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A hipnose coletiva
"O Efeito
Wal-Mart"
investiga como
a maior rede
varejista
dos EUA
mantém baixa
a inflação
do país
e influencia a
economia mundial
MARTIN VANDER MEYER
Salmão costumava ser
considerado produto
de luxo pelas famílias
médias norte-americanas, mas hoje em
dia se tornou alimento de consumo semanal porque o Wal-Mart vende filés de salmão
-em um corte conveniente
que elimina a necessidade de
remover ossos- a partir de
US$ 10,60 (R$ 24) o quilo.
Os peixes são criados aos milhões nos fiordes do sul do Chile, processados em fábricas locais por trabalhadores de baixo
salário e transportados sem
congelamento, chegando aos
EUA frescos e rosados, 48 horas depois do abate, para venda
nos balcões de milhares de unidades da cadeia Wal-Mart em
todo o país.
O preço por quilo, aponta
Charles Fishman em "The
Wal-Mart Effect" [O Efeito
Wal-Mart, editora Penguin,
US$ 25,95, R$ 59] -trabalho
meticulosamente pesquisado e
recheado de histórias interessantes sobre a empresa-, é inferior à tarifa postal que um
consumidor americano pagaria
para despachar o peixe de volta
ao Chile.
O impacto desse preço sobre
o custo das compras e hábitos
alimentares dos norte-americanos, sobre a economia do
Chile e sobre a ecologia de um
remoto quadrante do Pacífico,
poluído por quantidades industriais de comida e fezes de
peixes, constituem o que Fishman classifica como "o efeito
Wal-Mart".
E esse efeito, em sua opinião,
não é de todo mau nem de todo
bom, mas com certeza é muito,
muito intenso.
Pressão incansável
A rede, sediada no Arkansas e
fundada por Sam Walton em
1962, não é simplesmente o
maior empregador do setor privado e o maior detentor de
mercado no varejo dos EUA.
Sua estratégia de preços baixos, que se tornou dominante a
ponto de forçar outras lojas a
seguirem seu exemplo mesmo
que não concorram diretamente com ele, desempenha papel
fundamental em manter baixa
a inflação do país; a pressão incansável por preços cada vez
mais baixos que o grupo exerce
sobre seus fornecedores se tornou um dos principais propulsores para a exportação de empregos industriais dos EUA à
China ou a outros locais.
Mas é um alívio descobrir
que Fishman não é simplesmente mais um jornalista que
tomou por missão expor a Wal-Mart como uma monstruosa
conspiração contra o homem
comum, como Bob Ortega, repórter do "Wall Street Journal", esforçou-se seriamente
em fazer com "In Sam We
Trust" (Em Sam Nós Confiamos, ed. Three Rivers Press,
448 págs., de 1998).
Fishman recita a litania dos
argumentos contra a Wal-Mart
pelo uso e abuso de trabalhadores imigrantes ilegais e por adquirir produtos de fábricas
cruéis no Terceiro Mundo, mas
reconhece que o grupo tem
agora um código de conduta
claro para seus fornecedores.
Mas observa que o grupo não
é simplesmente um predador.
A Wal-Mart não reduz seus
preços até destruir a concorrência e depois os eleva novamente: a idéia é mantê-los baixos, e é por isso que consumidores que se declaram "confusos" nas pesquisas -e desgostam da Wal-Mart por seu impacto sobre comunidades e padrões de emprego- ainda assim fazem compras nas lojas do
grupo uma vez por semana,
gastando quase tanto quanto as
pessoas que se declaram "defensoras" da companhia.
Consumo exagerado
No entanto a Wal-Mart já
não é a empresa que Walton legou aos seus herdeiros ao morrer, em 1992. Multiplicou-se
em escala e alcance, no país e
no exterior, e adquiriu poder de
mercado sem precedentes -o
que enraivece os sindicatos, os
ambientalistas e os jornalistas.
Mas seus executivos não têm
um plano secreto para dominar
o mundo; limitam-se a vender o
máximo possível de produtos a
preço baixo. Se há algo de sinistro nisso, é o efeito hipnótico
que a prática exerce sobre os
consumidores americanos.
Eles compravam alegremente os vidros de pepinos em conserva oferecidos pela Wal-Mart
a US$ 2,79 (R$ 6,30) a unidade,
ainda que fosse impossível comer aquela quantidade do produto -e o fizeram até que o fabricante faliu por não conseguir manter o suprimento.
Quando o preço das roupas
de baixo foi seriamente reduzido, os norte-americanos adquiriram montanhas de peças e
formaram estoques.
Em uma era de consumismo
exagerado e sem controle, não
se deve culpar a Wal-Mart pelo
"efeito Wal-Mart": a culpa é
dos consumidores, especialmente os "confusos".
MARTIN VANDER MEYER é jornalista. Este
texto foi publicado na "New Statesman".
Tradução de Paulo Migliacci.
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