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O primeiro romance do crash
Passado na City, "Uma Semana em Dezembro", de Sebastian Faulks, anuncia a crise global
de 2008
CHRISTIAN HOUSE
Apesar de seu sucesso, Sebastian
Faulks adota uma
abordagem resolutamente cínica
quanto à escrita. Seus romances têm ritmo, dramaticidade,
suspense e uma visão clara de
tempo e lugar. Mas, na maioria,
adotam uma forma tradicional
e a refinam de acordo com os
desejos do mercado.
O recente "A Week in December" [Uma Semana em Dezembro, ed. Hutchinson, 352
págs., 18,99, R$ 53] cria uma
teia de narrativas para desenvolver uma história passada em
sete dias de inverno na Londres de 2007.
Três personagens ocupam
posições centrais. Um jovem e
tristonho advogado, Gabriel,
serve como compasso moral à
história, determinado a viver
uma existência truncada de
preocupação com o irmão esquizofrênico e com sua falta de
trabalho. Enquanto isso, Hassan, filho de um magnata muçulmano dos alimentos, se deixa seduzir por uma célula de
terrorismo islâmico. Mas Hassan não é o vilão da história.
Esse papel, apropriadamente, fica reservado a John Veales, um administrador de fundos que só se preocupa com
números e quer fazer fortuna
solapando o valor da libra.
Esboço
Faulks indaga o que a vida
moderna oferece como alimento à alma e ao intelecto. A resposta? Quase nada. Hassan e
Gabriel estão em busca da mesma coisa: uma identidade que
tenha valor e propósito.
Mas produzir um arranjo
narrativo assim fraturado requer domínio de técnicas de
equilibrismo; se o autor se estende demais em um capítulo, o
interesse pelos outros desaparece; se dedica atenção de menos, estará apresentando um
esboço, e não um personagem.
E é nessa última armadilha
que Faulks se deixa apanhar.
Mas há dois momentos, neste romance de outro modo corriqueiro, que demonstram verdadeiro talento. O primeiro é
quando Finn, o filho de Veales,
fica alto após fumar maconha; é
um divertido retrato de nossa
obsessão vazia por estados alterados, quer induzidos pelas
drogas, quer encontrados nos
reinos virtuais da tecnologia.
Finn termina percebendo
que deseja "desfumar a droga,
retornar ao que, em criança, definia como "vida verdadeira'".
Nos melhores momentos, o livro é um antiquado apelo por
uma retomada de nossos caminhos, por um retorno a uma
existência mais conectada.
O segundo incidente sublinha o compreensível horror de
Faulks diante da incapacidade
de nossas instituições financeiras de adiar sua gratificação.
Em um evento político que
homenageia os magnatas das
finanças, o primeiro-ministro
comenta a tenacidade da economia que eles construíram sobre areia movediça: "Aquilo
que vocês fizeram pela City de
Londres", anuncia, "pretendemos fazer agora pela economia
britânica como um todo". Todos sabemos o resultado disso.
Este artigo foi publicado no "Independent".
Tradução de Paulo Migliacci.
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