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OS CEM MELHORES POEMAS DO SÉCULO
"The Waste Land", de T.S. Eliot, é o melhor poema escrito desde 1900; "Tabacaria", de Pessoa, fica em segundo lugar
O século da terra desolada
Reprodução
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O poeta T.S. Eliot (1888-1965), autor de "The Waste Land" |
Maurício Santana Dias
da Redação
Abril é o mais cruel dos meses". Esta é
uma sentença de difícil constatação
empírica, mas que encerra uma inegável
verdade poética. Trata-se do verso inicial
daquele que foi eleito o melhor poema
do século 20, "The Waste Land", do norte-americano naturalizado inglês Thomas Stearns Eliot (1888-1965).
Escrito em 1922, "A Terra Desolada"
(na tradução de Ivan Junqueira) é um
amplo mural de fragmentos recolhidos
de várias tradições: da Antiguidade clássica aos Upanixades, das lendas medievais à poesia de Dante, dos salões franceses à Londres industrial. Sua influência
na poesia contemporânea é imensa, tanto que seria inútil querer rastrear seus
herdeiros e epígonos. Suas cinco seções
formam, nas palavras do próprio Eliot,
"uma espécie de todo", o qual expressa,
para alguns, as ruínas da Primeira Guerra, para outros, o vazio ético e espiritual
do homem moderno, e, para outros ainda, simplesmente tédio e desespero.
O poema foi quase uma unanimidade
entre os dez poetas e críticos brasileiros
convidados pela Folha, os quais selecionaram os cem melhores poemas do século 20 (aí incluído o ano 1900). O júri,
formado por Alcir Pécora, Aleksandar
Jovanovic, Augusto Massi, Décio Pignatari, Irlemar Chiampi, Ivo Barroso, José
Lino Grünewald, Leonardo Fróes, Nelson Ascher e Sebastião Uchoa Leite, incumbiu-se também de elaborar uma lista dos melhores poemas brasileiros de
todos os tempos, na qual prevaleceu "A
Máquina do Mundo", de Carlos Drummond de Andrade (leia a relação dos
poemas brasileiros nas págs. 16 a 19).
Cada jurado votou em 50 poemas da literatura universal escritos desde 1900 e
em 30 da literatura brasileira de todos os
tempos. Nos dois casos, apenas os dez
primeiros foram colocados em ordem
hierárquica de preferência. Os demais
poemas citados foram relacionados em
um ranking, por ordem de menções. A
cada jurado pediu-se para votar em poemas ou ciclos fechados de poemas -como "Elegias de Duíno", de Rilke-, e não
em títulos de coletâneas (leia a lista do júri nas págs. 8 e 9).
Comentando o resultado final, o poeta
Décio Pignatari ressalta a criação de
"uma espécie de estatística cultural". "As
listas são a escolha de um país emergente, indicam como examinamos a cultura
de outros países e a nossa. As pessoas,
em 20, 30 anos, vão poder saber o que se
pensava neste momento; acho isso positivo, mesmo sendo discutíveis os critérios, mesmo estando presentes as vaidades, as preferências pessoais etc.".
Há um ano, "Ulisses", obra do irlandês
James Joyce, foi escolhido melhor romance do século em outra lista do Mais!
(edição de 3/1/99). O confronto dos dois
resultados, aquele e este, indica uma curiosa convergência: 1922. Tanto "The
Waste Land" quanto "Ulisses" foram escritos naquele ano, e em língua inglesa.
Ainda naquela mesma data, o Brasil
comemorava um século de Independência com a Semana de Arte Moderna, que
revirou as tradições culturais do país.
Talvez não por acaso, grande parte dos
melhores poemas do século se concentra
naquela década. O que não chega a surpreender, já que o período foi a fase áurea do modernismo. Aí estão, por exemplo, "Tabacaria" (1928), de Álvaro de
Campos (Fernando Pessoa), "O Cemitério Marinho" (1920), de Paul Valéry, e
"Hugh Selwyn Mauberley" (1920), de
Ezra Pound, respectivamente o segundo,
o terceiro e o quinto da lista.
"Não há surpresas no resultado final",
comenta Ivo Barroso. "A seleção patenteia a excelência da poesia modernista".
Entre os cem poemas selecionados,
apenas cinco foram escritos por mulheres. "Em poesia, as mulheres ainda mantêm uma posição subalterna. Sua oportunidade histórica não foi a mesma, mas
isto está mudando", afirma a crítica Irlemar Chiampi.
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