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São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2003

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Frustrante, para Walter Salles, ou rito de passagem, para Cacá Diegues e Nelson Pereira dos Santos, primeiro longa ilumina as precárias condições da criação cinematográfica no Brasil

meu primeiro filme

José Geraldo Couto
Colunista da Folha

A estréia em longa-metragem, em qualquer lugar do mundo, é vista como um rito de passagem à vida adulta de um cineasta. Não por acaso, Hector Babenco, um dos dez diretores brasileiros de primeiro time convidados pelo Mais! a falar sobre o assunto, compara o primeiro longa à primeira relação sexual. Traumático ou indolor, visto com remorso ou nostalgia, é em todo caso um momento que deixa marcas profundas na filmografia que inaugura, como ficará claro nas entrevistas que se seguem.
Entre os cineastas entrevistados, apenas um, Walter Salles, renega totalmente sua estréia ("A Grande Arte"), preferindo considerar que sua carreira começa com o longa seguinte, "Terra Estrangeira", como afirma numa sucinta e surpreendente declaração, enviada por e-mail de Los Angeles, onde finaliza seu novo filme.
Vários diretores julgam que em seu primeiro longa-metragem estão presentes, ao menos em embrião, os principais elementos de sua filmografia posterior. É o que ocorre com Carlos Reichenbach, Nelson Pereira dos Santos e Cacá Diegues. Pelo que conta Beto Brant sobre "Os Matadores", já ali o mais jovem dos cineastas entrevistados exercitou uma de suas principais qualidades: a de incorporar ao filme situações, personagens e acidentes do local em que as cenas são rodadas.
Mas há casos em que a relação com esse primeiro rebento entra em flagrante contraste com as obras que tornaram seu autor conhecido. Muitos leitores se surpreenderão ao saber que o longa de estréia do criador e intérprete do Zé do Caixão, José Mojica Marins, não é um filme de terror, mas um faroeste rodado no interior paulista. Ou que Eduardo Coutinho, hoje sinônimo de documentário social, debutou com uma farsa política ambientada num país imaginário.
Se determinadas estréias são obscuras, outras são tão bombásticas que é impossível pensar em seus diretores sem remeter diretamente a elas. É o caso, por exemplo, de "O Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla, ou de "Um Céu de Estrelas", de Tata Amaral, até agora os pontos mais altos de ambas as filmografias.
Os depoimentos a seguir cobrem praticamente meio século de história, ajudando a iluminar as sempre precárias e desafiantes condições que cercam a aventura de fazer cinema no Brasil.


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