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Mistério italiano
Texto atribuído a Pasolini reabre
especulações sobre o assassinato do
cineasta e escritor em 1975
EUCLIDES SANTOS MENDES
DA REDAÇÃO
Um suposto capítulo
desaparecido do
romance "Petróleo" -livro inacabado de Pier Paolo
Pasolini- é apontado como
uma das hipóteses para explicar a morte do cineasta, poeta e
escritor italiano, assassinado
em 2 de novembro de 1975.
O senador e bibliófilo italiano Marcello Dell'Utri afirmou,
no começo de março, que iria
apresentá-lo durante a Mostra
do Livro Antigo, em Milão.
Dell'Utri declarou à imprensa italiana que o texto, que segurou "por alguns minutos, esperando poder lê-lo com calma
depois", lhe foi apresentado
por uma pessoa cuja identidade não foi, até agora, revelada.
"Creio que o capítulo tenha
sido roubado do escritório de
Pasolini. É inquietante para a
ENI [companhia petrolífera
italiana], de grande interesse,
porque se liga à história do
país, a Eugenio Cefis, à morte
misteriosa de Enrico Mattei e
do próprio Pasolini", disse. Cefis e Mattei são ex-diretores da
empresa.
No entanto, o texto não apareceu e Dell'Utri, reafirmando
tê-lo visto, declarou à imprensa
que a pessoa que lhe havia prometido o capítulo desapareceu.
O anúncio do senador -que
é aliado do primeiro-ministro
italiano Silvio Berlusconi e foi
condenado pela Justiça, em
2004, a nove anos de prisão por
ligações com a Máfia- motivou especulações sobre o que,
de fato, teria ocorrido na noite
em que Pasolini foi barbaramente assassinado.
Intitulado "Lampi sull'ENI"
(Relâmpagos sobre a ENI), o
suposto capítulo do livro no
qual Pasolini trabalhava quando morreu trataria de questões
políticas e criminais envolvendo o conglomerado energético
italiano, Eugenio Cefis e Enrico Mattei.
A primeira edição italiana de
"Petróleo" (ed. Einaudi, 1992)
tem mais de 500 páginas e foi
organizada na forma de "appunti" (anotações) por Graziella Chiarcossi, sobrinha e herdeira de Pasolini, e Aurelio
Roncaglia.
Estrutura-se como um romance e narra a história de um
engenheiro da ENI que tem
dupla personalidade -católico
e empenhado, de um lado, e
sensual e diabólico, do outro. A
empresa é descrita como um
centro de poder obscuro.
Além disso, Pasolini discute
no livro temas como a mutação
antropológica -que, segundo
ele, nivelava as diferenças na
formação de uma nova burguesia-, o desaparecimento do
subproletariado e a identificação dos democratas cristãos
com os fascistas.
O capítulo desaparecido discutiria a relação entre o então
diretor da ENI Eugenio Cefis e
atentados ligados à indústria
petroleira e tramas internacionais.
Morte reexaminada
O caso envolvendo o suposto
capítulo desaparecido do último livro de Pasolini motivou
novas investigações sobre a
morte trágica do cineasta.
A apuração, ainda nos anos
1970, concluiu que ele foi assassinado por Giuseppe (Pino) Pelosi, 17, em Ostia, cidade próxima a Roma, no Dia de Finados.
O adolescente confessou o
crime, relatando, à época, que o
matou após um encontro no
qual Pasolini, homossexual declarado, quis, forçadamente,
manter relações sexuais com
ele. Os dois se agrediram e então Pelosi, de posse do carro de
Pasolini, passou "acidentalmente" o veículo sobre o seu
corpo caído numa estrada.
O jovem foi condenado pela
Justiça. Porém, em entrevista a
uma emissora de TV italiana,
em 2005, Pelosi declarou ser
inocente. "Não matei Pasolini.
Hoje não tenho medo. Os que
me ameaçaram e ameaçaram
minha família estão velhos ou
mortos", afirmou.
A perícia apontou, durante a
apuração, a possibilidade de
participação direta de outras
pessoas na morte do cineasta.
Reaberto em 2009 pela polícia de Roma, o caso teria uma
nova testemunha que, segundo
o jornal "La Repubblica" do último dia 2, está disposta a declarar que Pasolini não foi morto apenas por Pino Pelosi.
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