São Paulo, segunda, 14 de setembro de 1998

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MOEDAS
Bolsas de Valores de países que desvalorizaram sua moeda sofreram quedas acentuadas meses depois do ajuste
Desvalorização é vista como uma ameaça

da Redação

As Bolsas de Valores de países que promoveram desvalorizações de suas moedas em relação ao dólar experimentaram perdas significativas nos meses que antecederam a desvalorização.
À exceção da Bolsa coreana, todas as outras também tiveram perdas nos meses seguintes à desvalorização cambial. As perdas variaram de acordo com o tamanho da desvalorização e da resistência em se fazer o ajuste.
A Bolsa na Rússia, que resistiu até o último minuto para promover uma desvalorização de 69% no rublo, sofreu uma queda de mais de 80% reais em menos de um mês após a correção da moeda (veja tabela abaixo).
Já na Coréia, que promoveu uma desvalorização de 2,2% na sua moeda, no final do ano passado, a Bolsa experimentou um ganho real de 28% nos três meses seguintes ao ajuste.

Brasil

No Brasil, as sucessivas quedas da Bolsa de Valores também refletem o medo de que o país promova uma desvalorização cambial. Os investidores estrangeiros enxergam a possibilidade como uma ameaça. Se deixassem para resgatar seu dinheiro do país após a desvalorização, eles perderiam porque precisariam de mais reais para trocar por dólares.
Esse é o problema imediato, mas não o único. Esses investidores têm medo que o país quebre, ou seja, que suas reservas internacionais acabem e o governo não tenha recursos para honrar suas obrigações externas.
Outro ponto importante a considerar é que uma desvalorização da moeda provoca perda de riqueza imediata para o país. Todos ficam mais pobres, as empresas produzem menos porque há poucos consumidores e passam a ter receitas e lucros menores.
Sem crescimento econômico, a roda não gira, e como as Bolsas de Valores refletem o desempenho das empresas, o mercado reage com queda no preço das ações.
Por isso, os analistas acreditam que ainda levará algum tempo até que a Bolsa de Valores recupere sua tendência de alta. Na avaliação de muitos administradores de recursos, até que o mundo absorva o impacto dessas desvalorizações cambiais ocorridas e a recessão encerre seu ciclo, será preciso um prazo de dois a três anos.
As Bolsas podem começar a reagir antes disso. Alguns indicativos apontam para o segundo semestre de 1999, pois as ações já começariam a refletir o crescimento esperado para o ano 2000.

Reservas internacionais
A corrida de investidores por proteção em dólar fundamenta-se na expectativa de que o governo brasileiro seja obrigado a promover uma desvalorização cambial para reverter o fluxo de capitais estrangeiros para o país.
A equipe econômica do governo Fernando Henrique Cardoso sempre descartou essa hipótese e este ano vem mantendo uma desvalorização mensal de 0,6% para o câmbio. Por vontade própria, o governo não tomaria tal atitude, mas o receio é que o governo não tenha alternativas.
A fuga de capitais este mês já ultrapassa os US$ 10 bilhões e, na estimativa de muitos economistas, as reservas internacionais podem entrar na segunda quinzena do mês num patamar de US$ 45 bilhões. Lembre-se que há pouco tempo elas somavam US$ 74 bilhões.



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