São Paulo, domingo, 05 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Morais, "liberdade é ilimitada'

DA REDAÇÃO

Um dos principais biógrafos brasileiros, o jornalista Fernando Morais é autor de alguns dos relatos de vida mais vendidos no Brasil: "Chatô -O Rei do Brasil", sobre o jornalista Assis Chateaubriand vendeu mais de 225 mil exemplares. "Olga", sobre a militante comunista, mulher de Luís Carlos Prestes, Olga Benário, enviada pelo governo de Getúlio Vargas para a Alemanha nazista -onde morreu num campo de concentração em 1942 e cuja trajetória foi transformada em filme por Jayme Monjardim-, vendeu mais de 140 mil cópias e voltou a freqüentar as listas dos mais vendidos.
Atualmente Morais (1946) se encontra envolvido em três projetos, como disse em entrevista ao Mais! por e-mail e telefone. Ele pesquisa há mais de oito anos a vida do senador baiano Antonio Carlos Magalhães (PFL), já redige um livro sobre a vida do Marechal Casimiro Montenegro Filho e finaliza um outro, sobre o publicitário Washington Olivetto.
 

O que faz uma boa biografia? Um bom personagem, uma pesquisa exaustiva e depois escrever, reescrever, "trescrever" cada palavra, até ficar bonito, atrativo, sedutor.

Até onde vai a liberdade do biógrafo em relação aos fatos apurados? Minha liberdade como biógrafo é ilimitada. Coloco nos meus livros o que apurei e que acredito ser verdadeiro, e costumo colocar mais de uma opinião quando se trata de uma fato importante, e existem opiniões diferentes. Quando "desenterro um defunto", faço todo o esforço para que ele volte a andar o mais parecido possível ao que ele era quando estava vivo. Independentemente do juízo que eu faça do que foi a vida dele. O leitor é que tem que tirar uma conclusão e formar um juízo a respeito do personagem a partir do maior volume de informações possível.

Como o sr. escolhe os biografados? Não existe uma receita. Se tivesse que escolher um só ingrediente, eu diria que me encantam principalmente os personagens cuja história revele fatos novos da História.

Como está seu projeto de biografia sobre Antonio Carlos Magalhães? Faz oito anos que comecei a trabalhar no projeto da biografia do senador. Ainda não comecei a entrevistar amigos, inimigos, políticos, gente que conviveu com ele. O grande diferencial a favor, ao escrever sobre alguém vivo, é o privilégio de ter o acesso ao personagem em primeira mão. "Olga" e "Chatô" teriam sido livros muito melhores se eu tivesse tido a possibilidade de conviver, uma semana que fosse, com cada um deles. O diferencial contra é que este livro parece não ter fim. A cada semestre o personagem me dá um capítulo novo.

Como fica a relação entre o escritor e o personagem biografado após muito tempo de convivência? É possível conseguir ser imparcial, não se envolver. Antonio Carlos Magalhães é um personagem polêmico e talvez por isso mesmo tenha me atraído, assim como Chateaubriand. O interesse que tenho por ele é pelo personagem, pelo que ele vem, ao longo dos últimos 50 anos, não só testemunhando mas protagonizando na política brasileira.

O que o sr. achou da adaptação de "Olga" para o cinema? Gostei muito. Aliás, eu e o povo brasileiro, já que o filme está chegando aos 4 milhões de espectadores.

Que biografias o sr. considera mais importantes na literatura mundial? É difícil responder, mas vêm à memória pelo menos duas que me marcaram muito pela qualidade: "Che Guevara - Uma Biografia" [Objetiva], de Jon Lee Anderson, e "O Rei do Mundo" [Cia. das Letras], de David Remnick. Recentemente li uma excelente biografia do marechal Castello Branco, escrita pelo cearense Lira Neto ["Castello - A Marcha para a Ditadura", ed. Contexto].

Há algum outro projeto a que o sr. se dedique atualmente? Estou trabalhando na biografia do Marechal Casimiro Montenegro Filho [1904-2000], um personagem fascinante. Um homem que teria feito cem anos neste ano se estivesse vivo e que, 50 anos atrás, acreditou que o Brasil poderia se tornar uma potência aeronáutica. Devo terminar este projeto no ano que vem. Também estou dando um ponto final no livro sobre o publicitário Washington Olivetto e a W/Brasil, "Made in Brasil", que deve sair no início do próximo ano pela ed. Planeta.
(DANIEL BUARQUE)

Texto Anterior: O gênero das multidões
Próximo Texto: Heróis de nosso tempo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.