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O GUERRILHEIRO
A guerrilha
do padre
Alípio
da Redação e
das Regionais
O envolvimento da ala progressista da Igreja Católica em
ações políticas e sociais causou
problemas a vários religiosos
no período. Um deles -padre
Alípio Cristiano de Freitas-
decidiu inclusive abandonar o
clericato. Outro, o atual bispo
de São Félix do Araguaia (MT),
d. Pedro Casaldáliga, diz ter
sofrido atentados.
Freitas é um dos mais conhecidos religiosos dos anos 50 e
60 no Brasil. Ele ficou célebre
por suas ações junto aos camponeses do Nordeste, no final
da década de 50. Por isso, ganhou dois processos por
"subversão", baseados na Lei
de Segurança Nacional.
Em 59, Freitas, que é português, fundou a União de Trabalhadores Agrícolas, no Maranhão. Foi também militante
da AP (Ação Popular), uma
organização de esquerda com
forte influência católica. Tucanos históricos foram da AP,
como o atual ministro José
Serra (Saúde) e o ex-ministro
Sérgio Motta. Após sofrer
pressões da igreja, Freitas deixou o sacerdócio em 62. "Não
conseguia mais militar e ser
padre ao mesmo tempo", disse, por telefone, à Folha.
Após deixar a igreja, Freitas
fundou o PRT (Partido Revolucionário do Trabalhador), já
no regime militar, para fazer
guerrilha rural. Organizou
campos de guerrilha em Goiás
e Mato Grosso. O objetivo era
formar um "exército popular" e derrubar o regime militar. "Fizemos algumas ações e
expropriações a bancos, mas
não chegamos a fazer a guerrilha rural de fato." Foi preso
em 70 e solto em 79.
Depois disso, foi membro do
PT e voltou a Portugal como
jornalista, onde vive.
"Subversão"
Considerado um dos mais
"subversivos" integrantes do
clero pelo regime militar, d.
Pedro Casaldáliga, bispo de
São Félix do Araguaia (MT),
afirma que escapou de ser assassinado por agentes militares pelo menos duas vezes.
Na primeira vez, foi salvo
por uma contra-ordem do
próprio governo militar. Depois, o bispo escapou da morte graças a um engano fatal cometido por um policial civil,
que assassinou o padre João
Bosco Penido Burnier pensando que se tratava de d. Pedro.
Ele e Burnier estavam em Ribeirão Bonito (MT), em 76, e,
devido à denúncia de que uma
mulher estaria sendo torturada, foram à delegacia da cidade. "Chegando lá, os policiais
nos chamaram de comunistas
e subversivos. O padre Burnier
levou uma coronhada e, ao
cair no chão, um policial atirou", conta d. Pedro.
A relativa proximidade com
a guerrilha do Araguaia -que
aconteceu na região onde hoje
fica o Estado de Tocantins e no
sul do Pará- e o engajamento
de d. Pedro na luta pela reforma agrária fizeram com que os
militares dedicassem atenção
especial à pequena São Félix
do Araguaia, que tinha 600 habitantes em 68. Para os órgãos
militares, o codinome de d.
Pedro era "Palito Elétrico",
em alusão ao físico franzino e
o comportamento hiperativo
do bispo.
(LE e RG)
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