|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Biblioteca Básica
Cem Anos de Solidão
RONALDO DUQUE
ESPECIAL PARA A FOLHA
Foi no início dos anos 1970
que devorei pela primeira
vez "Cem Anos de Solidão" (ed. Record, trad. Eliane
Zagury, 400 págs., R$ 40,90),
de Gabriel García Márquez, publicado originalmente em 1967.
Não me lembro quantas vezes
depois reli esse livro, um dos
melhores romances do século
20, escrito por um colombiano
de Aracataca que estudou direito, foi jornalista e que em
1982 ganhou o Nobel de Literatura. O romance conta a fantástica saga da família Buendía,
que vive em Macondo, cidade
imaginária, rodeada de mistérios, no meio do nada.
Gabo levou 15 anos pensando o romance. Conversamos
sobre o livro em Cuba, na escola de cinema em San Antonio
de Los Baños, onde tive a felicidade de ser seu aluno na oficina
de "Como Contar um Conto".
Já comprei várias edições.
Hoje não tenho nenhuma.
Sempre que um amigo visita
minha casa e não conhece essa
obra-prima da literatura latino-americana, acaba saindo de
lá com o livro. Chamo de minha
casa o sítio de meus filhos, em
Goiás, que "coincidentemente"
se chama Macondo.
Vi García Márquez pessoalmente pela primeira vez em
Paris, em 1989, durante as comemorações dos 200 anos da
Revolução Francesa. Vinha do
Festival de Cinema de Cannes.
Conversamos por alguns minutos e ele sumiu de repente.
Eu estava tão encantado que
na hora esqueci de contar: um
ano antes, filmara no Chile,
inspirado em seu livro-reportagem "A Aventura de Miguel
Littín Clandestino no Chile".
Antes, em 1975, outro livro
de Gabriel mudou minha vida.
Depois de quase um ano fora
do Brasil, viajando pela América Latina, volto ao país com o
artigo "Chile, o Golpe e os
Gringos", que trazia uma lista
de oficiais, inclusive brasileiros, que haviam feito um curso
de tortura no Panamá. Fui preso por portar "literatura subversiva". Eram os tempos difíceis da ditadura militar.
Em Cuba, durante nossa oficina de literatura, em 1992,
poucas vezes pudemos falar sobre como seus livros foram definitivos para mim. Passávamos os dias inventando histórias que nunca acabavam. Gabo
na cabeceira da mesa. Em volta, seus sortudos seis alunos.
Hoje me dedico a sua autobiografia "Viver para Contar"
(Record). São 476 páginas apaixonantes de memórias da infância e juventude. Lá vou eu,
de novo.
RONALDO DUQUE é cineasta e está lançando o
longa "Araguaya - Conspiração do Silêncio".
Texto Anterior: Ponto de Fuga - Jorge Coli: A força das missões Próximo Texto: + autores: Crise de identidade Índice
|