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Quero ser grande
EM "CONTINENTE ESQUECIDO", MICHAEL REID PROPÕE
RAZÕES MÚLTIPLAS PARA EXPLICAR ATRASO DA REGIÃO
DAVID GALLAGHER
Por que a América Latina foi um tal fracasso, quando comparada com os EUA ou o
Canadá? Ao tentar
responder a essa pergunta,
"Forgotten Continent" [Continente Esquecido, Yale University Press, 384 págs., US$ 30,
R$ 50], de Michael Reid, examina todas as explicações possíveis. Uma delas é a chamada
teoria da dependência, desenvolvida por economistas na década de 1940, que culpa "a intervenção dos EUA e o papel
subordinado da América Latina no mundo como exportadora de matérias-primas".
Depois, como explica Reid,
existe a idéia de que a "América
Latina foi condenada por sua
cultura, particularmente a tradição ibérica e católica de organização social e pensamento
político, que, afirma-se, é ao
mesmo tempo anticapitalista e
inimiga da democracia".
Reid também evoca a geografia difícil da região, seu sistema
jurídico "barroco", a falta de
instituições sólidas e sua profunda desigualdade, que vem
do período colonial ou mesmo
de antes: o Império Inca era rigidamente hierárquico.
Qual dessas explicações para
o atraso da região Reid considera mais plausível? Sempre
imparcial, ele diz que "é um erro buscar uma explicação única
e abrangente para o fracasso da
América Latina".
A verdadeira explicação será
encontrada em uma mistura de
todas as explicações, no que
parece uma interminável "disputa entre modernizadores e
reacionários, entre democratas
e autoritários".
Pacto rompido
De modo geral, nos países
bem-sucedidos ao redor do
mundo, o eleitorado e os governos têm um contrato social implícito pelo qual nenhum governo fica obrigado a produzir
benefícios, que, embora aparentemente desejáveis em curto prazo, venham futuramente
a causar danos econômicos.
O pacto garante a governabilidade em longo prazo e o crescimento sustentável. No Chile
e na Argentina ele foi rompido
depois de 1930.
Nos últimos 25 anos ele foi
restabelecido no Chile. Na Argentina, Néstor Kirchner e sua
mulher Cristina, que o sucedeu, governam muito na tradição populista de seu mentor,
Juan Domingo Perón.
Felizmente, hoje há um pacto implícito de governabilidade
sustentável semelhante ao chileno implantado em países como México, Brasil e Colômbia.
Para onde vai a América Latina hoje? Reid analisa as tentativas de liberalização econômica
que foram feitas sob o guarda-chuva do Consenso de Washington. Segundo este, as economias deveriam se abrir ao comércio mundial e submeter-se às forças do mercado, sob um
regime legal que garantisse os
direitos de propriedade. O papel do governo na alocação dos
recursos produtivos deveria se
reduzir ao mínimo.
Muitas dessas idéias foram
aplicadas em vários países latino-americanos nos anos 1980 e
90, nem sempre com sucesso.
A economia argentina sofreu
um colapso desastroso que levou à desvalorização, à profunda recessão e ao desemprego
generalizado em 2001.
Reid está certo ao sugerir que
as medidas do Consenso de
Washington não são culpadas
por essas crises. Ele acha que
parte do problema foi que elas
nem sempre foram implementadas ao mesmo tempo. Não se
pode deixar apenas uma de fora, como fizeram os argentinos
sob Carlos Meném, que privatizaram e abriram a economia,
mas não praticaram a disciplina fiscal.
Também está certo ao afirmar que os governos deixaram
de construir instituições fortes
para amparar suas reformas.
Sonho bolivariano
Atualmente, Hugo Chávez financia governos populistas e
anticapitalistas em toda a América Latina, e nenhum país está
imune a sua influência. Com o
sonho "bolivariano" de unir o
continente sob sua égide, ele é o
novo imperialista da região.
Na Venezuela, os principais
beneficiários da "revolução bolivariana" são a própria megalomania de Chávez e os "boligarcas": empresários que lucram com as benesses de Chávez numa economia em que ele
dá as cartas. Os pobres também
se beneficiaram, mas seus benefícios não são sustentáveis.
A atual "batalha pela alma da
América Latina" -subtítulo do
livro- é travada entre os defensores de Chávez e os que preferem um modelo mais próximo
do do Chile, Peru ou Brasil. Não
há dúvida sobre qual desses
modelos pode produzir sucesso
em longo prazo.
No entanto, enquanto os petrodólares fluírem, Chávez
conseguirá seduzir os latino-americanos à vontade.
DAVID GALLAGHER é autor de "Modern Latin
American Literature". A íntegra deste texto
saiu no "London Review of Books".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves .
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