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LIGHTPAR
Grandes investidores lucraram com valorização excepcional do papel e estão sob investigação da CVM
De quem é a mão invisível do mercado
MARA LUQUET
Editora do Folhainvest
SANDRA BALBI
da Reportagem Local
Um antigo cliente da corretora
de valores Santander ganhou em
menos de três meses mais de meio
milhão de reais. Ele fez esse excelente negócio comprando 110 milhões de ações da Lightpar (subsidiária da Eletrobrás) ao preço de
R$ 0,157 por ação e vendendo esses
papéis nos últimos dias 4 e 5 quando o preço da ação já apresentava
um ganho de 980%.
Rentabilidade semelhante teve
um cliente da corretora Stock, que
comprou cerca de 60 milhões de
ações da empresa ao preço médio
de R$ 0,9014 no mesmo período.
Esses investidores, que deixaram
você de queixo caído, também deixaram experientes profissionais
do mercado de ações com a sensação de que foram enganados.
Eles viram o valor da Lightpar
subir 3.000% na Bolsa, em poucos
dias, e perderam esse ganho espetacular porque, juram, não viam
motivos para tamanha alta. "Isso é
nitidamente manipulação do mercado", diz um experiente investidor.
A alta da Lightpar veio por conta
da decisão da Eletrobrás de chamar um sócio estrangeiro para fazer a empresa operar como intermediária na área de transmissão
de dados.
Além da forma como o negócio
foi anunciado, que suscita queixas
do mercado pela falta de transparência, existem divergências sobre
o valor do negócio.
Os investidores que estavam
comprando o papel passaram a
avaliar a empresa, de R$ 10 milhões, em R$ 200 milhões por conta da sua nova função. Alguns analistas duvidam de que a concessão
para transmissão de dados via fibra óptica alcance um valor tão alto.
Um dos argumentos é que a concessão da empresa espelho da Embratel, que é válida para todo território nacional e para todos os serviços que a estatal presta, foi vendida por R$ 65 milhões em dezembro. A transmissão de dados por fibra óptica, que será repassada à
Lightpar, é só uma parte disso.
A Lightpar era uma empresa com
apenas R$ 5 milhões em caixa e
sem nenhum futuro. Em média,
eram feitos parcos cinco negócios
diários com seus papéis em Bolsa.
Toda sua valorização está ancorada, portanto, no valor dessa concessão de transmissão por fibra
óptica.
Os investidores que aplicaram
nessas ações foram comprando
papéis aos pouquinhos, movidos,
como acreditam muitos, por informações privilegiadas. Se for assim,
eles podem enfrentar problemas.
Informações privilegiadas são
ilegais no mercado de ações. "Nossa função é tentar ao máximo permitir que todos tenham as mesmas
informações", diz Gilberto Mifano, diretor da Bovespa.
Por isso, os clientes ganhadores
estão na mira da CVM (Comissão
de Valores Mobiliários), o xerife
desse mercado e da Bovespa.
"Não é proibido o preço de uma
ação subir", diz Mifano. "Mas
sempre investigamos quando uma
ação tem uma alta exagerada."
Poucos enxergaram a valorização
que poderia acontecer com a
Lightpar.
Por isso, analistas acreditam que
houve manipulação no mercado.
Alguns observadores mais atentos
perceberam o potencial do papel.
O engenheiro José Paulo de Lucca, 27, que está nos EUA, concluindo seu mestrado em finanças começou a comprar essas ações ainda no mês de fevereiro. "Comprei
porque notei que esse papel que
nunca era negociado passou a ter
alguns compradores", diz Lucca.
Ele, contudo, não embolsou os
ganhos da valorização da Lightpar,
pois suas compras foram feitas
apenas no simulado Folhainvest
em Ação, o mercado virtual de
ações promovido pelo Folhainvest
com apoio técnico da Bovespa.
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