São Paulo, domingo, 16 de abril de 2000


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+ 3 questões Sobre a nova economia

1. O que levou à repentina queda das ações das empresas de alta tecnologia?
2. Existe a possibilidade de um novo crack do sistema financeiro mundial?
3. A nova economia tornou mais vulneráveis os países emergentes?


Maria Amalia Coutrim responde

1.
Existem 14 índices Nasdaq (a chamada "Bolsa eletrônica", com sede em Nova York, em que são negociadas as ações de empresas de alta tecnologia), um composto por 4.000 empresas e outro composto por cem empresas, de diferentes setores, inclusive de biotecnologia.
O Nasdaq 100 subiu 351%, em dólares, nos últimos três anos, e, até o último dia 7 de abril, 16%. Os índices do Dow Jones (da Bolsa de Nova York, que medem as ações de companhias tradicionais dos setores industrial e financeiro), para os mesmos períodos, são de 98 % e 4%, respectivamente.
Portanto, considerando o índice no geral, provavelmente a queda foi um reajuste de preço.

2.
De fato, não sei se, por definição, houve um crack. O que houve foi uma queda forte e uma reação muito rápida, no mesmo dia. Quedas pode haver sempre. E são provocadas por expectativas não concretizadas, como resultados abaixo do esperado e questões macroeconômicas; por exemplo, aumento do consumo e perspectivas de alta das taxas de juros, entre diversos motivos.

3.
Não classifico como nova economia, mas sim como uma evolução. Essa evolução se dá principalmente em tecnologia voltada para a humanidade, em pesquisas na área da medicina, na produção de alimentos, nas comunicações, nas informações, nos relacionamentos comerciais etc. É positivo para os países emergentes, porque podemos acompanhar de perto e nos aproveitarmos dessa evolução.
Quanto ao movimento de Bolsa, acho que, qualquer que seja, para cima ou para baixo, vai afetar o mundo todo.

João Sayad responde

1.
A causa imediata foi, sem dúvida, a decisão judicial sobre o caso Microsoft. Além dela, as ações das empresas de alta tecnologia têm sido negociadas a preços muito altos relativamente aos lucros que obtiveram até agora. Existe uma expectativa exagerada sobre os lucros dessas empresas no futuro. Em termos técnicos, estas empresas têm apresentado relação preço/lucro muito altas.
Se a relação preço/lucro de uma ação assume o valor superior a cem, como acontece agora com as empresas listadas no índice Nasdaq, quer dizer que a empresa apresentou lucros muito pequenos, apenas 1% do preço negociado em Bolsa. Quem comprou espera ganhar com a valorização da ação e não com os dividendos. É como se alguém comprasse um apartamento muito caro de R$ 1 milhão e que fosse alugado por apenas R$ 10 mil reais por ano ou R$ 800 por mês. O aluguel é muito baixo, ou a relação preço/aluguel é muito alta, para fazer analogia com a Bolsa.
Nesse caso, o comprador do imóvel ou das ações está esperando obter ganhos a partir da valorização da ação, ganhos de capital e não ganhos decorrentes da lucratividade corrente da empresa. A Bolsa "precisa" subir para que os ganhos sejam realizados.

2.
Difícil dizer, mas as crises anunciadas ou não ocorrem ou são muito menores. Há muito tempo que o presidente do Federal Reserve (o Banco Central dos EUA) tem falado em "exuberância irracional" nas Bolsas. Há muito tempo que o sistema financeiro deveria estar reduzindo suas posições de empréstimos para esses investimentos. Portanto investidores e setores financeiros deveriam estar preparados. Mas é pouco provável que, em havendo a crise de queda de preços, as autoridades monetárias venham a repetir a política monetária dos anos 30, que foi contracionista e, portanto, agravou a crise. Em 1987, na crise do LTCM, um fundo de investimentos americano, na crise da Rússia, as autoridades americanas e européias fizeram a "coisa certa": emprestaram dinheiro para evitar a difusão da crise.

3.
A vulnerabilidade dos países emergentes depende de quantos dólares precisam todos os anos para pagar importações e juros e não da Bolsa americana. Se a Bolsa cair, haverá menos investimentos diretos no Brasil, por exemplo, mas o problema não é a Bolsa, e sim a necessidade de dólares do país.

QUEM SÃO

Maria Amalia Coutrim
É economista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com especialização em mercado de capitais. Atualmente é diretora do banco Opportunity.

João Sayad
É professor da Faculdade de Economia e Administração da USP e ex-ministro do Planejamento (governo José Sarney), autor, entre outros, de "Que País é Este?" (Ed. Revan)



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