São Paulo, domingo, 05 de novembro de 2006

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Por uma cidade interativa

Crítico de arte e curador de novas mídias, Steve Dietz, organizador do ZeroOne San Jose, faz palestra em São Paulo

JULIANA MONACHESI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

S teve Dietz é um renomado crítico e curador no campo das novas mídias. Foi ele o fundador da pioneira Gallery 9, no Walker Art Center, em Minneapolis (EUA), que comissiona trabalhos de net art, disponibilizados ao público no próprio site da instituição. Em entrevista à Folha, Dietz analisa os dilemas da comercialização e conservação de obras de arte feitas para internet e defende que arte convencional e arte digital não deveriam ser separadas em guetos. Mobilidade, memória, relações homem/máquina e território são os temas do Simpósio Internacional Fiat 30+ que acontece a partir desta terça-feira no auditório do Tuca, em SP, com a participação de bambambãs da área, como Matthew Fuller e Ray Kurzweil. Steve Dietz participa de mesa-redonda sobre arte digital na quarta-feira à tarde. A programação completa do simpósio está no site: www.simposiofiat30mais.com.br

 

FOLHA - Como fundador da Gallery 9, o sr. fomentou a produção em arte digital com obras comissionadas. Entretanto, além de iniciativas como essa, pouco se investe nessa prática. A arte digital tende a ser absorvida pelo mercado de arte?
STEVE DIETZ
- Não acredito que a net art seja "absorvida" pelo mercado em um futuro próximo, mas, como toda prática artística "imaterial", instituições e colecionadores vão eventualmente colecionar obras dessa natureza. O importante é ter um ambiente artístico heterogêneo, em que seja uma escolha do artista produzir obras que intencionalmente são ou não comercializáveis.

FOLHA - As experiências de emulação e adaptação para conservar obras digitais nem sempre são suficientes; como o sr. avalia as estratégias de preservação dessa arte?
DIETZ
- Assim como os "happenings" -e muito do trabalho de Hélio Oiticica e Lygia Clark-, grande parte da arte digital pode ser dependente do contexto, e o contexto completo de um tal trabalho não pode ser conservado, emulado ou adaptado. Mas isso não significa que instituições culturais não devem tentar capturar a obra por meio dessas estratégias e projetos, como o "Variable Media Initiative". Em relação à arte digital, é claro que ainda há muitos assuntos técnicos a serem resolvidos e, de novo, esse é o tipo de questão em que as instituições deveriam estar focando para criar soluções.

FOLHA - A arte contemporânea como um todo é hoje bastante contaminada pela "paisagem midiática". Por que a arte convencional e a digital são apresentadas em separado?
DIETZ
- Eu concordo plenamente em que a arte digital deveria ser exibida "somente" como arte contemporânea. E exposições de arte contemporânea e bienais deveriam incluir arte digital sempre, assim como incluem outras mídias, como videoarte. Esse foi, em parte, meu objetivo na curadoria do festival "ZeroOne San Jose".

FOLHA - O sr. conseguiu envolver uma cidade inteira neste festival. O sr. poderia falar um pouco sobre seu conceito de "cidade interativa"?
DIETZ
- Cidades são um fenômeno interessante. Em "Morte e Vida de Grandes Cidades" [Martins Fontes], Jane Jacobs escreveu que "cidades vitais possuem habilidades inatas maravilhosas para combater suas dificuldades". Como Steven Johnson sugere, de certa maneira, elas são "learning machines" (máquinas inteligentes) -como computadores-, possibilitando a emergência de novos padrões. Assim como a própria computação passa a permear quase tudo, à medida que a rede se torna cada vez mais ubíqua e os dispositivos computacionais "sabem" onde estão por meio de serviços como o GPS, surge a possibilidade de construir aspectos da cidade -de afetar suas "habilidades inatas"- que respondem a toda sorte de estímulo ambiental, incluindo seus residentes.
Eu acredito que os artistas estão nos ajudando a ver e interagir com nosso contexto urbano de novas maneiras.


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