São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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Ponto de fuga

Pão de queijo

JORGE COLI
COLUNISTA DA FOLHA

Juiz de Fora (pronúncia local: jijzdifor, a última sílaba como na palavra inglesa "for") se parece com várias cidades brasileiras.
Um centro no qual as casas antigas foram substituídas por predinhos mais ou menos bobocas. Alguns bairros mais bem preservados. Tranqüilidade, segurança.
Há ali, porém, um "clima" de cultura bem inesperado. Ele não é imposto por projeto intencional ou voluntarista. Brota de várias instituições e atividades, públicas e privadas, paralelas ou entrelaçadas. Há o Festival de Música Barroca, com concertos em todos os lugares e com uma academia para jovens instrumentistas, impressionante de ver. É privado.
Sua sede mantém uma boa sala de exposições para arte contemporânea.


Juiz de Fora (pronúncia local: jijzdifor, a última sílaba como na palavra inglesa "for") se parece com várias cidades brasileiras, mas há ali um "clima" de cultura bem inesperado, que não é imposto por projeto intencional ou voluntarista


Há o Centro Cultural Bernardo Marcarenhas, que é da prefeitura, num prédio lindo, grandão, antiga fábrica, cheio de exposições e ateliês.
Há o Museu Murilo Mendes, com acervo fenomenal de arte moderna (Picasso, Vieira da Silva, Magnelli), laboratórios de preservação e restauro como não se vêem em nenhum outro do país. Há o Cine-Theatro Central, belo auditório, amplíssimo. Ambos sob a tutela da Universidade Federal.
Há a Galeria das Janelas Verdes, privada, que investe de maneira inteligente e substancial na arte contemporânea.
Formidável trunfo cultural por sua origem e concepção inéditas, por seu acervo decisivo para a história das artes no Brasil e pelo grande interesse da coleção internacional, o Museu Mariano Procópio pertence ao município.
Andou ruim das pernas nos últimos tempos. Parece estar se recuperando: é um dos fundamentais museus brasileiros.

Luzeiro
Vários artistas contemporâneos vivem em Juiz de Fora. Não fazem, felizmente, arte "local", no sentido provinciano, destinada a satisfazer coceiras chauvinistas. César Brandão é um deles. Suas obsessões o conduzem a uma alta e rigorosa coerência poética. Explora-as a fundo. Ama o alumínio, os arames acidentados, a cera, o chumbo, os barbantes. Amarra, une, de maneira curiosa e livre. Tem fascínio pelas matérias que se moldam, que se derretem, que se reconstituem em formas da natureza ou do acaso. Agnaldo Farias escreveu que Brandão faz retornar o metal à paisagem, "paisagem de onde retiramos o minério bruto com o qual a forjamos". Minério. Mineiro?

Obturador
Há dois domingos, apareceu nesta coluna alusão a um escritor que foi também fotógrafo, sem menção a seu nome. Alguns leitores ficaram curiosos. Trata-se de Claude Simon, francês, nascido em 1913, Prêmio Nobel de 1985, morto em 2005. Considerava o primeiro resultado fotográfico apenas como material de base, rascunho a ser retrabalhado, reenquadrado, refeito muitas vezes.

Espinho
Outros leitores se manifestaram sobre a dualidade da fotografia "pura" (aquela que nasce apenas do clique do fotógrafo) e sobre a fotografia retocada. As opiniões divergiram, em favor de uma ou de outra. Pura ou retocada: são regras do jogo que o artista impõe a si mesmo. Elas atuam nas configurações dos resultados, mas não em sua qualidade. Ambas, de modos diferentes, podem ser expressivas. Leitora bem simpática propõe que as imagens modificadas ou mesmo produzidas no computador não sejam chamadas de fotografia.
"O que é um nome? Aquilo que chamamos de rosa, com outro nome, teria ainda o mesmo perfume suave." Quem escreveu foi Shakespeare, em "Romeu e Julieta".

jorgecoli@uol.com.br


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