Folhainvest
Mais de 300 empresas fizeram
sua estréia, nos últimos quatro
anos, na Bolsa. Outras dez estão
aguardando registro na CVM
(Comissão de Valores Mobiliários) para começar a operar no
mercado. Esse movimento abre
novas frentes de negócios ao investidor.
Ao fazer uma oferta pública inicial de ações -IPO (Initial Public
Offering)-, as empresas podem
colocar seus papéis no mercado a
preços módicos e com boas chances de valorização. Mas há o risco
de ocorrer o inverso, e o investidor ficar com papéis caros e sem
liquidez na carteira.
A abertura de capital do Grupo
Ultrapar, um dos mais tradicionais distribuidores de gás de cozinha e de produção petroquímica
do país, coloca essa discussão na
ordem do dia. Suas ações começaram a ser negociadas na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), na quarta-feira, a R$ 18,51; na
sexta-feira, elas estavam cotadas a
R$ 22,40.
Apesar da alta de 21%, o valor
das ações ainda apresenta queda
em relação ao preço em que foram emitidas no programa de
abertura de capital -R$ 26,44. A
emissão das ações foi feita um dia
antes da colocação dos papéis na
Bolsa. Nessa fase, a maior parte
das compras foi feita por grandes
investidores.
Analistas dizem que a queda de
preço, em relação ao valor da
oferta inicial, será revertida. "A
empresa tem o mérito inegável de
ser uma das poucas que resistiram à abertura do mercado, mantendo sólida sua situação financeira", diz um analista.
Oportunidade e risco
Uma dificuldade até para os
analistas é determinar se o valor
de abertura dos negócios de uma
empresa é justo. Um papel contra
o qual muitos apostavam, o do
Pão de Açúcar, por exemplo, se
valorizou, desde que o grupo
abriu capital, em outubro de 95,
quase 300% (veja gráfico).
O papel da concordatária Arapuã, que muitos deles recomendavam comprar, deu um prejuízo
de 96,5% a quem o guardou em
carteira durante o período em que
foi negociado -de outubro de 95
a dezembro do ano passado.
"É muito arriscado comprar o
papel no programa de abertura de
capital", diz Alberto Guth, diretor
da administradora de recursos
Investidor Profissional. "A gente
não costuma comprar nesse momento; o mercado acionário está
atravessando duas crises por ano,
e os preços, por conta disso, tendem a oscilar muito."
Outro papel que fez a felicidade
de quem acreditou nele foi o da
Elevadores Atlas. Quem o manteve em carteira, da abertura de seu
capital, em outubro de 96, até o
seu fechamento, em maio deste
ano, quando seu controle foi
comprado pelo grupo suíço
Schindler, ganhou um bom dinheiro: 184% de retorno.
A oferta pelas ações dos minoritários foi feita a um preço cuja diferença era só de 15% em relação
ao que foi pago pelo controle.
Há casos, entretanto, em que o
acionista perdeu muito dinheiro.
Num período em que o Ibovespa
(Índice da Bolsa de Valores de São
Paulo) subiu 188,6%, de maio de
95 até sexta-feira, a cotação dos
papéis da Latasa, lançados naquele período, teve queda de 65,4%
(leia texto nesta página).
Mesmo no período em que a
Bolsa registrou um de seus piores
desempenhos dos últimos anos,
de 97 até hoje, o Ibovespa teve
crescimento.
O acionista também levou prejuízo se investiu nos papéis da
Globo Cabo, empresa de TV paga
por cabo das Organizações Globo, que começaram a ser negociados em novembro de 96. O preço
da ação caiu, nesse período,
35,7%. Segundo analistas, a queda
se deveu ao endividamento externo da empresa e ao alto índice de
inadimplência do setor.
Com a compra pela Microsoft
de 12% do capital da Globo Cabo,
anunciada em agosto, o preço da
ação começou a esboçar reação.
Chegou a ser cotada a R$ 0,20 em
abril e a R$ 0,75 em julho.
Na Nasdaq, a Bolsa eletrônica
que reúne as empresas do setor de
tecnologia nos EUA, a reação à
entrada da Microsoft na Globo
Cabo foi mais rápida: a ADR
(American Depositary Receipt),
papel emitido e negociado nos
EUA com lastro em ações de outros países, que chegou a ser negociada a apenas US$ 1, em 25 de
março, era cotada a US$ 6,30,
quando iniciaram as negociações
com a Microsoft. Em seguida, se
estabilizou ao redor de US$ 5.
Se você quer virar sócio de empresas recém-chegadas à Bolsa, as
oportunidades estão aí, mas saiba
que avaliar o preço em que a ação
é ofertada requer análises e cálculos que, muitas vezes, somente especialistas conseguem fazer. É
preciso olhar o passado e o futuro
da empresa. "Entender a natureza
de seu negócio, seus planos, possibilidades de crescimento, seu
nível de endividamento", diz Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management).
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