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Sprint final
Em meio a pistas esburacadas, saltos, corridas e flexões surtem efeito
e mostram evolução física do repórter
DA REDAÇÃO
A rotina de ordem-unida e exercícios
faz efeito, mostraram avaliações físicas feitas com intervalo de 22 dias. Embora resultados sejam mais precisos após três meses, evoluí em quase todos os quesitos.
Meu percentual de gordura
caiu de 21,5% para 17%; perdi
4,4 kg de gordura e ganhei 3 kg
de músculos; diminuí 16 cm na
soma de 12 medidas, sendo 4
cm no abdome e 2,5 cm no tórax. Os 700 g a mais foram em
peso magro, explicou Tércio de
Faria Martin, responsável pela
avaliação.
Passei de 28 para 40 flexões,
elevando a resistência muscular de "regular" para "boa"
-excelente, só 45. A força abdominal se manteve no grau
máximo, e a flexibilidade evoluiu de "média" para "grande".
Na primeira aula de educação física, fizemos alongamentos, cem polichinelos, 30 flexões e 90 abdominais antes de correr 35 minutos -de 4 km a
5 km. Foi a primeira vez em
que corri tanto tempo na vida e
cansei, mas completei.
O tenente instrutor, ex-fuzileiro naval, ganhou apelido de
He-Man, pelo abdome definido
como o do personagem.
As corridas aumentaram para 40 minutos. Aquele que parava sem motivo de contusão
era "anotado", para eventual
punição.
Uma vez, o comandante do
Corpo de Alunos do centro, um
jovem major, juntou-se à tropa.
"Não corro isso há cinco
anos." Pediu a um ex-militar
para não puxar canções do
Exército -com alusão a morte
e destruição-, só da polícia.
"Sem ressentimentos, mas não
é conveniente."
Começáramos a entrar em
forma para a prova física, no
concurso. "Bem-vindos! Vamos comemorar a aprovação
com flexões." Tinha sido preciso superar idiossincrasias, a
pista esburacada e a agressividade da vira-lata Pretinha.
O sargento prometera "esculachar" quem não fizesse duas
barras e deu dica para correr
100 metros em 16 segundos.
"Pensa que a mulher está te
chifrando lá."
Suspensos na barra, braços
esticados, são duas repetições,
sem impulso, na primeira prova. Parece fácil, mas muitos reprovados ficam nessa fase.
Treinara uma vez, na véspera, e
conseguira. Na hora, porém,
diante de três PMs, fiquei tenso
e fiz a segunda esticando o pescoço. "Aprovado!"
Vêm as 15 flexões, "cotovelos
colados ao corpo", muitas vezes ignoradas. "Faz direito, cotovelo junto ao corpo! 12, 12,
12..." Um aluno desistiu após
23 flexões -refez todos os
exercícios, 20 dias depois. "Pô,
sargento!" "Candidato, não
conteste!" Fiz 21 flexões para
ser aprovado.
A concentração é difícil com
Pretinha avançando nos candidatos durante flexões. "Cachorro maluco!"
O salto em altura foi drama
dos baixinhos e incógnita para
a maioria. O 1,10 metro parecia
mais alto que imaginávamos,
mas, com alguma coordenação,
eu e a maioria passamos de primeira. Torcíamos pelo sucesso
alheio. "Sem vibração!", reclamavam os PMs.
Alguns ficam até a terceira
tentativa. Ruço derrubou o sarrafo duas vezes. "Porra, caralho!", vibra, ao passar na terceira, aplaudido. "Tá maluco? Palavrão?", repreende o major.
"Desculpe...", respondeu. "Não
tem desculpa, não!"
Sem saber o que fazer, prestou continência. "Tu é [sic] militar pra prestar continência?
Pára com essa porra!"
"Se vira!"
Um rapaz balbucia algo. "O
problema é seu! Se vira!"
Salta o sarrafo, na terceira
vez, pés juntos, mas o sargento
grita, quase satisfeito: "Reprovado! Na terceira tentativa! Tá
de sacanagem!"
As etapas finais eram 100
metros em 16 segundos e 2 km
em 12 minutos, minha preocupação. Treinara quatro vezes e
conseguira. Fiz os 100 metros
em 13s80, mas forcei e senti as
pernas pesadas. Descansei menos de cinco minutos antes dos
2 km. Aí foi um sofrimento.
Corremos em forma, em
meio a um vendaval. O voluntário para liderar o grupo fez a
primeira volta de 400 metros
em 1min45s, em vez de
2min15s, como sugerido. Foi
demais para meu precário preparo físico: fiquei para trás e
achei que não completaria a
tempo. Caminhei duas vezes
para retomar fôlego rumo ao
"sprint" final.
Fui o penúltimo a terminar,
aliviado, logo atrás de cinco outros, em 11min29s, a 31 segundos do limite. Por último, chegou um professor de matemática, em 11min58s. A ambulância
e os paramédicos não foram
acionados.
Suados e cansados após os
exercícios, só 20 tomaram banho: a água do único e malcheiroso banheiro acabou. Estirados no chão, esperando mais uma burocracia, alguns cochilavam. O major acorda um:
"Monstro, tá babando!". Para
um barbudo, pergunta: "Quantos anos você tem? 28? Parece
40!". Passa por rapaz com cabelo curto e topete. "Fala, alça de
boquete!" "Esse major é maluco. Veja o olhar dele, sinistro,
cara de maluco. Falou que já ficou no "psicodoido"."
(RG)
NA INTERNET - Leia mais sobre a
formação de policiais no RJ em
www.folha.com.br/081351
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