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Piratas na periferia do mercado
Entretenimento investe pouco em produção e venda no país; pirataria é a causa, dizem uns, ou o efeito, para outros
ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os brasileiros estão
entre os campeões
mundiais de pirataria porque CDs e
DVDs são caros ou
CDs e DVDs são caros porque o
mercado formal é pequeno?
Mais de 70% dos fãs de Play-
Station compram jogos ilegais
porque não há fabricantes no
Brasil ou as empresas não fabricam aqui porque foram afugentadas pela pirataria?
No país em que 68% da população admite ter comprado
produtos piratas, a "equação
tostines" ajuda a resolver a
conta em que se cruzam produtos piratas, contrabando e
downloads ilegais.
"A distribuição de bens protegidos por direitos autorais é
tão ilícita quanto alguém invadir sua casa ou roubar seu carro", defende o economista Gilson Schwartz, estudioso das
mídias digitais.
"O descompasso entre legislação autoral e realidade tecnológica contribui para a percepção de que o direito de autor
pode ser violado", pondera Ronaldo Lemos, da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ).
"A internet mudou os hábitos do consumidor. A indústria
tem de mudar a maneira de
distribuir conteúdo", admite
Rodrigo Drysdale, da Warner
Home Entertainment.
Legalmente, o compartilhamento de arquivos via internet
não é, no Brasil, um ilícito penal. "A não ser que você venda
esses arquivos, não é crime",
define o promotor Alfonso
Presti, coordenador do Plano
de Atuação Integrada contra a
Pirataria do Ministério Público
estadual. Preocupam o órgão,
sobretudo, as falsificações de
brinquedos, que podem oferecer riscos à criança, e os desdobramentos da pirataria, "que
pode ter ligação com outros
crimes, como lavagem de dinheiro, sonegação, concorrência desleal e tendência à corrupção em diversos escalões".
Entre "filósofos do liberou
geral" e "defensores intransigentes da tradição e da propriedade", as indústrias da música
e do audiovisual tentam se
equilibrar. No caso da indústria
fonográfica, parece consenso
que a solução não é a repressão
ao download e aos CDs piratas.
"O consumidor tem que ser
atraído", diz o inglês Adrian
Harley, tirado da indústria fonográfica pela Nokia para cuidar de música no Brasil. "Qualidade de áudio, capa, ausência
de vírus. Não adianta vender
um arquivo, se o arquivo você
baixa de graça. Tenho que vender um serviço."
No caso do cinema, as respostas ainda não são tão claras.
"Nosso preço no varejo é 40%
menor do que há três anos", diz
Wilson Feitosa, da Europa Filmes, referindo-se aos DVDs.
Com pirataria e internet, o
mercado de locação teve queda
no faturamento da ordem de
47% de 2006 para 2008.
Mas, na Warner, por exemplo, a compensação veio em
forma de séries de TV, videogames e, agora, downloads. "[Cerca de] 20% dos nossos DVDs,
no Brasil, são vendidos na internet. É o mais alto índice do
mundo", diz Drysdale.
No caso dos jogos, a situação
é ainda mais caótica. Além dos
piratas, existe a "importação
cinza", com produtos originais
que entram no país de forma
ilegal. "Só 20% do mercado de
games é legal. Não é culpa só da
pirataria. As empresas não se
interessaram em ter uma representação local, em investir
no país", admite Drysdale.
"Muitas negociações ficam
pelo meio do caminho por causa da ilegalidade do mercado",
declara Márcio Gonçalves, consultor antipirataria, que cita
como exemplo o iTunes. Para
Drysdale, a vastidão da pirataria no Brasil está ligada a questões sociais e econômicas, mas
também a um tique cultural:
"Ver o filme antes, e sem pagar,
é, para muita gente, uma maneira de levar vantagem, de fazer valer a Lei de Gerson".
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