OSWALDO GIACOIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O livro elabora teoricamente as hipóteses de Friedrich Nietzsche (1844-1900) sobre a gênese dos valores morais e a pré-história da civilização. Em três tratados, investiga a oposição entre bem e mal, traça a genealogia da consciência moral e explicita o sentido dos ideais ascéticos, presentes não apenas na religião e na moral mas também na ciência.
Nietzsche conquista a metodologia adequada à novidade de suas questões. Nela, ele não se limita à reconstrução da gênese dos valores em que se assenta nossa cultura, mas questiona o valor dessa gênese: promove ou obstaculiza a elevação da vida humana? Trata-se também de diagnosticar o presente, no caso a modernidade européia. O livro submete à crítica os valores estruturantes de todas as esferas da cultura, da religião à moral, da estética à política, da filosofia à ciência. Sua conclusão é que o homem moderno é produto de uma vontade de poder coletiva e decadente, que empreende um rebaixamento de valor, uma mediocrização global da humanidade.
A "Genealogia" me confrontou com uma crítica intransigente de nossos referenciais identitários fundamentais, não para conformar-se numa negação ressentida do mundo moderno, mas incitar a o que há de probo na consciência científica a criar novos valores, num horizonte no qual novas auroras, depois do crepúsculo dos ídolos, possam brilhar com uma luz terrestre e humana.