|
Texto Anterior | Índice
Por uma cidade interativa
Crítico de
arte e curador de novas mídias, Steve Dietz, organizador do ZeroOne San Jose, faz palestra em São Paulo
JULIANA MONACHESI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
S
teve Dietz é um renomado crítico e curador no campo das novas mídias. Foi ele o
fundador da pioneira
Gallery 9, no Walker Art Center, em Minneapolis (EUA),
que comissiona trabalhos de
net art, disponibilizados ao público no próprio site da instituição. Em entrevista à Folha,
Dietz analisa os dilemas da comercialização e conservação de
obras de arte feitas para internet e defende que arte convencional e arte digital não deveriam ser separadas em guetos.
Mobilidade, memória, relações homem/máquina e território são os temas do Simpósio
Internacional Fiat 30+ que
acontece a partir desta terça-feira no auditório do Tuca, em
SP, com a participação de bambambãs da área, como Matthew Fuller e Ray Kurzweil.
Steve Dietz participa de mesa-redonda sobre arte digital na
quarta-feira à tarde. A programação completa do simpósio
está no site: www.simposiofiat30mais.com.br
FOLHA - Como fundador da Gallery
9, o sr. fomentou a produção em arte digital com obras comissionadas.
Entretanto, além de iniciativas como essa, pouco se investe nessa prática. A arte digital tende a ser absorvida pelo mercado de arte?
STEVE DIETZ - Não acredito que a
net art seja "absorvida" pelo
mercado em um futuro próximo, mas, como toda prática artística "imaterial", instituições
e colecionadores vão eventualmente colecionar obras dessa
natureza. O importante é ter
um ambiente artístico heterogêneo, em que seja uma escolha do artista produzir obras
que intencionalmente são ou
não comercializáveis.
FOLHA - As experiências de emulação e adaptação para conservar
obras digitais nem sempre são suficientes; como o sr. avalia as estratégias de preservação dessa arte?
DIETZ - Assim como os "happenings" -e muito do trabalho de
Hélio Oiticica e Lygia Clark-,
grande parte da arte digital pode ser dependente do contexto,
e o contexto completo de um
tal trabalho não pode ser conservado, emulado ou adaptado.
Mas isso não significa que
instituições culturais não devem tentar capturar a obra por
meio dessas estratégias e projetos, como o "Variable Media
Initiative". Em relação à arte
digital, é claro que ainda há
muitos assuntos técnicos a serem resolvidos e, de novo, esse
é o tipo de questão em que as
instituições deveriam estar focando para criar soluções.
FOLHA - A arte contemporânea como um todo é hoje bastante contaminada pela "paisagem midiática".
Por que a arte convencional e a digital são apresentadas em separado?
DIETZ - Eu concordo plenamente em que a arte digital deveria ser exibida "somente" como arte contemporânea. E exposições de arte contemporânea e bienais deveriam incluir
arte digital sempre, assim como incluem outras mídias, como videoarte. Esse foi, em parte, meu objetivo na curadoria
do festival "ZeroOne San Jose".
FOLHA - O sr. conseguiu envolver
uma cidade inteira neste festival. O
sr. poderia falar um pouco sobre seu
conceito de "cidade interativa"?
DIETZ - Cidades são um fenômeno interessante. Em "Morte
e Vida de Grandes Cidades"
[Martins Fontes], Jane Jacobs
escreveu que "cidades vitais
possuem habilidades inatas
maravilhosas para combater
suas dificuldades". Como Steven Johnson sugere, de certa
maneira, elas são "learning machines" (máquinas inteligentes) -como computadores-,
possibilitando a emergência de
novos padrões. Assim como a
própria computação passa a
permear quase tudo, à medida
que a rede se torna cada vez
mais ubíqua e os dispositivos
computacionais "sabem" onde
estão por meio de serviços como o GPS, surge a possibilidade de construir aspectos da cidade -de afetar suas "habilidades inatas"- que respondem a
toda sorte de estímulo ambiental, incluindo seus residentes.
Eu acredito que os artistas
estão nos ajudando a ver e interagir com nosso contexto urbano de novas maneiras.
Texto Anterior: De corpo aberto Índice
|