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Ponto de fuga
Do que são feitos os quadrados
Quem não viu corra, porque termina no próximo dia 8; trata-se da exposição "Anni e Josef Albers",
na Pinacoteca do Estado,
em São Paulo
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JORGE COLI
COLUNISTA DA FOLHA
Quem não viu corra, porque termina no próximo dia 8. Trata-se da
exposição "Anni e Josef Albers", na Pinacoteca do Estado,
em São Paulo.
Josef Albers, mestre maior
da abstração geométrica, centrou-se na forma e na cor, livrando-se da matéria. Suas
obras mais conhecidas são as
insistentes "Homenagens ao
Quadrado", criadas a partir de
1949. O esquema se repete:
quatro quadrados, um dentro
do outro, mais próximos entre
si na parte inferior. Um conjunto dessas "Homenagens"
pode ser visto no Instituto Tomie Ohtake: o último dia de
apresentação é hoje!
Na Pinacoteca, o tema são as
relações que os Albers mantiveram com a América Latina,
sobretudo o México, país pelo
qual se apaixonaram. Buscaram ali afinidades artísticas na
cultura popular e pré-colombiana. É um período que precede o extremo minimalismo de
sua maturidade.
Mas há sempre o desejo de
alcançar o imaterial, fazendo
pensar no maravilhoso vestido
que Monteiro Lobato inventou
em "Reinações de Narizinho",
talhado em tecido algum e feito
apenas de cor.
De maneira clássica, atribui-se ao colorido um papel sensível e sensual, opondo-o ao desenho, de natureza intelectiva,
mais significante e vizinho da
escrita. Na prática platônica de
Albers, ao contrário, todo matiz perde espessura e eleva-se a
um domínio onde se junta, em
mesmo nível, à pureza sem matéria das formas ideais.
Penélope
A mostra Albers, na Pinacoteca, releva a criação de Anni,
mulher do mestre. Sua celebridade foi sempre menor que a do
marido, mas não sua arte.
Tecelã de formação, Anni Albers enfrenta a regularidade
aproximativa das malhas, muitas inspiradas na tapeçaria peruana. Ama os temas de pequeno formato, que se multiplicam
em tramas.
Jardim
Margaret Mee era inglesa.
Foi formada no Camberwell
College, em tempos da alta
disciplina pedagógica, minuciosa e exigente, derivada de
seus fundadores. Entre eles,
Burne-Jones, Walter Crane e
o lorde Leighton, que punham no mesmo patamar a
arte da pintura e a da ilustração, insistindo na sutileza da
linha, na beleza meditada das
texturas e superfícies.
Margaret Mee veio para o
Brasil em 1952. Apaixonou-se
pelas flores exóticas, que reproduzia com amor. Tornou-se a "Dama das Bromélias":
foi assim que a escola de samba Beija-Flor a batizou num
samba-enredo [em 1994].
A Pinacoteca do Estado consagra a ela uma exposição em
homenagem ao centenário de
seu nascimento.
A grande artista
As plantas de Margaret comovem.
Pela personalidade discreta
da artista, por seu amor às flores e sua fidelidade a elas. Também pela imensa beleza das
obras, fruto de uma intenção
que não se dirigia à assim chamada "criação artística", mas
ao serviço humilde de figurar
em desenhos, aquarelas, guaches, vegetais da mata atlântica
ou da floresta amazônica.
Não usava fotografias como
modelo. Fazia verdadeiros retratos ao vivo de cada espécie,
embrenhando-se no fundo das
selvas para encontrá-las. A prodigiosa qualidade dessas obras,
ultrapassando de longe seu
sentido primeiro, o de ilustrar,
oferece uma verdade maior do
que a de qualquer fotografia.
A relação íntima estabelecida
entre o olhar que detalha, que
nada deixa escapar, e a mão que
restitui a minudência observada são insubstituíveis.
A arte de Margaret Mee vence a fotografia não no terreno
de uma expressa intenção artística, mas no do realismo
mais profundo e fiel, que transporta sua flora para além do
efêmero.
jorgecoli@uol.com.br
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