São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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Sobrados e Mucambos

ROBERTO DAMATTA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um livro a que retorno sempre quando vou escrever sobre o Brasil é "Sobrados e Mucambos", de Gilberto Freyre. Dos sociólogos clássicos -vou citar a "santíssima trindade" das reflexões sobre o Brasil, canonizada por Antonio Candido: Caio Prado Jr., Sérgio Buarque de Hollanda e Gilberto Freyre-, este foi o que falou de assuntos mais populares e mais cotidianos. Sérgio Buarque fica no meio e Caio Prado na outra ponta, pois falou mais de economia, de assuntos aos quais o olhar moderno está mais afeito.
Os capítulos do livro podem ser lidos independentemente uns dos outros. Gilberto Freyre usa dicotomias significativas para entender o Brasil. "O engenho e a praça; a casa e a rua" inspirou o título de meu livro "A Casa e a Rua" (ed. Rocco). "O pai e o filho" fala das relações com uma interpretação freudiana. Há um capítulo revelador, que todos os brasileiros interessados em sociologia deveriam ler: "Escravo, Animal e Máquina". Assim, há uma série de dicotomias, relativamente autocentradas, e uma análise supostamente histórica, mas, quando se lê, o que se encontra é o nosso Brasil de hoje, das grandes cidades, de nossas relações familiares e de gênero. Da grande trilogia formada por "Casa-Grande e Senzala", "Sobrados e Mucambos" e "Ordem e Progresso", é o mais acessível.


Roberto DaMatta é sociólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Está lançando "A Bola Corre Mais que os Homens", pela editora Rocco.

A obra
"Sobrados e Mucambos", de Gilberto Freire. 968 págs., R$ 98. Global (r. Pirapitingüi, 111, CEP 01508-020, Liberdade, São Paulo, SP, tel. 0/xx/11/3277-7999).


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