São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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7. Aula de ética

Polícia que mais mata no Brasil, freqüentemente acusada de abuso de violência e corrupção, a PM do Rio só oferece 12 horas de "Ética e Direitos Humanos" na formação básica.
A cadeira ocupa 1% das 1.160 horas de instrução, embora seja uma das 20 matérias avaliadas com prova. "São 12 horas: é pouco. E vocês sentirão falta, porque é a única aula em que podem falar", reconhece o professor, civil. No primeiro dia, debate-se "a ética no país" e as instituições. "Ainda estou verificando qual será o conteúdo."
O instrutor ensina: "Se alguém vier alegar que é representante dos direitos humanos, o PM pode se colocar também como profissional dos direitos humanos."
Em outra aula, diz que "não posso cobrar do PM ética e moral se sou o primeiro a oferecer R$ 10 quando sou parado." Diz que os políticos mudam leis para se favorecerem e questiona quem defende a descriminalização da maconha. "É porque "meu filho não pode ser preso"."

Fim do mundo
Em outra aula, propõe um exercício: o mundo acabará e é preciso escolher três pessoas que ficarão em um abrigo por 20 anos, para perpetuar a humanidade, entre as seguintes: uma menina de 14 anos; uma prostituta de 18; um cadeirante de 19; uma homossexual de 17; uma religiosa extremista de 18; um soropositivo, também de 18; um PM de 22, condenado por estupro; um homem de 60; um traficante e usuário de 18; um ditador e genocida de 19.
Todos escolheram a menina, em idade reprodutiva e com "poucos vícios"; muitos optaram pelo PM; pelo homem de 60, por "ter experiência" e "sabedoria"; outros elegeram a religiosa, de "valores"; o traficante teve votação, crença na regeneração; poucos escolheram o cadeirante e nenhum grupo incluiu o genocida, embora um aluno o tenha defendido para "organizar".
Ninguém quis o soropositivo. A prostituta foi selecionada para "divertir" os homens e "reproduzir".


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