São Paulo, domingo, 04 de junho de 2006

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Biblioteca Básica

Cem Anos de Solidão

RONALDO DUQUE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Foi no início dos anos 1970 que devorei pela primeira vez "Cem Anos de Solidão" (ed. Record, trad. Eliane Zagury, 400 págs., R$ 40,90), de Gabriel García Márquez, publicado originalmente em 1967. Não me lembro quantas vezes depois reli esse livro, um dos melhores romances do século 20, escrito por um colombiano de Aracataca que estudou direito, foi jornalista e que em 1982 ganhou o Nobel de Literatura. O romance conta a fantástica saga da família Buendía, que vive em Macondo, cidade imaginária, rodeada de mistérios, no meio do nada. Gabo levou 15 anos pensando o romance. Conversamos sobre o livro em Cuba, na escola de cinema em San Antonio de Los Baños, onde tive a felicidade de ser seu aluno na oficina de "Como Contar um Conto". Já comprei várias edições. Hoje não tenho nenhuma. Sempre que um amigo visita minha casa e não conhece essa obra-prima da literatura latino-americana, acaba saindo de lá com o livro. Chamo de minha casa o sítio de meus filhos, em Goiás, que "coincidentemente" se chama Macondo. Vi García Márquez pessoalmente pela primeira vez em Paris, em 1989, durante as comemorações dos 200 anos da Revolução Francesa. Vinha do Festival de Cinema de Cannes. Conversamos por alguns minutos e ele sumiu de repente. Eu estava tão encantado que na hora esqueci de contar: um ano antes, filmara no Chile, inspirado em seu livro-reportagem "A Aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile". Antes, em 1975, outro livro de Gabriel mudou minha vida. Depois de quase um ano fora do Brasil, viajando pela América Latina, volto ao país com o artigo "Chile, o Golpe e os Gringos", que trazia uma lista de oficiais, inclusive brasileiros, que haviam feito um curso de tortura no Panamá. Fui preso por portar "literatura subversiva". Eram os tempos difíceis da ditadura militar. Em Cuba, durante nossa oficina de literatura, em 1992, poucas vezes pudemos falar sobre como seus livros foram definitivos para mim. Passávamos os dias inventando histórias que nunca acabavam. Gabo na cabeceira da mesa. Em volta, seus sortudos seis alunos. Hoje me dedico a sua autobiografia "Viver para Contar" (Record). São 476 páginas apaixonantes de memórias da infância e juventude. Lá vou eu, de novo.


RONALDO DUQUE é cineasta e está lançando o longa "Araguaya - Conspiração do Silêncio".

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