São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009

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+(h)istória

Escola feita de sonho



Com um projeto de emancipar pela educação, o Centro Universitário de Vincennes, na França, inaugurou uma utopia pedagógica

NICHOLAS TRUONG

Era uma época em que Vincennes sonhava.
Era uma época em que Edgar Faure, ministro francês da Educação de um governo gaulista que queria afastar a contestação estudantil do centro de Paris, autorizou, na esteira do Maio de 1968, a abertura de uma universidade experimental no bosque de Vincennes [leste de Paris].
Era o tempo em que o crítico de arte Jean Clair fazia o elogio da pintura muralista de estudantes revolucionários. Nessa época, o saber era um poder, e as salas de aula eram fumódromos. No departamento de filosofia, Alain Badiou e Jacques Rancière tiravam lições de Louis Althusser, a pouca distância de um bazar alimentício espantoso.
No departamento científico, Denis Guedj e seus amigos apresentavam os alunos à matemática e às lutas modernas, e a disciplina sulfúrea da sexologia causava espécie entre muitos observadores.
Baseado em fac-símiles e documentos de arquivo, fotos e textos sobre recordações, o jornalista e professor associado à Universidade de Paris 8 Jean-Michel Djian escreveu "Vincennes - Une Aventure de la Pensée Critique" [Uma Aventura do Pensamento Crítico, ed. Flammarion, 190 págs., 45, R$ 123], obra cuja forma inventiva reflete o fundamento de uma ideia educativa forte.
Criado em janeiro de 1969, o Centro Universitário Experimental de Vincennes, também chamado de Universidade de Paris 8, inaugurou concretamente uma utopia pedagógica.
Pois essa "floresta pensante", como disse a escritora Hélène Cixous, incansável defensora do projeto, foi sobretudo um ideal de emancipação pela educação.
Pluridisciplinaridade, ausência de distinção entre cursos magistrais e trabalhos dirigidos, igualdade de serviços entre docentes, inscrição de alunos que não tinham o diploma do ensino secundário e abertura a estudantes estrangeiros foram as principais inovações dessa heteróclita assembleia de acadêmicos precursores.
Reverenciados ou vistos como inofensivos "pensadores garantidos pelo Estado", como se dizia naquela época, Foucault, Barthes, Châtelet, Deleuze, Lyotard, Serres, Chomsky ou Marcuse eram os grandes nomes da equipe pedagógica de uma experiência certamente problemática, mas singular.
Para aqueles que viveram com amargura o fracasso do movimento dos professores-pesquisadores de 2009 [que fizeram greve contra novas regras referentes a seu trabalho e sua formação, vigentes a partir de setembro], essa obra de aniversário talvez traga algum consolo. Pois nela se traz de volta a ideia de que a universidade não se resume a um fluxo de estudantes a orientar, nem a uma enxurrada de departamentos a avaliar.
Ela é também uma certa ideia de universalidade e de um saber autônomo a ser compartilhado. Se Vincennes "teve seu tempo", como reconhece no prefácio do livro Pascal Binczak, o atual reitor de Paris 8, falta, segundo ele, inventar outras maneiras de ensinar que não se limitem unicamente aos objetivos da rentabilidade.


Este texto foi publicado no jornal francês "Le Monde".

Tradução de Clara Allain .

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