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Ponto de Fuga
Cores do sul
Weingärtner pintou delicadas paisagens europeias e quadros de costumes;
há também telas mitológicas
e quadros
em que a morte ronda, outros em que o bom humor
atinge uma comicidade contagiosa
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JORGE COLI
COLUNISTA DA FOLHA
Termina [hoje] em São
Paulo, na Pinacoteca do
Estado, a retrospectiva
Pedro Weingärtner (1853-1929). Irá para o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de
Janeiro, e depois para o Museu
de Arte do Rio Grande do Sul,
em Porto Alegre, cidade natal
do artista. A parceria entre essas instituições resultou excelente: a mostra é fundamentada, rigorosa e bonita de se ver.
Weingärtner pintou um tríptico estranho, cujo título é em
francês: "La Faiseuse d'Anges",
a fazedora de anjinhos. Obra
complexa e bastante enigmática, de grande importância para
a história da pintura brasileira.
Foi estudada no catálogo por
Vivian Paulitsch, em ramificações que vão do infanticídio ao
aborto.
A mostra, organizada por
Ruth Tarasantchi, revela um
artista de qualidade muito alta.
Weingärtner pintou delicadas
paisagens europeias e quadros
de costumes. Há também telas
mitológicas, que se situam entre a frivolidade de Alma-Tadema [1836-1912] e a estranheza
rude de Böcklin [1827-1901]; há
quadros em que a morte ronda,
outros em que o bom humor
atinge uma comicidade contagiosa, como o inverossímil e caprichado "Jantar a Bordo do
Regina Margherita", de 1896.
Em outros, a metáfora atinge
um clima metafísico; assim "As
Borboletas", de 1910, estupendo. Há retratos, mais irregulares, embora alguns sejam admiráveis, como o de sua mulher elegante, mas severa e desdenhosa, em 1918. Há as gravuras e os finos desenhos.
Há, enfim, aqueles voltados
para o Rio Grande do Sul: paisagens, matas derrubadas, cenas de imigração, episódios
anedóticos: os pequenos personagens são por vezes representados com um curioso desajeitamento que não se nota no período europeu.
Lampejo
Bela surpresa, o livro de Antônio Dutra "Dias de Faulkner"
[Imprensa Oficial de SP]. É
bem escrito, em estilo forte,
preciso e dominado, coisa rara
na literatura brasileira de hoje.
Abraça com convicção o seu tema, que é a passagem de Faulkner pelo Brasil, criando uma
ficção mais verdadeira que
qualquer relato.
É uma espécie
de romance histórico, atualizado para o gosto de agora.
"Dias de Faulkner" obteve o
prêmio internacional Jovem
Literatura Latino-Americana
em 2008 e foi traduzido em
francês.
Fita
"Jeune Fille" [Jovem Garota,
publicado pela editora Gallimard] é um livro de Anne Wiazemsky, ou melhor, da princesa
Anne Wiazemsky, descendente
de uma família russa nobre e
neta do grande escritor francês
François Mauriac.
Atriz, ela foi descoberta por
Bresson, trabalhou com Godard
(de quem foi mulher) e Pasolini.
Tornou-se escritora, capaz de
frases transparentes e justas.
Salvo erro, nenhum editor brasileiro propôs-se, até agora, a
publicar algum título seu.
"Jeune Fille" data de 2007.
Conta, com a força literária de
um romance, um percurso de
iniciação pessoal, autobiográfico: a metamorfose da jovem em
adulta durante a filmagem de
"A Grande Testemunha" ("Au
Hasard Balthazar", 1966), de
Bresson. Livro para quem ama o
cinema; livro para quem ama a
literatura.
Mirífico
A "Fantasia para Violoncelo e
Orquestra", de Villa-Lobos, é
pouco conhecida. César Franck
[1822-90], hoje mal-amado, ou
ignorado do público, compôs
uma "Sinfonia em Ré", bem
menos popular que a "Patética", de Tchaikovski, ou a "Nº 5",
de Mahler. São bobas flutuações do gosto.
Talvez por causa desse programa, o público estivesse tão
ralo no sábado, dia 1º, para
o concerto da Sinfônica de
Campinas, em Campinas mesmo. Quem não foi, perdeu uma
interpretação comovente: ótima orquestra, inteligência e
sensibilidades musicais. A direção foi do maestro suíço Karl
Martin; o solista, Hugo Vargas
Pilger.
jorgecoli@uol.com.br
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