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8. Imagem negativa
Na primeira semana, recrutas saíam do quartel quando
uma jovem no carro gritou:
"Seus vermes! Vermes!".
Regida pelo lema "servir e
proteger", a PM tem relação
tensa com a sociedade. Há latente rancor por parte dos policiais, que julgam não ter o reconhecimento daqueles por
quem se arriscam. "A população é mal-educada. Vocês colaborarão para a rejeição cair. É
um câncer, que não mudaremos. A sociedade descasca a
PM. Wagner Montes [apresentador de programa na TV Record do Rio] descasca bandido.
Bandido dá tiro pra caramba.
Mas quem matou? A PM! Só
Wagner Montes defende a
PM", lamenta um sargento.
Um aspirante critica. "O
playboy é parado e a primeira
coisa que faz é: "Quanto é o café
[propina]?" Dá R$ 10 e, quando
vai embora, xinga o PM: "Safado, corrupto!" E ele? A sociedade tem a polícia que merece?
Tem. A mídia só dá porrada,
mas esta é uma boa casa."
Há inquietação com a imagem negativa, e o inconformismo reforça o corporativismo.
"O código 800 [auxílio a policial, prioridade] é o mais importante. Tem a velhinha assaltada e o 800; esquece a velha e
socorre o PM. Primeiro o colega. Ninguém gosta de vocês, só
seu cachorro. A cidade vai odiar
vocês: o porteiro dá café, a mulher dá lanche, mas todo mundo te odeia, só dá porque está de
farda." Outro aspirante resume. "Hoje, tudo o que o PM faz
incorre em erro, mesmo quando não é."
Um sargento ataca. "A sociedade quer paz social? Faz blitz,
pega o filho do juiz com droga...
Entra na favela, mata 15 bandidos e uma velhinha. Aí fazem
passeata pela velha."
Um instrutor diz que o PM
que a sociedade quer não fuma,
não bebe e não pega dinheiro.
"Esse PM de cordão de ouro,
pochete [com arma], acabou, ficou no tempo. Na última turma, morreu um aluno, vindo
para cá, de pochete, com uma
saraivada de tiros. Não quero
ninguém morto na minha companhia. É horrível." Em fevereiro, um aspirante foi assassinado ao sair do quartel.
Ao assumir o comando do
Centro de Formação, o coronel
Ivan Muniz tinha como meta
recuperar a imagem da corporação -"mudar o rosto da PM",
em suas palavras.
"Muitos querem pisar este
solo sagrado. Alguns terão a
honra e a glória de ser PMs, heróis sociais, na luta, enquanto
outros se omitem. Se não houvesse sacrifício, não haveria heroísmo, heróis sociais. Não tenho dúvida de que aqui há heróis sociais, que os senhores farão diferença e darão um novo
rosto à PM", disse.
Sereno e cordial, ia diariamente ao rancho. "Boa tarde!
Está boa a comida?", perguntava. Em 30 de janeiro passado,
no auge de crise da PM no Rio, o
coronel Muniz entregou o cargo, com mais de 40 comandantes da corporação, em protesto
contra os salários e a exoneração do comandante-geral Ubiratan Ângelo.
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