UOL


São Paulo, domingo, 19 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dicionário faz amplo levantamento dos instrumentos de percussão, como "tambor", "buzina de automóvel" e "atabaque", e seu uso por compositores como Villa -Lobos

A batida rítmica primordial

Sidney Molina
especial para a Folha

Em inglês, "beat" ou "stroke"; em francês, "coup" ou "battement"; "Schlag", em alemão, "colpo" ou "percussione", em italiano; "golpe", em espanhol. Em russo, os instrumentos de percussão são denominados "udárnye instruménty"; em banto, "xincarigomes"; na Índia, "bitut".
Resultado de seis anos de pesquisa e mais de 20 anos de experiência musical, o "Dicionário de Percussão", de Mário D. Frungillo -percussionista e professor do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista-, busca, antes de tudo, padronizar a terminologia numa área em que reinam "centenas de instrumentos, milhares de composições e manifestações populares, inúmeras técnicas expressivas e de execução".
Se no século 18 a maioria dos instrumentos de cordas já havia atingido seu apogeu e se no século 19 os sopros ganharam seu formato atual, foi apenas nos últimos cem anos que o naipe de percussão se desenvolveu plenamente. A percussão é o grande signo -ou "sino"- da música do século 20: além de enriquecê-la com ritmos e instrumentos latino-americanos, africanos e orientais, ela estimulou a incorporação da emancipação do ruído e da independência do timbre nas poéticas contemporâneas.
Os verbetes sobre os instrumentos ocupam a maior parte do livro e trazem definições claras -incluindo dimensões e descrição de materiais- ao lado de uma precisa classificação baseada nos estudos organológicos clássicos de Sachs e Schaeffner: afinal, o termo percussão não designa apenas os instrumentos "batidos", mas, por extensão, também os "entrechocados, sacudidos, friccionados, raspados e pinçados".
Um índice de compositores facilita a consulta a cerca de 150 exemplos de utilização dos instrumentos em peças do repertório erudito ocidental; assim, localizamos a "buzina de automóvel" em Gershwin e o "caracaxá" -reco-reco dos índios do Pará- no "Choro nš 8" de Villa-Lobos. O "Dicionário" também traz cinco cadernos de ilustrações com imagens de instrumentos de diversas épocas e culturas.
A obra não se pretende enciclopédica e, portanto, não se propõe a dissertar demoradamente sobre gêneros, ritmos e escrita musical nem a abordar autores, intérpretes e gravações; mas, apesar disso, em muitos momentos acrescenta importantes informações de caráter histórico e cultural, sobretudo em verbetes centrais, como "atabaque", "prato", "sino", "tambor". Em uma área tão carente de publicações, o livro de Mário D. Frungillo já nasce como obra de referência. Ainda mais: como alternativa a uma certa trivialização do "beat", nada melhor do que oferecer um "dicionário" de alternativas e possibilidades.


Sidney Molina é instrumentista do quarteto de violões Quaternaglia e professor de violão e estética musical na UniFiam/Faam (SP) e Fundação Carlos Gomes, em Belém (PA). É autor de "Mahler em Schoenberg" (ed. Rondó).


Dicionário de Percussão
430 págs., R$ 68,00
de Mário D. Frungillo. Imprensa Oficial do Estado de SP/Ed. Unesp (praça da Sé, 108, CEP 01001-900, SP, tel. 0/xx/11/ 3242-7171).


Texto Anterior: + livros: Terras e conflitos à vista
Próximo Texto: Música é tema de outras obras
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.