São Paulo, Segunda-feira, 18 de Outubro de 1999
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CAPITAL ABERTO
Tornar-se sócio de empresas recém-chegadas à Bolsa pode ser um bom negócio, mas há riscos
Preço de largada pode ser superestimado

ODETE PACHECO
Editora-adjunta do Folhainvest

Mais de 300 empresas fizeram sua estréia, nos últimos quatro anos, na Bolsa. Outras dez estão aguardando registro na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para começar a operar no mercado. Esse movimento abre novas frentes de negócios ao investidor.
Ao fazer uma oferta pública inicial de ações -IPO (Initial Public Offering)-, as empresas podem colocar seus papéis no mercado a preços módicos e com boas chances de valorização. Mas há o risco de ocorrer o inverso, e o investidor ficar com papéis caros e sem liquidez na carteira.
A abertura de capital do Grupo Ultrapar, um dos mais tradicionais distribuidores de gás de cozinha e de produção petroquímica do país, coloca essa discussão na ordem do dia. Suas ações começaram a ser negociadas na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), na quarta-feira, a R$ 18,51; na sexta-feira, elas estavam cotadas a R$ 22,40.
Apesar da alta de 21%, o valor das ações ainda apresenta queda em relação ao preço em que foram emitidas no programa de abertura de capital -R$ 26,44. A emissão das ações foi feita um dia antes da colocação dos papéis na Bolsa. Nessa fase, a maior parte das compras foi feita por grandes investidores.
Analistas dizem que a queda de preço, em relação ao valor da oferta inicial, será revertida. "A empresa tem o mérito inegável de ser uma das poucas que resistiram à abertura do mercado, mantendo sólida sua situação financeira", diz um analista.

Oportunidade e risco
Uma dificuldade até para os analistas é determinar se o valor de abertura dos negócios de uma empresa é justo. Um papel contra o qual muitos apostavam, o do Pão de Açúcar, por exemplo, se valorizou, desde que o grupo abriu capital, em outubro de 95, quase 300% (veja gráfico).
O papel da concordatária Arapuã, que muitos deles recomendavam comprar, deu um prejuízo de 96,5% a quem o guardou em carteira durante o período em que foi negociado -de outubro de 95 a dezembro do ano passado.
"É muito arriscado comprar o papel no programa de abertura de capital", diz Alberto Guth, diretor da administradora de recursos Investidor Profissional. "A gente não costuma comprar nesse momento; o mercado acionário está atravessando duas crises por ano, e os preços, por conta disso, tendem a oscilar muito."
Outro papel que fez a felicidade de quem acreditou nele foi o da Elevadores Atlas. Quem o manteve em carteira, da abertura de seu capital, em outubro de 96, até o seu fechamento, em maio deste ano, quando seu controle foi comprado pelo grupo suíço Schindler, ganhou um bom dinheiro: 184% de retorno.
A oferta pelas ações dos minoritários foi feita a um preço cuja diferença era só de 15% em relação ao que foi pago pelo controle.
Há casos, entretanto, em que o acionista perdeu muito dinheiro. Num período em que o Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de São Paulo) subiu 188,6%, de maio de 95 até sexta-feira, a cotação dos papéis da Latasa, lançados naquele período, teve queda de 65,4% (leia texto nesta página).
Mesmo no período em que a Bolsa registrou um de seus piores desempenhos dos últimos anos, de 97 até hoje, o Ibovespa teve crescimento.
O acionista também levou prejuízo se investiu nos papéis da Globo Cabo, empresa de TV paga por cabo das Organizações Globo, que começaram a ser negociados em novembro de 96. O preço da ação caiu, nesse período, 35,7%. Segundo analistas, a queda se deveu ao endividamento externo da empresa e ao alto índice de inadimplência do setor.
Com a compra pela Microsoft de 12% do capital da Globo Cabo, anunciada em agosto, o preço da ação começou a esboçar reação. Chegou a ser cotada a R$ 0,20 em abril e a R$ 0,75 em julho.
Na Nasdaq, a Bolsa eletrônica que reúne as empresas do setor de tecnologia nos EUA, a reação à entrada da Microsoft na Globo Cabo foi mais rápida: a ADR (American Depositary Receipt), papel emitido e negociado nos EUA com lastro em ações de outros países, que chegou a ser negociada a apenas US$ 1, em 25 de março, era cotada a US$ 6,30, quando iniciaram as negociações com a Microsoft. Em seguida, se estabilizou ao redor de US$ 5.
Se você quer virar sócio de empresas recém-chegadas à Bolsa, as oportunidades estão aí, mas saiba que avaliar o preço em que a ação é ofertada requer análises e cálculos que, muitas vezes, somente especialistas conseguem fazer. É preciso olhar o passado e o futuro da empresa. "Entender a natureza de seu negócio, seus planos, possibilidades de crescimento, seu nível de endividamento", diz Jorge Simino, diretor da UAM (Unibanco Asset Management).


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