São Paulo, domingo, 15 de dezembro de 2002

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+poema

A betoneira

de Donizete Galvão

A análise combinatória
dos membros com os lençóis,
o travesseiro e o colchão
nunca resulta em conforto.
O corpo permanece alerta
com sua incômoda topografia.

O braço direito estendido
em arco sobre a cabeça
aperta o olho e a testa.
Os dedos das mãos se cruzam
e aumenta a pressão entre as juntas
até fazer com que doam.

A perna direita apóia seu peso
sobre o pé esquerdo retesado.
O encontro dos tornozelos
provoca a irritação de um atrito.
Por mais que se retorça,
o corpo retorna ao estado de tensão.

Por trás dos olhos ressequidos,
nas antecâmaras do cérebro,
não há uma fresca imagem,
o delírio de uma fruta,
que prenuncie a calma
da zona fronteiriça ao sono.

Como se fosse uma betoneira,
a máquina mental trabalha
em seu turno ininterrupto.
Nela, giram os pensamentos,
como seixos de granito
em constante rotação.


Donizete Galvão nasceu em Borda da Mata (MG). É autor de "As Faces do Rio" (ed. Água Vida Edições) e "Ruminações" (Nankin), entre outros.


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