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2. Escondendo a farda
Oficialmente, o horário é de
8h às 16h50, entre aulas teóricas e treinos; na prática, é de 7h
às 18h, 18h30. Nenhum dia saí
às 16h50. Sexta-feira é meio expediente, e quem não está de
serviço na limpeza ou guarda é
liberado às 12h (teoricamente),
para reduzir despesas.
A rotina é dura. Acordava às
5h30 e saía de casa, no Leblon
(zona sul), às 6h, barba feita e
cabelo cortado. Chegava às
19h30, exausto e sem disposição para nada, a não ser comer
e dormir. Não há tempo para
resolver problemas. "Programem tudo para sexta."
Paranóia
Submetido à disciplina militar, sonho diariamente com
marchas e canções. Descobri
que não era o único. "É lavagem
cerebral", diz um ex-marinheiro. Passamos o tempo todo em
forma -para chamadas, ir embora, cantar músicas ou instrução no pátio-, marchando, "vibrando" ou correndo, em deslocamentos. A exceção é para ir
e voltar do rancho (refeitório).
Os pelotões têm vidas autônomas e raramente se misturam. Ao chegarem marchando
e cantando ao rancho, os oito
pelotões são dispostos no pátio.
Em dias de sol, esperamos,
desabrigados, os colegas terminarem; dependendo da chuva,
podemos ficar sob as marquises. "Está achando ruim, pede
para sair! Aqui não é para todos. Não gostou, pega a mochila
e vai embora", dizia o tenente.
Ao fim do primeiro dia de
treinamento, fora do quartel,
um rapaz me chama. "Vou dar
um "bizu" [dica]: não sai de camisa branca e calça jeans, cabelo reco. Saem todos assim. Traz
outra blusa. Já morreram dois
ou três. Na minha turma
(2005) foi um. Recruta é "duro",
um monte no ônibus, cabelo
raspado, é "uniforme", polícia."
A paranóia é grande. Colegas
de carona -quatro "recos" no
carro- vêem em cada motoqueiro com garupa um potencial assaltante. "Acelera! Não
dá mole!" Dos 151 policiais
mortos em 2007, só 32 estavam
em serviço; 119 (79%) morreram na folga, em assaltos, homicídios ou brigas.
Quando o uniforme de PM
foi distribuído, diante da excitação da tropa, um oficial alertou: "Vejo um monte de coturnos. Qual é a necessidade de levar para casa? Vão ficar engraxando no fim de semana? Têm
paixão pelo coturno? É risco
desnecessário! Com o "boot"
ainda dá para dizer: "Sou reservista do Exército". Mas a farda,
não tem jeito. Sou totalmente
contrário, é perigoso. Para que
levar no ônibus? Todo mundo é
do Rio, não preciso explicar
muito, né? Não tem mistério.
Não levem a farda para casa!".
"Ônibus é sinistro"
Apesar do aviso, a maioria levou, para tirar fotos e mostrar à
família e à namorada. A questão é como esconder a farda e a
carteira policial. No carro, pôr
no porta-malas, ao avesso, dentro da mochila, ou sob o banco
traseiro. No ônibus, "rezar
muito". "A carteira de PM, esconde na identidade. Se "babou", joga pela janela do ônibus.
Mochila, roupa, carteira... pela
janela. Me assaltaram e graças a
Deus tinha esquecido a arma."
Outro instrutor sugere ter
carro: "Não andem a pé ou de
ônibus, é risco grande. Ônibus é
sinistro! Bota o nome na oração, mãe-de-santo, mesa branca, pede a Deus para proteger."
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