São Paulo, domingo, 17 de agosto de 2008

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Religião da América

EM MEIO À GUERRA DO IRAQUE E O MEDO DA RECESSÃO, NOVAS GERAÇÕES DO PAÍS, QUE TEM 78,4% DE CRISTÃOS, SE DESILUDEM COM DISCURSO FUNDAMENTALISTA E ABREM ESPAÇO PARA TEMAS COMO ABORTO E CASAMENTO GAY

Alex Brandon - 20.mar.08/Associated Press
Barack Obama, candidato democrata à Presidência dos EUA, pouco antes de falar a moradores de Beckley, na Vigínia Ocidental

BERNARDO CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL AOS EUA

O s norte-americanos podem imaginar um negro ou uma mulher como candidatos à Presidência do seu país, mas não um ateu.
Em sua ascensão meteórica rumo ao pináculo da política americana, o candidato democrata Barack Obama teve de abandonar o passado agnóstico, associando-se a uma das igrejas mais radicais e politicamente engajadas dos bairros negros de Chicago, a Trinity United Church of Christ [Igreja Unida de Cristo Trindade]- mas só até quando essa radicalidade passou a comprometer seus planos políticos.
Os EUA são o maior mercado livre de religiões do mundo.
Durante duas semanas de junho, num percurso que foi do Meio-Oeste ao Texas, a Folha visitou as maiores igrejas e personagens não muito católicos, procurando esboçar um recorte necessariamente incompleto do universo muito diversificado do cristianismo americano, cujo coro promete se fazer ouvir nas eleições presidenciais de 4 de novembro.
Os EUA são um país 78,4% cristão. Segundo dados de um vasto levantamento divulgado neste ano pelo Fórum Pew [leia na pág. 7] -projeto que se ocupa de religião e sociedade dentro de um dos institutos de pesquisa mais respeitados do país-, evangélicos e não-religiosos são os grupos que mais crescem enquanto os protestantes tradicionais moderados, muitos deles ligados historicamente ao movimento dos direitos civis, decrescem.
As conseqüências políticas dessa polarização ainda estão por ser avaliadas, mas a luta pelo voto evangélico já é uma das principais preocupações tanto entre estrategistas democratas como entre republicanos.

Dividir os evangélicos
Nas últimas duas eleições, religiosos conservadores e fundamentalistas se mobilizaram contra o aborto e o casamento homossexual e conseguiram levar às urnas gente que a princípio não votaria, garantindo a vitória a George W. Bush.
Agora, a relativa moderação do discurso de algumas das maiores organizações evangélicas norte-americanas, em meio à recessão econômica, aos resultados da Guerra do Iraque e à desilusão das gerações mais jovens com o discurso fundamentalista, abre a possibilidade de uma nova perspectiva.
Ontem, pela primeira vez desde o início da campanha, Obama e o candidato republicano John McCain participaram juntos de um encontro público, organizado pelo pastor Rick Warren, líder da quarta maior igreja dos EUA, a Saddleback, na Califórnia -o pastor esteve recentemente em São Paulo, divulgando sua igreja e seu método.
Os votos evangélicos (cerca de um quarto da população) são tradicionalmente republicanos, mas Obama quer se aproveitar da insatisfação com o governo Bush e da pouca empatia entre McCain os religiosos conservadores para -já que não pode conquistá-los em massa- ao menos tentar dividi-los.


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