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A tecnologia social
Leia abaixo o depoimento de um
usuário assíduo da comunicação telemática
Felipe Fonseca
free-lance para a Folha
Os cadernos de informática e demais viciados em novidades
costumam encontrar a cada
meio ano a grande revolução
que vai mudar os rumos da humanidade. A bola da vez parecem ser as chamadas "social networks" (redes sociais), como Orkut (www.orkut.com), Friendster
(www.friendster.com), ICQ Universe
(http://universe.icq.com), Flickr
(www.flickr.com) e afins. São ambientes
que mapeiam a rede de relacionamentos
de seus usuários e permitem a organização de grupos com interesses compartilhados, debates e alguns outros meios de
interação.
Nenhuma dessas características é
grande novidade para quem já utiliza a
internet para interagir com outras pessoas e conhece as listas de discussão, weblogs, comentários e publicações coletivas. Talvez a inovação do chamado software social esteja na interface integrada
de todos esses recursos. Particularmente,
eu considero o software social mais um
passo na evolução do que pode ser chamado de maneira abrangente como tecnologia social, um conceito que vai muito além de dispositivos conectados a redes telemáticas.
Ouvi falar pela primeira vez em tecnologia social da boca de Bráulio Brito,
amigo e professor de semiótica mineiro.
É possível que o uso que eu faço da expressão seja diverso do aceito nos círculos acadêmicos, mas isso não me incomoda muito. O fato é que tenho observado alguns padrões emergentes, em diferentes áreas do conhecimento, o que acaba anulando um pouco o meu fetiche
por informática quando um novo sistema surge.
Sou um usuário assíduo da comunicação telemática. Brinco com a internet
desde 1996; estive envolvido em dezenas
de projetos relacionados à tecnologia da
informação; recebo quase 3.000 e-mails
mensais, sem contar com spam e surtos
viróticos.
Não obstante sinto até raiva quando
vejo iniciativas interessantes serem empacotadas e transformadas em produtos
conceituais proto-revolucionários, com
significado e resultados limitados, tomados sem que se observe todo o contexto.
Como eu a vejo, a tecnologia social
abrange desde um caderno até um telefone celular conectado à internet. Sim,
computadores podem ser um meio para
a tecnologia social, mas essencialmente
ela trata mais de uma maneira de usar
as ferramentas de comunicação, e isso
envolve colaboração, construção e validação coletivas de conhecimento, quebra de hierarquias, descentralização e o
caráter emergente das tomadas de decisão. Nos últimos dois anos, tenho realizado uma série de experiências relacionadas a ações em rede e com parceiros
como Hernani Dimantas, Dalton Martins e Daniel Pádua, tenho desenvolvido
maneiras de abordar a produção colaborativa não na internet, mas por meio
da internet e outros meios.
Essa vivência trouxe uma perspectiva
que alinha diferentes exemplos de tecnologia social, a saber:
mídia alternativa - de weblogs e publicações coletivas às rádios comunitárias,
jornais de pequenas entidades informais
ou aos fanzines que acompanham as cenas culturais independentes;
comunicação em rede - da internet e
suas fantásticas ferramentas de mobilização coletiva até a velocidade com que
os camelôs descobrem que a fiscalização
está na rua;
colaboração - do software livre ao, como
apontou André Passamani, mutirão para a construção do puxadinho -mais
água no feijão, pagode e generosidade.
Em suma, as redes sociais são, sim, interessantes. Vale a pena participar. Eu
tenho retomado o contato com pessoas
que não via fazia muito tempo, tenho
encontrado opiniões interessantes sobre
assuntos que me dizem respeito e venho
também tendo a oportunidade de conhecer novas pessoas, baseado nas afinidades que se tem a oportunidade de expor em tais sistemas. Mas que não se esqueça que esse é só mais um passo de um
processo que já vem acontecendo há algum tempo, inserido em um contexto de
descentralização e da retomada do aspecto "social" da comunicação depois de
um século inteiro de mídia de massa.
A íntegra desse artigo pode ser lida em
http://felipe.hipercortex.com
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