São Paulo, segunda, 19 de outubro de 1998

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CARTEIRA LIVRE
Fundos de renda variável, que operam nos mercados futuros para obter rentabilidade de renda fixa, estão com seus dias contados
Vai acabar essa mamata

da Reportagem Local

Em meio à crise das Bolsas, alguns investidores estão aproveitando o melhor de dois mundos: a liquidez dos fundos de ações e a rentabilidade dos de renda fixa, em uma única aplicação.
Eles investem em fundos carteira livre que não têm prazo de carência para sacar, mas conseguem escapar do risco da Bolsa e obtêm rentabilidade compatível com a do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), a taxa usada nos empréstimos entre bancos. De quebra, alguns ainda reduzem à metade a mordida do fisco.
O milagre é fruto da criatividade dos administradores de fundos de renda variável (ações e carteira livre). A legislação permite que os fundos carteira livre apliquem 49% de seu patrimônio em derivativos (contratos futuros de juros, câmbio e Ibovespa).
Os gestores de fundos combinaram essas operações com a compra de ações no mercado à vista e conseguiram uma rentabilidade equivalente à taxa de juro do CDI.
No ano passado, esse tipo de fundo proliferou como praga. Mas a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) não gostou da brincadeira e resolveu pôr fim à alegria dos administradores e investidores.
"Os fundos carteira livre que fazem operações buscando rentabilidade de renda fixa estão irregulares. Eles têm de estar sujeitos à flutuação do mercado de ações", diz Ana Maria França, superintendente de relações com investidores da CVM.
Segundo Ana Maria, a maioria das instituições que adotaram esse tipo de política, no ano passado, já se enquadrou. "Outras resistem, alegando que não buscam rentabilidade de renda fixa, mas, sim, controlar a volatilidade do fundo e proteger o aplicador", acrescenta.
A PPS Portfólio Performance localizou quatro fundos carteira livre que ainda operam com rentabilidade colada ao CDI (veja quadro). Dois deles, o Omega, do banco Omega, e o Solid, do banco Cidade, estão em fase de extinção, segundo seus administradores.
O ABC Brasil ALCP, do banco ABC Brasil, opera normalmente. Esse fundo teve rentabilidade positiva ao longo de quase todo o ano. Na média, ficou em torno de 90% do CDI.
Segundo seu gestor, não houve nenhum milagre."Trabalhamos com ativos de renda variável com baixa volatilidade (oscilação de preços)", explica Wanderley Silva, diretor de Asset Management.
Silva diz que o ALCP não compra ações no mercado à vista e mantém 51% de seu patrimônio aplicado em contratos de Ibovespa futuro e o restante em renda fixa. "Com isso, conseguimos minimizar a volatilidade do fundo."
O Comercial FMIA, da corretora Comercial, também adota uma política cujo resultado não tem correlação com a Bolsa, apesar de ser renda variável. "A meta do fundo é superar o CDI", afirma Antonio Carlos Costa de Barros, diretor da corretora.
Segundo ele, esse é um fundo carteira livre conservador e que segue as normas da CVM. Por isso, seus investidores pagam só 10% de imposto de renda, enquanto na renda fixa o imposto é de 20%.
O fundo consegue bater o CDI comprando ações no mercado à vista e fazendo apostas a preços menores no mercado futuro, com o mesmo papel.
"Por exemplo: compramos Telebrás a R$ 90, à vista. Vendemos opção a vencer em dois meses, por R$ 70. Se o preço do papel subir eu ganho, se cair, eu perco", diz ele.



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