São Paulo, Domingo, 02 de Janeiro de 2000


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OS CEM MELHORES POEMAS DO SÉCULO
"The Waste Land", de T.S. Eliot, é o melhor poema escrito desde 1900; "Tabacaria", de Pessoa, fica em segundo lugar
O século da terra desolada

Reprodução
O poeta T.S. Eliot (1888-1965), autor de "The Waste Land"


Maurício Santana Dias
da Redação

Abril é o mais cruel dos meses". Esta é uma sentença de difícil constatação empírica, mas que encerra uma inegável verdade poética. Trata-se do verso inicial daquele que foi eleito o melhor poema do século 20, "The Waste Land", do norte-americano naturalizado inglês Thomas Stearns Eliot (1888-1965).
Escrito em 1922, "A Terra Desolada" (na tradução de Ivan Junqueira) é um amplo mural de fragmentos recolhidos de várias tradições: da Antiguidade clássica aos Upanixades, das lendas medievais à poesia de Dante, dos salões franceses à Londres industrial. Sua influência na poesia contemporânea é imensa, tanto que seria inútil querer rastrear seus herdeiros e epígonos. Suas cinco seções formam, nas palavras do próprio Eliot, "uma espécie de todo", o qual expressa, para alguns, as ruínas da Primeira Guerra, para outros, o vazio ético e espiritual do homem moderno, e, para outros ainda, simplesmente tédio e desespero.
O poema foi quase uma unanimidade entre os dez poetas e críticos brasileiros convidados pela Folha, os quais selecionaram os cem melhores poemas do século 20 (aí incluído o ano 1900). O júri, formado por Alcir Pécora, Aleksandar Jovanovic, Augusto Massi, Décio Pignatari, Irlemar Chiampi, Ivo Barroso, José Lino Grünewald, Leonardo Fróes, Nelson Ascher e Sebastião Uchoa Leite, incumbiu-se também de elaborar uma lista dos melhores poemas brasileiros de todos os tempos, na qual prevaleceu "A Máquina do Mundo", de Carlos Drummond de Andrade (leia a relação dos poemas brasileiros nas págs. 16 a 19).
Cada jurado votou em 50 poemas da literatura universal escritos desde 1900 e em 30 da literatura brasileira de todos os tempos. Nos dois casos, apenas os dez primeiros foram colocados em ordem hierárquica de preferência. Os demais poemas citados foram relacionados em um ranking, por ordem de menções. A cada jurado pediu-se para votar em poemas ou ciclos fechados de poemas -como "Elegias de Duíno", de Rilke-, e não em títulos de coletâneas (leia a lista do júri nas págs. 8 e 9).
Comentando o resultado final, o poeta Décio Pignatari ressalta a criação de "uma espécie de estatística cultural". "As listas são a escolha de um país emergente, indicam como examinamos a cultura de outros países e a nossa. As pessoas, em 20, 30 anos, vão poder saber o que se pensava neste momento; acho isso positivo, mesmo sendo discutíveis os critérios, mesmo estando presentes as vaidades, as preferências pessoais etc.".
Há um ano, "Ulisses", obra do irlandês James Joyce, foi escolhido melhor romance do século em outra lista do Mais! (edição de 3/1/99). O confronto dos dois resultados, aquele e este, indica uma curiosa convergência: 1922. Tanto "The Waste Land" quanto "Ulisses" foram escritos naquele ano, e em língua inglesa.
Ainda naquela mesma data, o Brasil comemorava um século de Independência com a Semana de Arte Moderna, que revirou as tradições culturais do país. Talvez não por acaso, grande parte dos melhores poemas do século se concentra naquela década. O que não chega a surpreender, já que o período foi a fase áurea do modernismo. Aí estão, por exemplo, "Tabacaria" (1928), de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), "O Cemitério Marinho" (1920), de Paul Valéry, e "Hugh Selwyn Mauberley" (1920), de Ezra Pound, respectivamente o segundo, o terceiro e o quinto da lista.
"Não há surpresas no resultado final", comenta Ivo Barroso. "A seleção patenteia a excelência da poesia modernista".
Entre os cem poemas selecionados, apenas cinco foram escritos por mulheres. "Em poesia, as mulheres ainda mantêm uma posição subalterna. Sua oportunidade histórica não foi a mesma, mas isto está mudando", afirma a crítica Irlemar Chiampi.



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