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1. Pressão de boas-vindas
O suor pingava do meu rosto
e escorria por baixo da camiseta branca e pelas pernas, sob as
calças jeans e o forte sol da zona
oeste do Rio. Fazia 33º C às
10h45 de 3 de janeiro, verão carioca. A partir daquele dia, era
tecnicamente PM. Ficar de pé e
em forma militar, desde as
7h30, nas posições de "sentido"
e "descansar", era o primeiro
teste para 450 -mais nove se
juntariam ao grupo- dos mais
bem colocados entre 25 mil
candidatos do concurso da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Eu e os outros aprovados
após sete meses de seleção, todos com até 30 anos e cabelos
cortados à máquina, já estávamos ali havia mais de duas horas. Continuaríamos em forma
ou correndo até as 14h30, sem
alimentação e com breves intervalos para beber água: sete
horas debaixo de sol, de calças
jeans, camiseta e tênis.
Às 8h15, um candidato balbucia que está passando mal.
Está cinza e cambaleia.
A imobilidade militar pode
causar tontura, por falta de circulação do sangue. O "bizu" (dica) é mexer só os dedos dos pés.
Chamo o cabo, e o rapaz vai ao
departamento médico. "Só se
mexe se for cair", repetiria o tenente comandante da 2ª Companhia, onde todos passarão
seis meses de treinamento e
dois meses de estágio para serem PMs "prontos".
Um caiu, desmaiado, e outro
passou mal duas vezes no campo de futebol do Centro de Formação e Aperfeiçoamento de
Praças, em Sulacap.
Às 10h30 fico enjoado. A tontura e a náusea aumentam, dá
vontade de vomitar. Levanto o
braço e saio de forma, amparado por um PM até o pelotão.
Molho a fronte, empurram minha cabeça para baixo enquanto a forço para cima, como fazem jogadores de futebol.
Melhoro em minutos, sentado, ao lado de dois recrutas na
mesma situação.
Abnegação
Após perguntar se já estou
recuperado "mesmo", um aspirante a oficial me autoriza a
voltar à forma -e ao sol. Quase
cem passaram mal. "Não gostou? É fraco? Pede para ir embora! Ninguém está aqui obrigado", repetem os instrutores,
ao estilo "Tropa de Elite".
A companhia é um pátio de
100 metros por 30 metros, cercado por uma construção em U.
Cada perna do U tem quatro
pelotões (cerca de 60 recrutas
cada), casas com sala de aula,
banheiro e armários. Na base
do U, ficam a sede administrativa e alojamentos.
Os primeiros dias são de
adaptação e pressão, para ver
quem realmente quer ficar.
"Precisa ter abnegação. Não
tem Carnaval, Réveillon. Não é
para todos", diz o tenente comandante da companhia.
"Para vocês que vieram das
Forças Armadas: aqui não tem
tiro em melancia, não! Aqui o
combate é real! Acabou tiro em
melancia!", grita um oficial.
Um tenente perguntou, aos
berros, a um ex-integrante das
Forças Especiais do Exército:
"Tu é baiano? Tu é baiano? Então por que está com a mão na
cintura?". Alguns se contagiam.
"Quero ser mau, aprender a ser
mau. O que sei da PM é subir
morro e quebrar vagabundo",
disse um aluno, ex-militar.
Às 19h35 do primeiro dia,
cheguei em casa queimado de
sol e cansado, com idéia da rotina que enfrentaria 30 dias e,
meus colegas, oito meses.
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