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+(s)ociedade
Mulheres básicas
Para socióloga, desigualdade entre homens e mulheres no mercado
de trabalho persiste mesmo na Europa
EUCLIDES SANTOS MENDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
As mulheres têm aumentado a sua participação em empregos de melhor
qualidade, em cargos de comando e direção nas
empresas e em profissões de
nível superior", avalia a socióloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Bila Sorj.
Porém os dados divulgados
na última quarta pelo Dieese
(Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e pela Seade
(Fundação Sistema Estadual
de Análise de Dados) indicam
que o crescimento econômico
brasileiro em 2008 beneficiou
mais os homens do que as mulheres.
Em entrevista à Folha, Sorj
-que é uma das organizadores
do livro "Mercado de Trabalho
e Gênero" (FGV)- afirma que
houve um aumento expressivo
da participação feminina, sobretudo no setor de serviços, a
despeito da precariedade das
condições de trabalho.
A socióloga compara a situação laboral das mulheres no
Brasil com a de outros países e
diz que hoje há mulheres "ocupando o topo e a base da pirâmide social".
FOLHA - Qual é o lugar dos homens
e das mulheres no mundo do trabalho no Brasil e em outros países da
América Latina e da Europa?
BILA SORJ - Os pontos em comum [entre essas regiões] são a
persistência do diferencial de
renda em favor dos homens, a
divisão das ocupações (cabendo quase sempre às mulheres o
trabalho doméstico).
Isso não ocorre somente no
Brasil e em outros países da
América Latina, mas também
na Europa. Na Inglaterra, por
exemplo, as mulheres estão
mais presentes no mercado de
trabalho por meio das ocupações temporárias.
No Brasil, temos o setor informal, que absorve muitas
mulheres em ocupações não-regulares. Isto ocorre na América Latina e emerge na Europa
por conta da imigração, que favorece o surgimento de nichos
de trabalho informais e não-regulados.
FOLHA - Que espaço as mulheres
ocupam na sociedade brasileira?
SORJ - Estão cada vez mais procurando emprego ou trabalhando, o que confirma tendência que vem sendo observada
há pelo menos três décadas como resposta a vários fatores.
Entre eles, a crescente valorização da independência e a necessidade de contribuir com a
renda familiar.
Uma vez que foram os empregos na indústria que puxaram para baixo as taxas de desemprego e uma vez que as mulheres se dirigem mais ao setor
de serviços, elas se beneficiaram menos do que os homens
do cenário econômico [brasileiro] favorável de 2008.
FOLHA - Até que ponto as articulações e tensões entre a vida profissional e a vida familiar têm comprometido a inserção das mulheres no
mercado de trabalho?
SORJ - A ausência de suportes
públicos para facilitar a conciliação entre trabalho e família,
como creches e escolas em
tempo integral, afeta a quantidade e a qualidade do emprego
feminino -especialmente de
famílias monoparentais femininas, que, em geral, têm um
único provedor.
A conciliação entre trabalho
e família, quando é resolvida de
forma privada, pela família,
provoca a precarização das atividades das mulheres, que acabam se orientando para atividades informais, com jornadas
de trabalho mais reduzidas e
com reflexos negativos sobre
seus salários.
FOLHA - Além da segregação ocupacional, das jornadas de trabalho
reduzidas e dos salários inferiores, o
que caracteriza a participação das
mulheres na vida social hoje?
SORJ - Há boas notícias também. As mulheres têm aumentado a sua participação em empregos de melhor qualidade,
em cargos de comando e direção nas empresas e em profissões de nível superior.
Hoje, encontramos mulheres
ocupando o topo e a base da pirâmide social.
FOLHA - Qual o papel das mulheres
na formação da sociedade no Brasil?
SORJ - As mulheres sempre
trabalharam, sempre contribuíram com a riqueza do país.
Mas há poucos estudos sobre a
história do Brasil a partir das
relações de gênero.
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