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Estética em obras
"Arquitetura e Filosofia" tenta responder à pergunta "por que um edifício é belo?" debruçando-se sobre 2.500 anos de história
LUIZ RECAMÁN
ESPECIAL PARA A FOLHA
A
rquitetura e filosofia têm se aproximado demasiadamente nos últimos
tempos. E por maus
motivos. Arquitetos simulam
filósofos e filósofos simulam
arquitetos. E ambos ajudam a
simular arquitetura, evidenciando a crise disciplinar que
mistura legalidades e éticas
distintas na origem.
O livro "Arquitetura e Filosofia" termina seu longo trajeto de mais de 2.500 anos segundos antes dessa recente sobreposição. Antípodas na balança hegeliana do espírito, arquitetura e filosofia têm contada nesse livro de fôlego a história de sua proximidade, a partir
de uma pergunta inicial: por
que um edifício é belo?
Nada mais diametralmente
oposto a essa preocupação que
o atual estado das coisas, o que
confere ao livro um tom ao
mesmo tempo de estranhamento e de crítica.
Existem nesse grande volume vários livros e várias utilidades, que procuram organizar
o caldeirão de idéias desse
"não-filósofo, não-arquiteto".
De Tales de Mileto a Foucault, o autor procura em cada
um (são mais de 40 pensadores) um roteiro que permita
iluminar a questão proposta.
Pode-se facilmente imaginar as
teias nas quais se enredam as
questões do belo arquitetônico:
arte, classes, ideologia, técnica,
natureza etc.
A amplitude dos temas, multiplicados pelo número de autores/sistemas, dá bem a idéia
das dificuldades encontradas.
Construto histórico
Tal constelação gravita em
torno de um ponto fixo: arquitetura (ou melhor, um edifício
belo). Essa é uma segunda dificuldade desse desfilar de idéias
instigantes: não existe esse
ponto inamovível.
Tanto as idéias a respeito como a própria arquitetura são
construto histórico.
E, mesmo se flanquearmos
arquitetura e filosofia, temos
nesse recorte clássico uma ruptura que transforma radicalmente o fenômeno arquitetônico: a modernidade e a construção do novo universo tecnológico a partir do século 18.
O advento da estética moderna equaciona a separação sem
volta entre arte/arquitetura e
natureza. A arquitetura moderna supera o objeto arquitetônico em direção à reorganização
formal do sistema produtivo
industrial. Com o fim do objeto
(pressuposto da modernidade
arquitetônica realizado apenas
negativamente), não podemos
mais desvendar-lhe os atributos sem negar sua razão de ser.
Um exemplo: o autor faz uma
análise das relações entre arte,
cultura e sociedade na obra de
Georg Simmel.
Empreitada difícil
O esquema não permite que
ele constate a grande influência
das análises de Simmel sobre a
relação entre metrópole, valor
e abstração, infinitamente mais
presentes no desenvolvimento
do pensamento crítico sobre
arquitetura e cidade no século
20 do que qualquer reflexão do
autor sobre a forma arquitetônica (Tafuri e Jameson).
Essas dificuldades advêm da
enormidade da empreitada.
Pois, ao não encontrar a resposta para sua pergunta original -graças ao acertado ponto
de vista materialista que procura adotar e que nega continuamente a essencialidade da proposição-, o esforço do autor
nos fornece um rol de observações curiosas e percepções sutis do fato arquitetônico.
Além de ser um útil manual
das reflexões garimpadas sobre
arte e arquitetura nos autores
escolhidos.
LUIZ RECAMÁN é professor de estética no departamento de arquitetura e urbanismo na USP,
em São Carlos (SP), e da Pontifícia Universidade
Católica, em Campinas (SP). É co-autor de "Arquitetura Moderna Brasileira". (Phaidon).
ARQUITETURA E FILOSOFIA
Autor: Mauricio Puls
Editora: Annablume (tel. 0/xx/11/
3031-9727)
Quanto: R$ 68 (596 págs.)
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