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Reencenação do crime é bem feita, porém deprimente
STEPHEN HOLDEN
E
u não era ninguém
até matar o maior
alguém do mundo."
São as palavras
do assassino de John Lennon, Mark David Chapman,
que em 8 de dezembro de
1980 matou o beatle a tiros
diante de sua residência no
edifício Dakota, na esquina
da rua 72 com Central Park
West.
Tudo o que Chapman diz
em "O Assassinato de John
Lennon", a devastadora
reencenação dirigida por
Andrew Piddington dos fatos que conduziram ao crime, é baseado em entrevistas, depoimentos e transcrições do tribunal.
Rodado em estilo quase
documental nos locais reais
em que os fatos ocorreram,
o filme [que estreou na semana passada nos EUA,
mas não tem data de estréia
no Brasil] provoca incômodo no espectador. Empregando um mínimo de truques fotográficos, evoca
episódios de desorientação
mental em que as imagens
oscilam e se fundem.
Fragmentos de "Touro
Indomável", "Taxi Driver" e
"Gente Como a Gente" sugerem a interação volátil
entre cultura popular e instabilidade mental.
Embora "O Assassinato
de John Lennon" não peça
ao espectador que se solidarize com Chapman, que hoje cumpre prisão perpétua
com possibilidade de condicional em Attica, o filme o
obriga a passar quase duas
horas em sua companhia
perturbadora.
Megalomaníaco, narcisista, sujeito a alucinações e
oscilações de humor, a impressão que se tem dele é de
alguém desagradável e insanamente egocêntrico.
Fala sobre sua obsessão
doentia com "O Apanhador
no Campo de Centeio" (J.D.
Salinger) e sua identificação com o problemático
adolescente Holden Caulfield. Encontrado por
Chapman quando "estava à
procura de algum tipo de
orientação", o livro tornou-se "uma corrente elétrica
em minha mão, queimando
meu corpo".
Já conheci gente suficiente no pop, parasitas desesperados que lembram o
perdedor retratado no filme, para reconhecê-lo como um clássico perseguidor
de celebridades em busca
da fama por associação.
A diferença entre Chapman e milhares de outros é
que, no caso dele, um parafuso se soltou, e o equilíbrio
precário entre adoração e
inveja pendeu mortalmente
para o lado negativo.
Quando um psiquiatra
pergunta por que ele fez o
que fez, Chapman responde: "Porque eu o achava um
falso. A música dele eu adorava." Se "O Assassinato de
John Lennon" é um filme
bem feito, também é totalmente deprimente.
A íntegra deste texto foi publicada no
"New York Times".
Tradução de Clara Allain
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