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Em embaixada, trabalho é redobrado
SOFIA FERNANDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Desde o começo dos
ataques de Israel à
faixa de Gaza, em 27
de dezembro, algo mudou na
rotina da embaixada do país
em Brasília. Além do previsível reforço de segurança,
que agora não permite nem
pasta e escovas de dentes
alheios entrarem no prédio,
um pequeno grupo de funcionários teve de abandonar
a outrora tranquila rotina do
serviço diplomático.
Quatro funcionários do
setor de imprensa, que costumavam deixar o trabalho
às 17h, não têm mais hora
para sair. Eles produzem em
média dez boletins por dia
sobre a ação militar israelense contra o grupo islâmico Hamas. Os jornalistas à
procura de fontes, personagens e dados oficiais sobre a
ofensiva se deparam com relatórios e listas de contatos.
É preciso descontar o viés
natural de quem quer vender sua versão, mas é inegável a eficiência de Tel Aviv
em fazê-la disponível com
fartura de informações. Em
Brasília, boa parte dos contatos, como famílias brasileiras em Israel e autoridades,
já estava à disposição depois
da guerra de Israel contra o
Hizbollah em 2006.
Os funcionários, que traduzem e elaboram notas para alimentar diariamente o
site da instituição e mais de
800 caixas de e-mail, agora
obedecem à lei do bar com
freguesia persistente -o trabalho vai até o último pedido
de jornalista, ou até a última
nota enviada de Israel com
determinação de ser distribuída no Brasil. Até um tradicional fardo de jornalistas,
o plantão de fim de semana e
de Réveillon, foi adotado.
Do outro lado da guerra de
comunicação, a recomendação da representação da
ANP (Autoridade Nacional
Palestina) é a de usar a comunicação a conta-gotas.
"Os fatos falam por si", alega
o embaixador Ibrahim Al-Zeben para não investir em
estratégias de comunicação.
Além das entrevistas agendadas e da publicação de alguns comunicados vindos de
Ramallah, sede da ANP na
Cisjordânia, a embaixada
não tem um planejamento
para disseminar informação
e enxerga vantagem nisso.
Naturalmente, ele desconversa sobre a possibilidade
de este blecaute informativo
ter a ver com o fato de que
Gaza está sob o controle do
Hamas, grupo rival dos moderados da Fatah, que controla a ANP.
"Eu não queria estar no
lugar deles [a Embaixada de
Israel]. Como explicar a
morte de quase 700 pessoas?", diz Al-Zeben.
Raphael Singer, conselheiro da Embaixada de Israel, que atua como chefe da
comunicação, afirma que é
preciso comunicar para
aplacar a voracidade da mídia por imagens de apelo.
"Fotos de civis e crianças
são muito mais interessantes para a imprensa", ele diz.
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