São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Sprint final

Em meio a pistas esburacadas, saltos, corridas e flexões surtem efeito e mostram evolução física do repórter

DA REDAÇÃO

A rotina de ordem-unida e exercícios faz efeito, mostraram avaliações físicas feitas com intervalo de 22 dias. Embora resultados sejam mais precisos após três meses, evoluí em quase todos os quesitos.
Meu percentual de gordura caiu de 21,5% para 17%; perdi 4,4 kg de gordura e ganhei 3 kg de músculos; diminuí 16 cm na soma de 12 medidas, sendo 4 cm no abdome e 2,5 cm no tórax. Os 700 g a mais foram em peso magro, explicou Tércio de Faria Martin, responsável pela avaliação.
Passei de 28 para 40 flexões, elevando a resistência muscular de "regular" para "boa" -excelente, só 45. A força abdominal se manteve no grau máximo, e a flexibilidade evoluiu de "média" para "grande".
Na primeira aula de educação física, fizemos alongamentos, cem polichinelos, 30 flexões e 90 abdominais antes de correr 35 minutos -de 4 km a 5 km. Foi a primeira vez em que corri tanto tempo na vida e cansei, mas completei.
O tenente instrutor, ex-fuzileiro naval, ganhou apelido de He-Man, pelo abdome definido como o do personagem.
As corridas aumentaram para 40 minutos. Aquele que parava sem motivo de contusão era "anotado", para eventual punição.
Uma vez, o comandante do Corpo de Alunos do centro, um jovem major, juntou-se à tropa.
"Não corro isso há cinco anos." Pediu a um ex-militar para não puxar canções do Exército -com alusão a morte e destruição-, só da polícia. "Sem ressentimentos, mas não é conveniente."
Começáramos a entrar em forma para a prova física, no concurso. "Bem-vindos! Vamos comemorar a aprovação com flexões." Tinha sido preciso superar idiossincrasias, a pista esburacada e a agressividade da vira-lata Pretinha.
O sargento prometera "esculachar" quem não fizesse duas barras e deu dica para correr 100 metros em 16 segundos. "Pensa que a mulher está te chifrando lá."
Suspensos na barra, braços esticados, são duas repetições, sem impulso, na primeira prova. Parece fácil, mas muitos reprovados ficam nessa fase.
Treinara uma vez, na véspera, e conseguira. Na hora, porém, diante de três PMs, fiquei tenso e fiz a segunda esticando o pescoço. "Aprovado!"
Vêm as 15 flexões, "cotovelos colados ao corpo", muitas vezes ignoradas. "Faz direito, cotovelo junto ao corpo! 12, 12, 12..." Um aluno desistiu após 23 flexões -refez todos os exercícios, 20 dias depois. "Pô, sargento!" "Candidato, não conteste!" Fiz 21 flexões para ser aprovado.
A concentração é difícil com Pretinha avançando nos candidatos durante flexões. "Cachorro maluco!"
O salto em altura foi drama dos baixinhos e incógnita para a maioria. O 1,10 metro parecia mais alto que imaginávamos, mas, com alguma coordenação, eu e a maioria passamos de primeira. Torcíamos pelo sucesso alheio. "Sem vibração!", reclamavam os PMs.
Alguns ficam até a terceira tentativa. Ruço derrubou o sarrafo duas vezes. "Porra, caralho!", vibra, ao passar na terceira, aplaudido. "Tá maluco? Palavrão?", repreende o major.
"Desculpe...", respondeu. "Não tem desculpa, não!" Sem saber o que fazer, prestou continência. "Tu é [sic] militar pra prestar continência? Pára com essa porra!"

"Se vira!"
Um rapaz balbucia algo. "O problema é seu! Se vira!" Salta o sarrafo, na terceira vez, pés juntos, mas o sargento grita, quase satisfeito: "Reprovado! Na terceira tentativa! Tá de sacanagem!"
As etapas finais eram 100 metros em 16 segundos e 2 km em 12 minutos, minha preocupação. Treinara quatro vezes e conseguira. Fiz os 100 metros em 13s80, mas forcei e senti as pernas pesadas. Descansei menos de cinco minutos antes dos 2 km. Aí foi um sofrimento.
Corremos em forma, em meio a um vendaval. O voluntário para liderar o grupo fez a primeira volta de 400 metros em 1min45s, em vez de 2min15s, como sugerido. Foi demais para meu precário preparo físico: fiquei para trás e achei que não completaria a tempo. Caminhei duas vezes para retomar fôlego rumo ao "sprint" final.
Fui o penúltimo a terminar, aliviado, logo atrás de cinco outros, em 11min29s, a 31 segundos do limite. Por último, chegou um professor de matemática, em 11min58s. A ambulância e os paramédicos não foram acionados.
Suados e cansados após os exercícios, só 20 tomaram banho: a água do único e malcheiroso banheiro acabou. Estirados no chão, esperando mais uma burocracia, alguns cochilavam. O major acorda um:
"Monstro, tá babando!". Para um barbudo, pergunta: "Quantos anos você tem? 28? Parece 40!". Passa por rapaz com cabelo curto e topete. "Fala, alça de boquete!" "Esse major é maluco. Veja o olhar dele, sinistro, cara de maluco. Falou que já ficou no "psicodoido"." (RG)

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www.folha.com.br/081351


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