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Eu é um outro
Usuários têm hoje olhar
mais cínico em relação às redes sociais, diz editora de tecnologia
do "Wall Street Journal"
DA REDAÇÃO
Para Julia Angwin,
editora de tecnologia
no "Wall Street Journal", as redes sociais
não são apenas a
principal frente de um novo
modelo econômico.
Os aplicativos que acompanham o Twitter e levam novos
públicos aos jogos no Facebook, a integração de contas
por meio de mecanismos como
Google Buzz e Facebook Connect e o fato de as redes não serem suficientemente valorizadas por anunciantes são motivos de preocupação e devem
moldar o futuro nos âmbitos
cultural, social e legal.
Angwin tem acompanhado o
tema desde 2007, quando começou a investigar a história
do MySpace, site de relacionamento adotado por músicos de
diversos estilos, por sua facilidade de divulgação, e comprado pela News Corporation, em
2005, por US$ 580 milhões.
Seu fracasso parece ter ocorrido por acaso. É a impressão
deixada pelo título de seu livro,
"Stealing MySpace - The Battle
to Control the Most Popular
Website in America" (Roubando o MySpace - A Batalha para
Controlar o Site Mais Popular
dos EUA, ed. Random House),
cujo subtítulo só ficou atual
por um mês.
Depois de lançá-lo em março
do ano passado, a autora viu em
abril o MySpace ser desbancado, em número de visitas, pelo
Facebook.
Mas o livro contém informações que ajudam a explicar o
declínio do site, que continua a
perder posições na audiência
da web: sua origem menos profissional do que a concorrência.
Em entrevista à Folha, Angwin lamenta que, junto com o
MySpace, esteja caindo o estandarte do relacionamento
virtual anônimo, que garante
maior privacidade e liberdade
de expressão.
(EGN)
FOLHA - Por que o MySpace perdeu
a liderança?
JULIA ANGWIN - Eles foram lentos para reagir tecnologicamente, se atualizar. Não perceberam a tempo que precisavam
acrescentar novas atrações,
que as outras redes eram ameaças. Sofreram um pouco com a
fadiga das pessoas, a tendência
para migrar para as novidades,
é verdade, mas não fizeram o
bastante para mantê-las.
Nessa área, se você não inova,
fica para trás: as páginas demoram para carregar, o software é
velho...
FOLHA - Como a sra. descreveria
seus criadores, Chris DeWolfe e Tom
Anderson?
ANGWIN - Criaturas típicas de
Los Angeles. Diferentemente
dos engenheiros do Google ou
do Yahoo!, são pessoas "espertas", mais do que tecnologicamente interessadas, são gênios
do marketing, mas de um nível
um pouco baixo de marketing.
Fizeram um marketing sujo
no início, para conseguir tocar
as coisas. Distribuíram "spyware" [programas que roubam informações do computador do
usuário], fizeram spam.
FOLHA - Ben Mezrich lançou "Os
Bilionários Acidentais", sobre o Facebook. Não acha que o sucesso
MySpace é mais apropriadamente
"acidental"?
ANGWIN - Muito mais acidental. Os criadores do MySpace
foram realmente heróis improváveis. Os criadores do Facebook eram estudantes de Harvard, gente bem preparada e interessada, que às vezes larga tudo para começar algo novo -a
velha história de Bill Gates e
Steve Jobs.
FOLHA - A sra. teve o azar de ter o
subtítulo do livro desatualizado logo após o lançamento...
ANGWIN - Foi muito azar! Foi
verdade por mais de um ano e,
um mês depois de lançado, não
era mais.
FOLHA - ...E agora, enquanto vê as
redes sociais lutarem pelo público,
consegue predizer quem tomará o
lugar do Facebook?
ANGWIN - Não dá para adivinhar, mas, como os usuários estão mais amadurecidos com as
redes sociais, suponho que se
irritem com o fato de o Facebook fazer mudanças a toda hora. Não há mais a euforia, as
pessoas estão ficando mais cínicas quanto às redes, querem
exigir responsabilidade dessas
empresas.
Portanto o maior interesse
pode ser em ter controle sobre
seu perfil, sua privacidade, as
possibilidades de montar sua
interface.
Gosto do modelo do Ning.
Você monta sua própria rede
social com suas regras e sem ser
encontrado se não quiser. Líderes iraquianos estão usando esse tipo de rede para compartilhar histórias e traumas, sem
usar um espaço público.
A ideia de fazer isso em sites
onde as pessoas já estão, como
o Google faz no Gmail, é boa;
mas não estou nada contente
com o Google quanto à questão
da privacidade.
FOLHA - As diferentes redes usam
mecânicas diferentes. Acha que a
tendência é uma homogeneização,
quando surgir uma fórmula vitoriosa, mais ou menos como ocorreu
com serviços de e-mail grátis?
ANGWIN - Parece que teremos
as plataformas de massa, como
Facebook, onde todos estão
justamente porque todo mundo já está lá.
