São Paulo, domingo, 16 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Autor anônimo explica sua relação com as drogas hoje

da Sucursal do Rio

Anônimo aceitou ser entrevistado pelo Mais!, embora, para preservar seu anonimato, quis que as perguntas fossem encaminhadas ao seu agente literário.

Por que assinou "Anônimo", e não, como Thomas de Quincey, o seu nome verdadeiro?
Por dois motivos, um pessoal e outro profissional. O nome verdadeiro teria, inevitavelmente, impacto sobre as pessoas que me são próximas. Da mesma forma, se tivesse usado o meu nome real haveria um impacto negativo na minha, por assim dizer, carreira. A situação de De Quincey era totalmente diferente. Ele não estava comprando ópio de seu filho e tampouco era romancista. Ele era uma espécie de jornalista importante e popular, que poderia ter resistido a qualquer reação negativa. Na verdade, ele se beneficiou e capitalizou o uso do seu nome verdadeiro.
Tudo, nas "Confissões", é real, inclusive a sua idade, formação calvinista, educação, divórcio e a tentativa de suicídio de seu filho?
Tudo nas "Confissões" é não só real como verdadeiro.
Você mostrou o texto a algum amigo ou familiar antes da publicação?
Não o mostrei a ninguém. O meu anonimato foi uma das condições que exigi para que fosse publicado. Tanto é assim que alguns órgãos de imprensa tiveram interesse em publicar a matéria, desde que eu a assinasse com meu nome, e recusei as ofertas.
O que surgiu primeiro: a idéia de escrever sobre ecstasy ou a de parodiar Thomas de Quincey?
Usar De Quincey foi apenas um recurso literário. Se tivesse a intenção de escrever uma paródia, o artigo teria sido muito diferente deste publicado pela "Granta". Na verdade, consideramos seriamente a hipótese de eliminar todas as referências a de Quincey. A matéria é de fato uma confissão e é de fato sobre o que se classifica hoje como uma "substância de uso controlado". Ela ecoa partes limitadas do artigo, aliás muito mais longo, de De Quincey, mas De Quincey não é o fundamental nas minhas "Confissões".
Alguém já o procurou para comentar que sua vida é igual à do Anônimo?
Até agora não, e espero ansiosamente que ninguém o faça. Os detalhes no artigo são conhecidos apenas por poucas pessoas, e a maioria delas não lê a "Granta". Como esses detalhes são bem específicos, se uma delas topar com a matéria, reconhecerá na hora que fui eu quem a escreveu.
Depois de tomar ecstasy, você teve curiosidade de experimentar outras drogas?
Não. Embora tenha lido recentemente alguma coisa sobre Crystal Meth, não o experimentei. Duvido que o tome.
Ainda toma ecstasy? Suas reações à droga mudaram?
De vez em quando ainda tomo um E. Não com a mesma frequência que antes. No máximo, um a cada dois meses. É claro que minhas reações a ele mudaram. Em razão da fisiologia, isso é inevitável. Um dos perigos ou armadilhas do ecstasy (e, pelo que entendo, da cocaína também) é a busca vã de reproduzir as sensações vividas quando o tomamos pela primeira vez. Esses efeitos não vão se repetir. Quanto mais cedo se aceita esse fato, menores são as expectativas, mais inteligente o uso que se pode fazer da droga e, ironicamente, maior o efeito que se pode obter dela. (MSC)

Texto Anterior: Continuação
Próximo Texto: Para psiquiatra, ecstasy pode provocar danos psíquicos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.