São Paulo, domingo, 16 de janeiro de 2005

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"Crítico ainda é pouco conhecido na Alemanha"

DANIEL BUARQUE
DA REDAÇÃO

A Alemanha também terá, até julho próximo, a publicação de uma primeira antologia de textos de Antonio Candido. A responsável pelo projeto, que deve ser publicado até meados do ano, é a ex-aluna do crítico, Ligia Chiappini, que dirige desde 1997 a única cátedra de literatura brasileira na Alemanha, na Universidade Livre de Berlim. Para ela, a obra de Candido tem muito a acrescentar não apenas à crítica literária alemã, mas também ao pensamento humanista.

 

Folha - A que a sra. atribui a não publicação, até hoje, da obra de Antonio Candido na Alemanha?
Ligia Chiappini -
Antonio Candido não é do tipo de fazer a própria propaganda, por isso ainda é pouco conhecido na Alemanha. Também por escrever em português, e essa língua ainda é pouco divulgada não apenas na Alemanha mas na Europa toda, apesar do número de falantes que supera largamente o dos falantes de alemão ou francês.

Folha - Qual a importância dessa publicação para a divulgação da literatura brasileira?
Chiappini -
A importância é grande, pois Antonio Candido, mesmo quando escreve sobre outras literaturas e culturas, não perde de vista a sua própria circunstância. Divulgar textos de Antonio Candido é, além disso, mostrar o que há de melhor no gênero, isto é na rica tradição ensaística da América Latina.

Folha - Que textos constarão nesse primeiro livro de Antonio Candido em alemão?
Chiappini -
A antologia que organizamos tem quatro partes e dois apêndices. A primeira parte é dedicada a textos que têm relação direta com a Alemanha; a segunda, textos de caráter mais geral, como o direito à literatura, entre outros; a terceira, textos que exemplificam o talento do intérprete e seu método analítico; a quarta, textos que relacionam Brasil e América hispânica; e, nos apêndices, dois pequenos textos que ilustram o interesse precoce do crítico pela cultura e pela história alemã, sendo um deles o primeiro que ele publicou na vida, com 16 anos.

Folha - Sua obra tem algo a acrescentar à crítica em língua alemã?
Chiappini -
Antonio Candido tem muito a acrescentar à crítica literária e cultural e também ao pensamento humanista. Sua obra tem uma originalidade teórica que provém de sua capacidade analítica e de sua sensibilidade, que se associam para desvendar o social e o histórico inscritos nas formas, o que parece simples mas é muito complicado, porque significa superar reducionismos de todo o tipo, inclusive formais.

Folha - Como seus alunos alemães reagem à primeira leitura de textos de Antonio Candido?
Chiappini -
Os alunos gostam muito e aprendem muito com os ensaios de Antonio Candido. Já dei um curso sobre o crítico faz alguns anos e foi muito gratificante. Afora isso, sempre há textos seus como bibliografia de diferentes cursos sobre literatura brasileira. O tradutor, um jovem doutor, Marcel Vejmelka, estará dando no próximo semestre de verão, um curso sobre Antonio Candido e Ángel Rama. Já há vários alunos interessados.

Folha - Em Portugal também está sendo lançada uma antologia do crítico brasileiro. Há alguns anos, textos dele também têm sido publicados em livro em inglês, francês e espanhol. A que fatores a sra. atribui o súbito interesse no exterior pela obra de Antonio Candido?
Chiappini -
Não se trata de um súbito interesse. Entre os melhores estudiosos de literatura brasileira e latino-americana na Europa e nos Estados Unidos sempre houve conhecimento e reconhecimento da obra de Antonio Candido. O que é mais recente -embora isso venha ocorrendo já há alguns anos- é a publicação de antologias em diferentes países e línguas.
São textos escolhidos, que os organizadores, geralmente com aval do autor, julgam exemplares do ensaísta. Na verdade, amostras da grande obra que é impossível abarcar. Elas deixam de fora, por motivos óbvios, a "Formação da Literatura Brasileira", que, pelo ineditismo do projeto e de sua execução, freqüentemente mal-entendidos, mereceria ser publicada integralmente em várias línguas. Uma antologia publicada em Portugal, infelizmente, não representa um caminho para o maior conhecimento do autor na Europa, pois, como eu já disse, a língua portuguesa acaba limitando o número de leitores.
Talvez seja mais importante para a maior circulação do autor nos países lusófonos da África, onde há muito interesse pela literatura brasileira.


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