São Paulo, domingo, 7 de junho de 1998

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O GUERRILHEIRO
A guerrilha do padre Alípio

da Redação e
das Regionais


O envolvimento da ala progressista da Igreja Católica em ações políticas e sociais causou problemas a vários religiosos no período. Um deles -padre Alípio Cristiano de Freitas- decidiu inclusive abandonar o clericato. Outro, o atual bispo de São Félix do Araguaia (MT), d. Pedro Casaldáliga, diz ter sofrido atentados.
Freitas é um dos mais conhecidos religiosos dos anos 50 e 60 no Brasil. Ele ficou célebre por suas ações junto aos camponeses do Nordeste, no final da década de 50. Por isso, ganhou dois processos por "subversão", baseados na Lei de Segurança Nacional.
Em 59, Freitas, que é português, fundou a União de Trabalhadores Agrícolas, no Maranhão. Foi também militante da AP (Ação Popular), uma organização de esquerda com forte influência católica. Tucanos históricos foram da AP, como o atual ministro José Serra (Saúde) e o ex-ministro Sérgio Motta. Após sofrer pressões da igreja, Freitas deixou o sacerdócio em 62. "Não conseguia mais militar e ser padre ao mesmo tempo", disse, por telefone, à Folha.
Após deixar a igreja, Freitas fundou o PRT (Partido Revolucionário do Trabalhador), já no regime militar, para fazer guerrilha rural. Organizou campos de guerrilha em Goiás e Mato Grosso. O objetivo era formar um "exército popular" e derrubar o regime militar. "Fizemos algumas ações e expropriações a bancos, mas não chegamos a fazer a guerrilha rural de fato." Foi preso em 70 e solto em 79.
Depois disso, foi membro do PT e voltou a Portugal como jornalista, onde vive.

"Subversão"
Considerado um dos mais "subversivos" integrantes do clero pelo regime militar, d. Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix do Araguaia (MT), afirma que escapou de ser assassinado por agentes militares pelo menos duas vezes.
Na primeira vez, foi salvo por uma contra-ordem do próprio governo militar. Depois, o bispo escapou da morte graças a um engano fatal cometido por um policial civil, que assassinou o padre João Bosco Penido Burnier pensando que se tratava de d. Pedro.
Ele e Burnier estavam em Ribeirão Bonito (MT), em 76, e, devido à denúncia de que uma mulher estaria sendo torturada, foram à delegacia da cidade. "Chegando lá, os policiais nos chamaram de comunistas e subversivos. O padre Burnier levou uma coronhada e, ao cair no chão, um policial atirou", conta d. Pedro.
A relativa proximidade com a guerrilha do Araguaia -que aconteceu na região onde hoje fica o Estado de Tocantins e no sul do Pará- e o engajamento de d. Pedro na luta pela reforma agrária fizeram com que os militares dedicassem atenção especial à pequena São Félix do Araguaia, que tinha 600 habitantes em 68. Para os órgãos militares, o codinome de d. Pedro era "Palito Elétrico", em alusão ao físico franzino e o comportamento hiperativo do bispo. (LE e RG)



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