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AS ZONAS FRANCAS
ROCKIN" SQUAT, DO COLETIVO ASSASSIN, CONDENA A EXCLUSÃO, MAS DIZ QUE IMIGRANTES VIVEM MELHOR NA FRANÇA QUE NA ÁFRICA
ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um sentimento de "saco
cheio" que só será superado se a França se aceitar
"multicolorida" foi o que
motivou os distúrbios sociais que tomaram os subúrbios do país desde o
dia 27. Essa é a avaliação do produtor e MC de hip hop Rockin" Squat.
Squat é um dos integrantes mais
ativos do engajado coletivo francês
Assassin, que desde o início de sua
atuação, em 1990, combina música e
ação social promovendo shows em
prol de presos políticos e mantém
parcerias com entidades que trabalham com questões como crimes cometidos por policiais.
Na cena hip hop local, o coletivo é
responsável pela primeira gravadora
independente de rap, a extinta Assassin. Atualmente, ele atua em seu
novo projeto, o selo Livin" Astro, e
está preparando outro com faixas do
grupo brasileiro Z'África Brasil.
Leia a entrevista que Squat deu à
Folha de Paris, onde diz viver "na
pele" os últimos acontecimentos.
Folha - Qual sua opinião sobre os
violentos protestos que estão ocorrendo na França?
Rockin" Squat - Para pessoas como
nós, o que está acontecendo agora
não surpreende mais do que o esperado, pois o abismo social entre os
bairros populares franceses e o resto
do país é visível há muitos anos.
Folha - Há algum grupo ou organização por trás dos protestos?
Squat - Do meu ponto de vista, não
há grupos manipuladores por trás
de tudo isso, é mais um sentimento
de "saco cheio" geral. Quando assistimos a uma parte cada vez maior da
sociedade ser afastada do mundo do
trabalho, tratada como pária, porque são franceses mas não têm origem francesa, e quando vemos que
todas as reivindicações para que se
obtenha mais igualdade não são escutadas há anos, não podemos nos
surpreender se a coisa estourar!
Folha - As razões para os distúrbios
são sociais ou culturais/religiosas?
Squat - A falta de reconhecimento
social é a grande causa disso tudo;
em muitos bairros onde há revolta o
índice de desemprego é de 40%.
Muitos desses bairros são "zonas
francas", isto é, as empresas que ali
se instalam são isentas de impostos
por cinco anos, o que as motiva a
instalarem-se. Mas não contratam
ninguém das "cités" [conjuntos habitacionais dos subúrbios]. Elas
aproveitam as vantagens sociais dadas pelo governo, sem integrar os
habitantes das comunidades.
Folha - Qual seria a melhor medida
para resolver esses problemas?
Squat - A aceitação dessa nova
França multicolorida, sob todos os
aspectos, sem discriminação racial,
social, cultural ou religiosa.
Folha - Em uma entrevista, o rapper
Disiz La Peste, descendente de senegaleses, disse haver uma certa "demagogia das ruas", porque a vida
nessas periferias francesas não seria
tão difícil se comparada à vida nas periferias das cidades de seu país. Como
é a vida real nos subúrbios da França?
Squat - Quando se vive na miséria e
na exclusão, não há níveis nem
graus. Claro que a África é muito
mais pobre que o Ocidente, senão
porque tantos africanos viriam para
a Europa? Mas daí a dizer que há
uma "demagogia das ruas"... Vocês
deveriam perguntar aos "hakis" [argelinos que lutaram ao lado dos
franceses na guerra da Argélia] o
que eles têm vivido há 40 anos!
Folha - Você mora em Paris? Onde?
Squat - Sim, moro em Paris e estou
ligado a muitos bairros atingidos
(Orly, Vitry, Bobigny, Tremblay...).
Quase todos os integrantes do coletivo vivem nesses bairros.
Folha - Algum integrante do Assassin é muçulmano?
Squat - Representamos todas as
crenças e religiões. Somos os Panteras Negras do hip hop.
Folha - Você conhece alguém envolvido nesses distúrbios?
Squat - No hip hop não há delação.
Folha - Presenciou algum ataque?
Squat - Vivi isso na pele.
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