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Religião da América
EM MEIO À GUERRA DO IRAQUE E O MEDO DA RECESSÃO, NOVAS GERAÇÕES DO PAÍS, QUE TEM 78,4% DE CRISTÃOS, SE DESILUDEM COM DISCURSO FUNDAMENTALISTA
E ABREM ESPAÇO PARA TEMAS COMO ABORTO E CASAMENTO GAY
Alex Brandon - 20.mar.08/Associated Press
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Barack Obama, candidato democrata à Presidência dos EUA, pouco antes de falar a moradores de Beckley, na Vigínia Ocidental
BERNARDO CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL AOS EUA
O
s norte-americanos podem imaginar um negro ou
uma mulher como
candidatos à Presidência do seu país, mas não
um ateu.
Em sua ascensão meteórica
rumo ao pináculo da política
americana, o candidato democrata Barack Obama teve de
abandonar o passado agnóstico, associando-se a uma das
igrejas mais radicais e politicamente engajadas dos bairros
negros de Chicago, a Trinity
United Church of Christ [Igreja Unida de Cristo Trindade]-
mas só até quando essa radicalidade passou a comprometer
seus planos políticos.
Os EUA são o maior mercado
livre de religiões do mundo.
Durante duas semanas de junho, num percurso que foi do
Meio-Oeste ao Texas, a Folha
visitou as maiores igrejas e personagens não muito católicos,
procurando esboçar um recorte necessariamente incompleto do universo muito diversificado do cristianismo americano, cujo coro promete se fazer
ouvir nas eleições presidenciais de 4 de novembro.
Os EUA são um país 78,4%
cristão. Segundo dados de um
vasto levantamento divulgado
neste ano pelo Fórum Pew [leia
na pág. 7] -projeto que se ocupa de religião e sociedade dentro de um dos institutos de pesquisa mais respeitados do
país-, evangélicos e não-religiosos são os grupos que mais
crescem enquanto os protestantes tradicionais moderados,
muitos deles ligados historicamente ao movimento dos direitos civis, decrescem.
As conseqüências políticas
dessa polarização ainda estão
por ser avaliadas, mas a luta pelo voto evangélico já é uma das
principais preocupações tanto
entre estrategistas democratas
como entre republicanos.
Dividir os evangélicos
Nas últimas duas eleições, religiosos conservadores e fundamentalistas se mobilizaram
contra o aborto e o casamento
homossexual e conseguiram levar às urnas gente que a princípio não votaria, garantindo a vitória a George W. Bush.
Agora, a relativa moderação
do discurso de algumas das
maiores organizações evangélicas norte-americanas, em meio
à recessão econômica, aos resultados da Guerra do Iraque e
à desilusão das gerações mais
jovens com o discurso fundamentalista, abre a possibilidade
de uma nova perspectiva.
Ontem, pela primeira vez
desde o início da campanha,
Obama e o candidato republicano John McCain participaram juntos de um encontro público, organizado pelo pastor
Rick Warren, líder da quarta
maior igreja dos EUA, a Saddleback, na Califórnia -o pastor
esteve recentemente em São
Paulo, divulgando sua igreja e
seu método.
Os votos evangélicos (cerca
de um quarto da população) são
tradicionalmente republicanos, mas Obama quer se aproveitar da insatisfação com o governo Bush e da pouca empatia
entre McCain os religiosos conservadores para -já que não
pode conquistá-los em massa-
ao menos tentar dividi-los.
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