São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2007

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E a coroa vai para... Godard!

A convite da Folha, 16 críticos e diretores votam e elegem o francês como o maior cineasta vivo; Lynch, Resnais e Coppola vêm em seguida

ERNANE GUIMARÃES NETO
DA REDAÇÃO

A Folha perguntou a 16 profissionais do ramo -entre cineastas e críticos- quem permanece como "o grande cineasta vivo".
"Os vivos estão perdendo para os mortos. Nesse campeonato, os mortos estão dando de goleada", declarou Ruy Guerra, diretor de filmes como "Estorvo" e "Os Fuzis". Complementando seu voto ("não me ocorre cineasta como esses"), recomendou: "Precisamos esperar que os vivos não se deixem dominar".
Da enquete saiu vencedor, com três votos, o francês Jean-Luc Godard, 76. Agitador da nouvelle vague, ele é um típico representante do "cinema de autor".
Para o crítico Ismail Xavier (USP), Godard "é a síntese maior de meio século de cinema moderno e seus desdobramentos".
Complementa: "A cada filme, repõe a pergunta "o que é o cinema?" e renova o debate com o mundo atual, tal como fez no recente "Nossa Música'".
Além de Xavier, os eleitores de Godard foram Carlos Reichenbach, diretor de "Dois Córregos", e o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Arlindo Machado, que destacaram sua inventividade como característica marcante.
Para Machado, o autor de clássicos como "Acossado", "Alphaville" e "A Chinesa" é também "o cineasta que melhor explorou a fusão do cinema com o vídeo, a televisão e o digital".

Cavaleiros do cinema
Três outros cineastas foram lembrados duas vezes entre os 16 especialistas: o francês Alain Resnais e os norte-americanos Francis Ford Coppola e David Lynch.
Resnais, 85, cineasta de "O Ano Passado em Marienbad" e "Hiroshima, Meu Amor", foi lembrado pelos cineastas Sylvio Back e Ugo Giorgetti.
"Resnais sabe metamorfosear diálogos e silêncios, a voz em off e movimentos de câmara em personagens vívidos e palpáveis", analisa Back.
Para Giorgetti, "não adianta ficar falando": ele sugere que o leitor vá ao cinema e veja pessoalmente "Medos Privados em Lugares Públicos", em cartaz. "Esse filme dá uma boa idéia de quem ele é."
Coppola, 68, diretor da trilogia "O Poderoso Chefão" e produtor de mais de 60 longas, é a opção de Sérgio Bianchi, de "Cronicamente Inviável". Cao Hamburguer, de "O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias", também escolheu Coppola, com a ressalva: "O Coppola de "Apocalipse Now'".
David Lynch, de "Veludo Azul", "A Estrada Perdida" e da série "Twin Peaks", foi defendido por Inácio Araujo, crítico da Folha, e Philippe Barcinski, cujo primeiro longa-metragem, "Não por Acaso", foi lançado neste ano.
Para Araujo, Lynch, 61, é "um cineasta para o futuro".

Águia e galo rapinam o cenário
Com o norte-americano Steven Spielberg, 60, que teve o voto de José Mojica Marins (diretor e protagonista das histórias do Zé do Caixão), EUA e França se impõem como escolas cinematográficas, somando 10 dos 16 votos.
Entre as peças que figuram solitárias no jogo atual, a mais velha é o italiano Ettore Scola, 76, diretor de "Nós Que Nos Amávamos Tanto", "O Baile" e "Feios, Sujos e Malvados", indicado por Jorge Furtado ("Saneamento Básico").
O iraniano Abbas Kiarostami, 67, com filmes como "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?" e "Gosto de Cereja", recebeu o voto de Kátia Lund, co-diretora de "Cidade de Deus".
Pedro Almodóvar, 57, foi eleito por André Klotzel ("Memórias Póstumas"). O espanhol recebeu o Oscar de melhor roteiro por "Fale com Ela".
O mais jovem dos cineastas lembrados nesta enquete foi o taiwanês Ang Lee, 52. Para Andrucha Waddington ("Casa de Areia"), o autor de "Tempestade de Gelo" e "O Tigre e o Dragão" tem uma "obra extremamente eclética e universal".
Já o documentarista Eduardo Coutinho disse que não responderia à pergunta "quem é o grande cineasta vivo?".
O leitor da Folha pode votar no melhor cineasta vivo no endereço www.folha.com.br/072141. Também é possível votar nos melhores filmes de Ingmar Berman e Michelangelo Antonioni.


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