São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2009

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Em embaixada, trabalho é redobrado

SOFIA FERNANDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Desde o começo dos ataques de Israel à faixa de Gaza, em 27 de dezembro, algo mudou na rotina da embaixada do país em Brasília. Além do previsível reforço de segurança, que agora não permite nem pasta e escovas de dentes alheios entrarem no prédio, um pequeno grupo de funcionários teve de abandonar a outrora tranquila rotina do serviço diplomático.
Quatro funcionários do setor de imprensa, que costumavam deixar o trabalho às 17h, não têm mais hora para sair. Eles produzem em média dez boletins por dia sobre a ação militar israelense contra o grupo islâmico Hamas. Os jornalistas à procura de fontes, personagens e dados oficiais sobre a ofensiva se deparam com relatórios e listas de contatos.
É preciso descontar o viés natural de quem quer vender sua versão, mas é inegável a eficiência de Tel Aviv em fazê-la disponível com fartura de informações. Em Brasília, boa parte dos contatos, como famílias brasileiras em Israel e autoridades, já estava à disposição depois da guerra de Israel contra o Hizbollah em 2006.
Os funcionários, que traduzem e elaboram notas para alimentar diariamente o site da instituição e mais de 800 caixas de e-mail, agora obedecem à lei do bar com freguesia persistente -o trabalho vai até o último pedido de jornalista, ou até a última nota enviada de Israel com determinação de ser distribuída no Brasil. Até um tradicional fardo de jornalistas, o plantão de fim de semana e de Réveillon, foi adotado.
Do outro lado da guerra de comunicação, a recomendação da representação da ANP (Autoridade Nacional Palestina) é a de usar a comunicação a conta-gotas. "Os fatos falam por si", alega o embaixador Ibrahim Al-Zeben para não investir em estratégias de comunicação. Além das entrevistas agendadas e da publicação de alguns comunicados vindos de Ramallah, sede da ANP na Cisjordânia, a embaixada não tem um planejamento para disseminar informação e enxerga vantagem nisso.
Naturalmente, ele desconversa sobre a possibilidade de este blecaute informativo ter a ver com o fato de que Gaza está sob o controle do Hamas, grupo rival dos moderados da Fatah, que controla a ANP.
"Eu não queria estar no lugar deles [a Embaixada de Israel]. Como explicar a morte de quase 700 pessoas?", diz Al-Zeben.
Raphael Singer, conselheiro da Embaixada de Israel, que atua como chefe da comunicação, afirma que é preciso comunicar para aplacar a voracidade da mídia por imagens de apelo.
"Fotos de civis e crianças são muito mais interessantes para a imprensa", ele diz.


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