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REAÇÕES CUTÂNEAS NO PAÍS DE BAIXO
O DIRETOR DE "O ÓDIO", UM RETRATO CRU DA SEGREGAÇÃO NOS SUBÚRBIOS DE PARIS, ATACA A POLÍTICA DE "TOLERÂNCIA ZERO"
MATHIEU KASSOVITZ
Por mais longe que eu queira
me manter da política, é difícil ficar afastado diante dos
desatinos dos políticos. E
quando esses desatinos atiçam o
ódio de toda uma juventude, contenho-me para não encorajar os baderneiros.
[O atual ministro do Interior] Nicolas Sarkozy, que apareceu na vida
da mídia francesa como uma "starlet" da "Star Academy" [programa
de TV-realidade] e que há alguns
anos nos dá detalhes de sua vida privada e de suas ambições políticas,
não consegue se impedir de criar um
acontecimento a cada queda de sua
cotação nas pesquisas de popularidade. Desta vez, Nicolas Sarkozy tomou a contramão de tudo o que a
República Francesa defende. A liberdade, a igualdade e a fraternidade de um povo.
O ministro do Interior, futuro presidenciável, defende teses que não
apenas demonstram sua inexperiência em política e em relações humanas mas que também revelam o aspecto puramente demagógico e egocêntrico de um pequeno Napoleão
em formação.
Se hoje as periferias explodem
mais uma vez, não se deve a uma insatisfação geral com as condições de
vida que gerações inteiras de "imigrantes" devem enfrentar diariamente. Não há, infelizmente, um
combate político nos choques entre
os jovens das cidades-satélite e a polícia de Sarkozy.
Golpes de Karcher
Esses carros que queimam são reações cutâneas diante da falta de respeito do ministro do Interior para
com sua comunidade. Sarkozy não
ama essa comunidade, ele quer livrar-se dessa "gentinha" a golpes de
Karcher e grita isso bem alto no
meio de uma cidade "quente" às 11
horas da noite. A resposta está nas
ruas. A "tolerância zero" funciona
nos dois sentidos.
A história nos prova que a falta de
abertura e de filosofia entre comunidades diferentes engendra o ódio e o
confronto. Mas a repressão do terror
por meio do terror nunca fez ganhar
as guerras, ela só faz alimentá-las.
Nicolas Sarkozy é um admirador
da máquina de comunicação do presidente George W. Bush. Ele usa a
mídia para engrandecer sua imagem
e manipular a população.
Como Bush, ele não defende um
ideal; responde aos temores que ele
mesmo instila na cabeça das pessoas. Se esse homem não fracassar
pelo menos uma vez em suas tentativas de chegar à Presidência do país,
nada mais efetivamente poderá se
colocar em seu caminho, e sua vontade de poder total poderá enfim ser
realizada.
A história se repete?
Sim. Ela sempre o fez. O desejo de
poder e o egocentrismo dos que
pensam deter uma verdade sempre
criaram ditadores.
A íntegra deste texto se encontra no site
www.mathieukassovitz.com
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.
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