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"Crítico ainda é pouco conhecido na Alemanha"
DANIEL BUARQUE
DA REDAÇÃO
A Alemanha também terá, até
julho próximo, a publicação
de uma primeira antologia
de textos de Antonio Candido. A responsável pelo projeto, que
deve ser publicado até meados do
ano, é a ex-aluna do crítico, Ligia
Chiappini, que dirige desde 1997 a
única cátedra de literatura brasileira
na Alemanha, na Universidade Livre
de Berlim. Para ela, a obra de Candido tem muito a acrescentar não apenas à crítica literária alemã, mas
também ao pensamento humanista.
Folha - A que a sra. atribui a não publicação, até hoje, da obra de Antonio
Candido na Alemanha?
Ligia Chiappini - Antonio Candido
não é do tipo de fazer a própria propaganda, por isso ainda é pouco conhecido na Alemanha. Também por
escrever em português, e essa língua
ainda é pouco divulgada não apenas
na Alemanha mas na Europa toda,
apesar do número de falantes que
supera largamente o dos falantes de
alemão ou francês.
Folha - Qual a importância dessa publicação para a divulgação da literatura brasileira?
Chiappini - A importância é grande, pois Antonio Candido, mesmo
quando escreve sobre outras literaturas e culturas, não perde de vista a
sua própria circunstância. Divulgar
textos de Antonio Candido é, além
disso, mostrar o que há de melhor
no gênero, isto é na rica tradição ensaística da América Latina.
Folha - Que textos constarão nesse
primeiro livro de Antonio Candido em
alemão?
Chiappini - A antologia que organizamos tem quatro partes e dois
apêndices. A primeira parte é dedicada a textos que têm relação direta
com a Alemanha; a segunda, textos
de caráter mais geral, como o direito
à literatura, entre outros; a terceira,
textos que exemplificam o talento
do intérprete e seu método analítico;
a quarta, textos que relacionam Brasil e América hispânica; e, nos apêndices, dois pequenos textos que ilustram o interesse precoce do crítico
pela cultura e pela história alemã,
sendo um deles o primeiro que ele
publicou na vida, com 16 anos.
Folha - Sua obra tem algo a acrescentar à crítica em língua alemã?
Chiappini - Antonio Candido tem
muito a acrescentar à crítica literária
e cultural e também ao pensamento
humanista. Sua obra tem uma originalidade teórica que provém de sua
capacidade analítica e de sua sensibilidade, que se associam para desvendar o social e o histórico inscritos
nas formas, o que parece simples
mas é muito complicado, porque
significa superar reducionismos de
todo o tipo, inclusive formais.
Folha - Como seus alunos alemães
reagem à primeira leitura de textos
de Antonio Candido?
Chiappini - Os alunos gostam
muito e aprendem muito com os ensaios de Antonio Candido. Já dei um
curso sobre o crítico faz alguns anos
e foi muito gratificante. Afora isso,
sempre há textos seus como bibliografia de diferentes cursos sobre literatura brasileira. O tradutor, um jovem doutor, Marcel Vejmelka, estará dando no próximo semestre de
verão, um curso sobre Antonio Candido e Ángel Rama. Já há vários alunos interessados.
Folha - Em Portugal também está
sendo lançada uma antologia do crítico brasileiro. Há alguns anos, textos
dele também têm sido publicados em
livro em inglês, francês e espanhol. A
que fatores a sra. atribui o súbito interesse no exterior pela obra de Antonio
Candido?
Chiappini - Não se trata de um súbito interesse. Entre os melhores estudiosos de literatura brasileira e latino-americana na Europa e nos Estados Unidos sempre houve conhecimento e reconhecimento da obra
de Antonio Candido. O que é mais
recente -embora isso venha ocorrendo já há alguns anos- é a publicação de antologias em diferentes
países e línguas.
São textos escolhidos, que os organizadores, geralmente com aval do
autor, julgam exemplares do ensaísta. Na verdade, amostras da grande
obra que é impossível abarcar. Elas
deixam de fora, por motivos óbvios,
a "Formação da Literatura Brasileira", que, pelo ineditismo do projeto
e de sua execução, freqüentemente
mal-entendidos, mereceria ser publicada integralmente em várias línguas. Uma antologia publicada em
Portugal, infelizmente, não representa um caminho para o maior conhecimento do autor na Europa,
pois, como eu já disse, a língua portuguesa acaba limitando o número
de leitores.
Talvez seja mais importante para a
maior circulação do autor nos países
lusófonos da África, onde há muito
interesse pela literatura brasileira.
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