São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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DEPRESSÃO
É a doença moderna por excelência -acabou-se a histeria. Mas é apenas um começo: todo mundo acabará deprimido a partir de certa idade. Estritamente não há nada a fazer, porque o nível de exigência dos humanos em relação a sua própria vida vai continuar aumentando, mas não as capacidades de realização. Talvez haja uma esperança química. Não usei muito isso em meus livros, mas gosto quando se fala em liberação de neurotransmissores.
A depressão é um preço indispensável a pagar pela sociedade que as pessoas querem ter. É preciso admitir que uma boa proporção seja depressiva e que ao fim todo mundo o seja para poder ter tido uma vida suficientemente interessante antes. Na linhagem dos autores depressivos, certamente sou aquele para quem isso mais se banalizou. Em Beckett, ainda há uma certa nobreza da depressão. Daí certos gestos patéticos como distribuir seu Prêmio Nobel aos mendigos.
Para mim, é a situação normal do animal frustrado, que se deprime, que fica no fundo da jaula, que se coça... Não é sequer um tema, é um pano de fundo, que emprego sobretudo para o narrador. A vantagem é que muitas vezes os deprimidos são extremamente engraçados. Para ter um olhar humorístico e lúcido sobre o mundo, não há nada como um bom deprimido. Sou muito ligado a esse personagem de narrador depressivo. Talvez excessivamente.


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