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BRASIL 500 D.C.
Luiz Costa Lima passa a escrever na Folha
Alexandre Campbell/Folha Imagem
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O crítico literário Luiz Costa Lima, em seu apartamento, no Rio |
Artigos do crítico literário serão publicados mensalmente no Mais!
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ADRIANO SCHWARTZ
Editor-adjunto do Mais!
Tratar de autores novos ou menos conhecidos e de obras lançadas recentemente no mercado
editorial brasileiro é o principal
propósito do crítico literário e
professor Luiz Costa Lima nos artigos mensais que fará para a seção "Brasil 500 d.C." (depois de
Cabral), da Folha.
Costa Lima, que estréia hoje no
Mais! (leia o texto abaixo), vem se
juntar, nesse espaço, aos filósofos
Bento Prado Jr. e Marilena Chaui,
aos historiadores Evaldo Cabral
de Melo e José Murilo de Carvalho, ao geógrafo Milton Santos, ao
antropólogo Hermano Vianna e
ao psicanalista Jurandir Freire
Costa.
Um dos mais importantes teóricos da literatura do país, com
obras publicadas inclusive no exterior, em locais como Estados
Unidos e Alemanha, e um dos
principais analistas da literatura
brasileira recente, com textos sobre Machado de Assis, Euclides
da Cunha, Carlos Drummond de
Andrade e João Cabral de Melo
Neto, entre outros, Luiz Costa Lima é professor titular de literatura
comparada na Universidade do
Estado do Rio de Janeiro e professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-RJ) no programa de história social da cultura.
Sobre sua obra, acaba de ser lançado pela Editora Record o livro
"Máscaras da Mímesis" (organização de Hans Ulrich Gumbrecht
e João Cezar de Castro Rocha),
que traz 21 ensaios de autores como, por exemplo, Benedito Nunes, Flora Süssekind, Wolfgang
Iser e Barbara Cassin.
No início do ano que vem, provavelmente em março, Costa Lima, que concedeu a entrevista a
seguir por telefone, deverá publicar o livro "Mímesis - Desafio ao
Pensamento", pela Civilização
Brasileira. Trata-se de, como o
próprio nome indica, uma nova
análise daquilo que o autor considera como sua "obsessão pessoal", a idéia de mímesis.
Folha - Como o sr. analisa o
momento atual da literatura
brasileira?
Luiz Costa Lima - A impressão
que eu tenho é que o momento
maior da literatura brasileira hoje
é na poesia, pelo surgimento de
vários e vários poetas que se destacam em relação aos prosadores.
Estes, com poucas exceções, parecem-me atraídos -o que provoca uma facilitação do texto- pelo
mercado. O fato de que a poesia, a
priori, venda pouco a torna menos suscetível de ser afetada pela
simplificação exigida pelo mercado.
Folha - Essa simplificação é um
fenômeno mundial?
Costa Lima - Posso supor que é
um fenômeno mundial. O fato é
que, em um mercado muito mais
complexo, como o europeu ou o
norte-americano, há lugar tanto
para o best seller, um texto facilitado, quanto para um texto mais
exigente.
No caso europeu, os nomes recentes que me vêm à cabeça seriam Thomas Bernhard, que
morreu jovem, ou Ingeborg Bachmann, uma companheira de geração do Bernhard, que morreu jovem também. No caso americano, há vários, o último Norman
Mailer, Philip Roth e outros. No
caso francês, o último grande nome, que continua atuando, é
Claude Simon, muito superior a
todo o chamado "nouveau roman". Há ainda o sul-africano J.
M. Coetzee, que é bastante bom
como romancista e, também, como ensaísta.
Folha - E no Brasil? O romance
"As Iniciais", sobre o qual o sr.
escreve em seu primeiro texto
para a série "Brasil 500 d.C." é
uma exceção?
Costa Lima - Um livro como esse é uma exceção, e não me refiro
apenas ao último livro de Bernardo Carvalho. Há ainda um autor
menos conhecido, que acho muito bom, Jair Ferreira dos Santos,
cujo livro de contos "A Inexistente Arte da Decepção", de 1996,
passou completamente despercebido, embora o considere um
grande livro, além de escritores
como Rubens Figueiredo ou Patrícia Mello.
Folha - E a crítica brasileira?
Costa Lima - A reflexão crítica
atravessa também um momento
de baixa. Há uma geração -que
pode ser chamada de "pós-Antonio Candido"- que conta com
uma série de críticos firmados
ainda produzindo bem.
A geração mais nova, os "netos
de Antonio Candido", me parece
mais fraca, ou, pelo menos, sem o
mesmo grau de afirmação que tiveram críticos como Alfredo Bosi,
Roberto Schwarz, João Alexandre
Barbosa, Davi Arrigucci.
Há, entretanto, uma coisa nova
no ambiente brasileiro, que é o
aparecimento, em São Paulo, de
uma área de germanística -que
nunca foi forte entre nós-, constituída por jovens germanistas
-Márcio Seligmann-Silva e Márcio Suzuki-, que reponta. Ao
passo que os companheiros de geração deles não me parecem ter
maior destaque, esses críticos não
encontram correspondência com
a geração anterior, do ponto de
vista específico da germanística.
Folha - O sr. vê alguma tarefa
específica para a crítica hoje em
dia?
Costa Lima - Eu acredito que
um crítico tem uma dupla função.
A primeira foi muito pouco exercida entre nós. É o crítico que pensa sua própria atividade, uma função teórica do crítico. Essa função
deveria ter sido exercida fundamentalmente pela universidade.
Raramente entretanto isso se deu,
sobretudo por aqui. Nós temos
uma enorme carência de reflexão
teórica sobre literatura exercida
pelos críticos, uma enorme carência teórica. Isso não é, portanto,
um problema de agora, mas da
tradição brasileira. Teria cabido à
universidade o cumprimento
dessa tarefa, mas ela raramente o
exerceu.
A segunda tarefa -uma tarefa
pragmática- se cumpre tendo
em conta dois parâmetros negativos. De um lado o mercado, interessado num livro fluente, de gestão rápida, e, de outro, a universidade, que se burocratizou, ou
vem se burocratizando -e isso
não só no Brasil. Tendo em conta
esses dois parâmetro, impõe-se
essa tarefa de exercício efetivo em
relação ou a autores jovens ou a
edições recentes etc.
Acho importante, dentro desse
aspecto pragmático, chamar a
atenção ainda para outra coisa.
Assiste-se hoje em dia a um rompimento entre o que se poderia
chamar de as fronteiras discursivas das áreas. Até 30, 40 anos
atrás, quem fazia filosofia fazia filosofia, quem fazia economia fazia economia etc. Hoje em dia,
sente-se a necessidade de uma inter-relação muito mais aguda no
interior dessas áreas. Não se trata
de advogar a volta do enciclopedismo, não é isso, mas sim de levar em conta um sistema de retroalimentação que essas áreas,
ainda que distintas, mantêm entre si. Isso, diria, é uma função da
crítica em seu aspecto pragmático, ainda que em seu aspecto teórico ela necessariamente precise
levar em conta esses elementos.
Folha - Em seus artigos na Folha o sr. privilegiará essa função
pragmática?
Costa Lima - Sim.
Folha - O sr. está trabalhando
em algum livro agora? Lançará
algo em breve?
Costa Lima - Estou com um livro pronto e devo lançá-lo em
março do ano que vem. Ele chama-se "Mímesis - Desafio ao Pensamento". Espero que seja a palavra mais radical, no sentido etimológico, que seja onde mais longe eu tenha podido até agora ir na
análise do fenômeno da mímesis,
que é a minha obsessão.
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