Mas também haverá nichos
para participar daquilo que você não quer compartilhar, para
controlar melhor a conversa,
ter uma relação mais íntima.
FOLHA - Mais usuários sempre
quer dizer mais dinheiro?
ANGWIN - Esse é um ponto importante: há uma subvalorização desses sites. Eles ganham
dinheiro, mas certamente não
o que se espera de quem tem
milhões de espectadores. Essas
redes ganham menos do que
poderiam com anúncios.
Enquanto isso, os sites ficam
um pouco dependentes de um
mercado sujo para viver.
Por
exemplo o Twitter ter de vender dados para o Google e o
Bing. Os usuários do Facebook
geralmente não têm conhecimento de quanto de seus dados
são disponibilizados.
FOLHA - Esses sites são o centro do
que parece ser um novo modelo de
negócio, baseado em transações
mais frequentes, de valores baixos,
do mercado de aplicativos -especialmente jogos. O Facebook tomou
a dianteira nisso também?
ANGWIN - Sim. É verdade que o
Twitter também tem uma plataforma boa para aplicativos
-mas não são jogos, e sim programas para a visualização de
informações. Os jogos são os
mais populares aplicativos desse novo mercado.
FOLHA - Mas isso não pode ser
ruim para o Facebook? Pois jogos
têm mais apelo entre jovens, o público-alvo do MySpace, enquanto as
informações de joguinhos enchem a
página do Facebook e atrapalham
seu design, célebre pela "limpeza"...
ANGWIN - Pode ser irritante o
fato de o Facebook mudar a toda hora o funcionamento de
seus recursos, agora receber informações sobre os jogos de outras pessoas, mas ele deve corrigir isso.
A questão principal é quais
jogos são mais divertidos. A novidade poderia favorecer o
MySpace, porque tem o público
mais adequado, mas os programadores bacanas não estão por
lá: sua tecnologia é desatualizada e ocorre uma deserção maciça -perderam 1 milhão de
usuários em um mês.
Logo, as empresas não veem
razão para investir nele.
FOLHA - No ano passado, a sra.
aventou a possibilidade de o Twitter
ser o novo "carrão" do pedaço. Ele é?
ANGWIN - O Twitter tem seus
problemas, ele e o Facebook experimentam suas "dores de
crescimento" e crise de identidade, uma falta de clareza sobre
onde querem estar.
Muito disso vem da falta de
condições de fazer dinheiro. O
Facebook prevê lucros neste
ano, mas não tanto quanto se
esperaria de alguém com mais
de 300 milhões de usuários.
O interessante é que o "ecossistema do Twitter" ultrapassou o próprio Twitter em importância; posso usar o TwitterDeck e nunca mais entrar diretamente no endereço do
Twitter; já o Facebook permanece como portal para os aplicativos que abriga. O futuro do
Twitter fica em dúvida.
FOLHA - Hoje é comum cultivarmos uma persona em cada rede,
múltiplos avatares. Com tentativas
de integrar as redes sociais, como
Facebook Connect e o Google Buzz,
perderemos pluralidade?
ANGWIN - O Facebook tem convencido muitas pessoas de que
é mais seguro mostrar seu nome verdadeiro hoje.
Mas existe uma necessidade
de anonimidade que é intrínseca à liberdade de expressão, à
expressão política. Vide o
exemplo dos protestos no Irã.
Precisamos poder ser anônimos. Infelizmente o maior fórum para a anonimidade é o
MySpace, que falhou de tantas
outras formas.
O Twitter é confuso em relação à anonimidade: pede isso
de algumas celebridades, mas
não do público em geral, permite imitadores que façam paródia, mas não "imitadores sérios", há um problema aí.
A tentativa de integrar tudo
numa só senha, concentrar todas as suas relações, preocupa.
FOLHA - Assim, devemos considerar um risco que empresas como o
Google e as redes sociais colecionem
tamanha base de dados pessoais?
Acredita que possam em breve ser limitadas pela Justiça, assim como a
Microsoft teve problemas nos anos
90 por monopolizar o mercado?
ANGWIN - É um risco. Vemos
em casos como o dos hackers
chineses que atacaram o Google: mesmo que estejam bem
intencionados, aqueles que detêm as informações não podem
garantir muita segurança.
E as companhias nem sempre estão muito interessadas
em nossa privacidade.
FOLHA - Como as pessoas vêm se
acostumando a ser observadas, adicionadas e "retuitadas", caminha-se
para um mundo sem privacidade?
ANGWIN - Preocupo-me muito
com isso: a definição de privado
tem ficado mais estreita, as leis
precisam ser repensadas.
Hoje, um usuário pode ligar
para o YouTube dizendo que
uma canção de sua autoria está
on-line sem sua autorização e
eles irão removê-la; mas não há
o direito de pedir para tirarem
um vídeo de si mesmo dançando nu. Ficamos sem direito sobre nossa identidade, não é?
Não existe a mesma garantia
legal dos direitos autorais.
Muitos juristas têm refletido
sobre isso.
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