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A volta dos que não foram
Afastados sob acusação de abuso do poder econômico tentam reerguer-se eleitoralmente
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Governadores e congressistas que tiveram seus mandatos cassados em
decisões recentes
da Justiça Eleitoral estão engajados para voltar à vida pública
em 2010. Eles chegam à disputa não só competitivos, mas alguns até com favoritismo.
O senador Expedito Júnior
(RO) encarna um exemplo
clássico. Teve o seu mandato
cassado pelo TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) sob as acusações de abuso de poder econômico e compra de votos, mas
se mantém no cargo graças ao
presidente do Senado -José
Sarney (PMDB-AP) avisou que
só o tirará da função quando
esgotadas todas as possibilidades de recurso.
Mesmo diante de um provável revés judicial, trocou, num
ato em Porto Velho diante de
4.000 pessoas no dia 25, o PR
pelo PSDB e obteve o apoio da
cúpula tucana, primeira etapa
da busca pela consolidação de
sua candidatura ao governo de
Rondônia. Repetindo o argumento da maior parte dos cassados, ele diz: "O povo sabe que
eu não comprei voto. Eles
acompanham isso".
Na preparação para a corrida
eleitoral, Expedito espera contar com a ajuda do atual governador, Ivo Cassol (sem partido), outro na mira do TSE. Cassol teve o mandato cassado em
primeira instância sob acusação de compra de votos e seu
destino depende de recurso.
Enquanto aguarda, Cassol
deflagrou sua pré-campanha
para uma vaga no Senado em
2010 pelo PP. A assessoria de
Cassol diz que o processo gera
um desgaste em virtude do alto
custo com advogados, mas é taxativa: "eleitoralmente, a repercussão é mínima". Os defensores do governador, o segundo mais rico do país, chegam a argumentar que a acusação de comprar votos esbarra
na personalidade do processado, descrito como "pão-duro".
Professor de ciência política
na Universidade de Brasília,
João Paulo Peixoto busca o
"homem cordial" conceituado
pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda para tentar
justificar a não condenação nas
urnas. "Muitos se perguntam
por que o Brasil não explodiu,
com tantos escândalos recentes. Somos resignados? Ou apenas um povo de índole boa?",
questiona. "É frustrante. É preciso mudar a cultura política."
O tucano Cássio Cunha Lima
segue a regra. Em fevereiro, foi
obrigado pelo TSE a deixar o
governo da Paraíba, acusado de
abuso do poder econômico e
político. Passados sete meses, é
apontado como favorito a uma
vaga no Senado.
Prudência
"Em princípio, estas candidaturas devem ser vistas com
bastante prudência. Mas sobre
o Cássio e o Expedito, não temos a menor dúvida. Não cabia
a cassação em nenhum dos casos. Os dois são eleitíssimos",
afirma o presidente nacional
do PSDB, Sérgio Guerra (PE).
Jackson Lago (PDT-MA), segundo governador a perder o
mandato em virtude de ação do
TSE neste ano, movimenta-se
no Maranhão para tirar a dianteira de sua substituta, a governadora Roseana Sarney
(PMDB). Roseana enfrenta
processo judicial que pode resultar no seu afastamento -o
caso está na "fila" no TSE.
O episódio mais recente é o
de Marcelo Miranda (PMDB),
governador de Tocantins afastado no início deste mês, e que
já se articula para sair ao Senado em 2010.
As acusações de abuso do poder econômico atingem todos
os matizes políticos. A Procuradoria Geral Eleitoral encaminhou ao TSE um parecer em
que opina pela cassação do governador de Sergipe, Marcelo
Déda (PT), e seu vice, Belivaldo
Chagas Silva, acusados de abuso de poder político e econômico, em período anterior à campanha eleitoral de 2006.
Segundo a ação, o então prefeito da capital sergipana, Marcelo Déda, que já havia declarado abertamente seu interesse
em concorrer ao governo estadual, teria realizado maciça
campanha promocional, ressaltando as realizações de sua
gestão em Aracaju. De acordo
com a denúncia, "utilizando-se
da pecha de inaugurações de
obras", foram realizados grandes comícios, incluindo shows.
O governador argumenta
que os mesmos fatos foram
analisados em outro processo,
no qual foi inocentado.
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