São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2001

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MILLÔR

O diabo da lei da oferta e da procura é quando você procura ninguém oferta e quando oferta o cara sabe que você está na pior..

1) Presta ouvido.
A importância do “Eu te amo” depende sempre do tamanho do EU e do tamanho do te.

2) Todo depiente del cristal com que se mira
Lenin descobriu que o capitalismo inevitavelmete traz a guerra. As pessoas que conseguem sobreviver, descobrem que a guerra, inevitavelmente, traz a paz.

3) Relatividade
E como dizia um baiano pro outro: “Podes crer, meu rei. A inércia pra mim já é uma orgia.”

4) Volta sem ida
Acm pelotica, Maciel genuflexa, Barbalho inescrupula, Aécio funambula, Lampreia escafedeia, Temer centrifuga, Maluf pirapora, Pita, que antes corruptava, agora só fraudula, Sarney já dismorfia, e FhC, como sempre, tergiversa & tergiprosa. & tamosnessa. Todos precatoriam. Impossível tirar qualquer sentido das palavras com que fazem e com que prometem. Impossível não pensar na eternidade daquilo de que Aristóteles acusava os oráculos de Delfos. De usar a “espada délfica”, conceitos de dois gumes (ou vários, em nosso caso), a serem interpretados, posteriormente, como sabedoria dos oráculos. Exemplo:
IBIS REDIBIS NON MORIERIS IN BELLO
Tradução livre: IRÁS VOLTARÁS JAMAIS MORRERÁS NA GUERRA.
Ponham os acentos onde bem entenderem.

5) E como diria o sábio ACM Malvadeza: “E’ nas barbas do idiota que se aprende a escanhoar."

6) Cara$Coroa
A maior parte dos milionários que conheço ganham na perfídia e gastam no ridículo.

7) Esspiando o bode
Noutro dia escrevi body espiatório, brincadeira paronímica(*) com a expressão comum bode expiatório. Gente estranhou. Ora, ora, ou ora pois. Bode expiatório, como quase todo mundo sabe (ou seja, a maior parte da gente ignora) significa a pessoa sobre quem caem todas as culpas. Pra usar outra expressão animal, paga o pato. Bode expiatório vem da tradição judaica. Simplificando; no Dia da Expiação dois bodes eram trazidos ao altar do Tabernáculo e, na solidão total, o mais alto sacerdote sorteava um bode para o Senhor e outro para Azazel. Sobre este, por meio de confissão, eram lançados todos os pecados do Alto Sacerdote e todos os pecados do Povo. O bode do Senhor era sacrificado. O outro, este, era jogado no deserto ou na floresta, pra viver e expiar todos os pecados. Quer dizer, enquanto o bode puro era sacrificado, o bode sobre o qual tinham sido lançados todos os pecados do mundo, escapava, apenas com a responsabilidade de - expiar. Daí caber outra interpretação, mais perto da verdade, ou mais “moderninha” em sua ética. O bode de Azazel não tem nada de expiatório. Pelo contrário, é beneficiário. Não há crime, erro, ou pecado que grude nele. Sempre poderá ser condenado a sofrer em Miami. É um Bode Exultório. Você, por acaso, conhece entre nós alguéns parecido?

(*) Pequena lição prática de jornalismo. É’ presunção, e falta de respeito, partir do pressuposto da ignorância do leitor e começar a escrever “simples”. Mesmo que o leitor não conheça a palavra ou expressão é bom que tenha sua curiosidade despertada. Porém a palavra ou expressão deve ser usada de forma a não impedir o entendimento do texto. Em tempo: paronímia designa palavras ou expressões com som semelhante.
FOLHA 18 FEVEREIRO 2001


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