São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

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+(s)ociedade

Mulheres básicas

Para socióloga, desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho persiste mesmo na Europa

EUCLIDES SANTOS MENDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As mulheres têm aumentado a sua participação em empregos de melhor qualidade, em cargos de comando e direção nas empresas e em profissões de nível superior", avalia a socióloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro Bila Sorj.
Porém os dados divulgados na última quarta pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e pela Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) indicam que o crescimento econômico brasileiro em 2008 beneficiou mais os homens do que as mulheres.
Em entrevista à Folha, Sorj -que é uma das organizadores do livro "Mercado de Trabalho e Gênero" (FGV)- afirma que houve um aumento expressivo da participação feminina, sobretudo no setor de serviços, a despeito da precariedade das condições de trabalho.
A socióloga compara a situação laboral das mulheres no Brasil com a de outros países e diz que hoje há mulheres "ocupando o topo e a base da pirâmide social".

 

FOLHA - Qual é o lugar dos homens e das mulheres no mundo do trabalho no Brasil e em outros países da América Latina e da Europa?
BILA SORJ
- Os pontos em comum [entre essas regiões] são a persistência do diferencial de renda em favor dos homens, a divisão das ocupações (cabendo quase sempre às mulheres o trabalho doméstico).
Isso não ocorre somente no Brasil e em outros países da América Latina, mas também na Europa. Na Inglaterra, por exemplo, as mulheres estão mais presentes no mercado de trabalho por meio das ocupações temporárias. No Brasil, temos o setor informal, que absorve muitas mulheres em ocupações não-regulares. Isto ocorre na América Latina e emerge na Europa por conta da imigração, que favorece o surgimento de nichos de trabalho informais e não-regulados.

FOLHA - Que espaço as mulheres ocupam na sociedade brasileira?
SORJ
- Estão cada vez mais procurando emprego ou trabalhando, o que confirma tendência que vem sendo observada há pelo menos três décadas como resposta a vários fatores. Entre eles, a crescente valorização da independência e a necessidade de contribuir com a renda familiar. Uma vez que foram os empregos na indústria que puxaram para baixo as taxas de desemprego e uma vez que as mulheres se dirigem mais ao setor de serviços, elas se beneficiaram menos do que os homens do cenário econômico [brasileiro] favorável de 2008.

FOLHA - Até que ponto as articulações e tensões entre a vida profissional e a vida familiar têm comprometido a inserção das mulheres no mercado de trabalho?
SORJ
- A ausência de suportes públicos para facilitar a conciliação entre trabalho e família, como creches e escolas em tempo integral, afeta a quantidade e a qualidade do emprego feminino -especialmente de famílias monoparentais femininas, que, em geral, têm um único provedor.
A conciliação entre trabalho e família, quando é resolvida de forma privada, pela família, provoca a precarização das atividades das mulheres, que acabam se orientando para atividades informais, com jornadas de trabalho mais reduzidas e com reflexos negativos sobre seus salários.

FOLHA - Além da segregação ocupacional, das jornadas de trabalho reduzidas e dos salários inferiores, o que caracteriza a participação das mulheres na vida social hoje?
SORJ
- Há boas notícias também. As mulheres têm aumentado a sua participação em empregos de melhor qualidade, em cargos de comando e direção nas empresas e em profissões de nível superior. Hoje, encontramos mulheres ocupando o topo e a base da pirâmide social.

FOLHA - Qual o papel das mulheres na formação da sociedade no Brasil?
SORJ
- As mulheres sempre trabalharam, sempre contribuíram com a riqueza do país. Mas há poucos estudos sobre a história do Brasil a partir das relações de gênero.


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