São Paulo, segunda, 22 de março de 1999

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LIGHTPAR
Grandes investidores lucraram com valorização excepcional do papel e estão sob investigação da CVM
De quem é a mão invisível do mercado

MARA LUQUET
Editora do Folhainvest

SANDRA BALBI



da Reportagem Local


Um antigo cliente da corretora de valores Santander ganhou em menos de três meses mais de meio milhão de reais. Ele fez esse excelente negócio comprando 110 milhões de ações da Lightpar (subsidiária da Eletrobrás) ao preço de R$ 0,157 por ação e vendendo esses papéis nos últimos dias 4 e 5 quando o preço da ação já apresentava um ganho de 980%.
Rentabilidade semelhante teve um cliente da corretora Stock, que comprou cerca de 60 milhões de ações da empresa ao preço médio de R$ 0,9014 no mesmo período.
Esses investidores, que deixaram você de queixo caído, também deixaram experientes profissionais do mercado de ações com a sensação de que foram enganados.
Eles viram o valor da Lightpar subir 3.000% na Bolsa, em poucos dias, e perderam esse ganho espetacular porque, juram, não viam motivos para tamanha alta. "Isso é nitidamente manipulação do mercado", diz um experiente investidor.
A alta da Lightpar veio por conta da decisão da Eletrobrás de chamar um sócio estrangeiro para fazer a empresa operar como intermediária na área de transmissão de dados.
Além da forma como o negócio foi anunciado, que suscita queixas do mercado pela falta de transparência, existem divergências sobre o valor do negócio.
Os investidores que estavam comprando o papel passaram a avaliar a empresa, de R$ 10 milhões, em R$ 200 milhões por conta da sua nova função. Alguns analistas duvidam de que a concessão para transmissão de dados via fibra óptica alcance um valor tão alto.
Um dos argumentos é que a concessão da empresa espelho da Embratel, que é válida para todo território nacional e para todos os serviços que a estatal presta, foi vendida por R$ 65 milhões em dezembro. A transmissão de dados por fibra óptica, que será repassada à Lightpar, é só uma parte disso.
A Lightpar era uma empresa com apenas R$ 5 milhões em caixa e sem nenhum futuro. Em média, eram feitos parcos cinco negócios diários com seus papéis em Bolsa.
Toda sua valorização está ancorada, portanto, no valor dessa concessão de transmissão por fibra óptica.
Os investidores que aplicaram nessas ações foram comprando papéis aos pouquinhos, movidos, como acreditam muitos, por informações privilegiadas. Se for assim, eles podem enfrentar problemas.
Informações privilegiadas são ilegais no mercado de ações. "Nossa função é tentar ao máximo permitir que todos tenham as mesmas informações", diz Gilberto Mifano, diretor da Bovespa.
Por isso, os clientes ganhadores estão na mira da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o xerife desse mercado e da Bovespa.
"Não é proibido o preço de uma ação subir", diz Mifano. "Mas sempre investigamos quando uma ação tem uma alta exagerada." Poucos enxergaram a valorização que poderia acontecer com a Lightpar.
Por isso, analistas acreditam que houve manipulação no mercado. Alguns observadores mais atentos perceberam o potencial do papel.
O engenheiro José Paulo de Lucca, 27, que está nos EUA, concluindo seu mestrado em finanças começou a comprar essas ações ainda no mês de fevereiro. "Comprei porque notei que esse papel que nunca era negociado passou a ter alguns compradores", diz Lucca.
Ele, contudo, não embolsou os ganhos da valorização da Lightpar, pois suas compras foram feitas apenas no simulado Folhainvest em Ação, o mercado virtual de ações promovido pelo Folhainvest com apoio técnico da Bovespa.



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