São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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Vale por um bifinho

PESQUISADORA DA EMBRAPA DIZ QUE COMMODITY SERÁ A MATÉRIA-PRIMA DOS PRÓXIMOS SÉCULOS


Hoje, quase todas as grandes indústrias de alimento têm uma linha à base de soja

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Produto que compõe a dieta alimentar do brasileiro, a soja possui, segundo a pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa de Soja da Embrapa Mercedes Carrão Panizzi, características que a fazem benéfica para o consumo humano: é fonte de proteínas, minerais e compostos bioativos.
Em entrevista à Folha, diz também que alguns trabalhos de pesquisa "têm mostrado que a soja pode atuar na redução do colesterol".
Panizzi ressalta ainda que a soja geneticamente modificada não apresenta desvantagens.
"A obtenção de melhores variedades favorecem produtores pela redução no uso de insumos e pelo aumento de rendimento. Os consumidores são favorecidos pela melhor qualidade dos produtos."
Na entrevista abaixo, ela diz que o consumo de alimentos à base de soja tem crescido nos EUA e na Europa, apesar de o grande negócio envolvendo esse grão no Brasil e no mundo ainda ser o do fornecimento de matéria-prima para a composição de ração animal.
A soja também é usada em produtos como o biodiesel, lubrificantes, tintas, plásticos e cosméticos. Por isso, argumenta, "podemos afirmar que a soja pode ser a matéria-prima dos próximos séculos".

 

FOLHA - A soja será o "novo trigo", pela sua potencial importância na cadeia alimentar?
MERCEDES CARRÃO PANIZZI
- Prefiro dizer que não será o trigo, porque também precisamos do trigo, e sabemos que da combinação de leguminosas (soja) e cereais (trigo) temos a oferta de proteínas de alta qualidade, semelhante às proteínas de origem animal.
Entretanto, podemos afirmar que a soja poderá ser a matéria-prima dos próximos séculos.
Pois é uma das únicas plantas produzidas em larga escala que podem fornecer matéria-prima para a produção de alimentos e também pode ser utilizada em produtos industriais não-alimentares, tais como lubrificantes, tintas, plásticos e cosméticos, além de também poder ser fonte de energia (biodiesel).

FOLHA - Quais as consequências da soja geneticamente modificada para produtores e consumidores?
PANIZZI
- Sempre que se faz melhoramento genético por meio de métodos tradicionais ou por meio da biotecnologia, o objetivo é aperfeiçoar o desempenho da planta para o aumento de rendimento e adaptação. Isso pode ser conseguido pela melhora de características da planta ou pela tolerância a diferentes "estresses" (bióticos e abióticos).
Vários componentes de qualidade podem ser modificados por melhoramento genético clássico ou por biotecnologia. A obtenção de melhores variedades favorecem produtores pela redução no uso de insumos e pelo aumento de rendimento.
Os consumidores são favorecidos pela melhor qualidade dos produtos.
Na minha opinião, não há desvantagens, porque todo o trabalho é conduzido para a obtenção de melhores variedades -as quais só são lançadas após extensivas avaliações, que são ainda mais rigorosas para a soja geneticamente modificada.

FOLHA - Qual o papel da soja na economia alimentar no Brasil?
PANIZZI
- O grande negócio da soja no Brasil e no mundo ainda é ser matéria-prima para a composição de ração animal.
Entretanto, o uso da soja e de seus derivados devem agregar valor nutricional nos alimentos, como também, dependendo dos custos de processamento, podem, em alguns casos, fornecer alimentos mais econômicos para a população.

FOLHA - Quais as vantagens da utilização da soja como alimento?
PANIZZI
- A soja é fonte de proteínas de excelente qualidade (boa composição de aminoácidos), além de ser fonte de minerais e de compostos bioativos, tais como isoflavonas e saponinas, entre outros, que são benéficos para a saúde humana. Tecnologias de processamento adequadas transformam a soja em produtos com qualidade e boa aceitabilidade pelos consumidores, como no caso das bebidas à base de extrato de soja.
Alguns trabalhos mostram que a soja pode atuar na redução do colesterol.
É, portanto, um alimento disponível no Brasil, que é o segundo produtor mundial, e deveria ser mais consumido pela população.

FOLHA - O que falar do uso da soja na culinária de países como China, Japão e Coreia do Sul?
PANIZZI
- A soja é uma leguminosa utilizada há milênios no Oriente como constituinte de diferentes pratos da culinária daqueles países.
Entre esses pratos tradicionais, tem-se os fermentados, como shoyu, miso e natto, por exemplo.
Todos esses pratos demandam variedades de soja com características específicas. O processo de fermentação também agrega alguns aspectos nutricionais importantes, como biodisponibilidade de alguns minerais, de vitaminas e de compostos bioativos.

FOLHA - Qual a relevância e a taxa de consumo de alimentos feitos à base de soja nos EUA e na Europa?
PANIZZI
- Observa-se um crescimento muito significativo no consumo de alimentos à base de soja nos EUA e em países europeus, algo que também vem acontecendo no Brasil. O de bebidas à base de extrato de soja, por exemplo, cresce cerca de 25% ao ano. Esse crescimento se deve ao processamento tecnológico adequado, o qual permite a obtenção de produtos de excelente qualidade.
Atualmente, quase todas as grandes indústrias de alimento têm uma linha à base de soja. Também se observa uma constante disponibilidade de novos produtos alimentares à base de soja no mercado.



Folha Online
Conheça receita de hambúrguer de soja da chef Rita Taraborelli feita para o restaurante Maní, de São Paulo, em www.folha.com.br/091349


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