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São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2003

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t-v

* Tempo lógico (escola lacaniana) [para uso dos analistas] - Na origem, indicava o tempo das produções inconscientes do analisando. Hoje refere-se à onipotência inconsciente do analista. Seis pessoas na sala de espera foram marcadas para o mesmo horário: "É que eu trabalho com o tempo lógico...". (Maria Rita Kehl)

* Tenham paciência - (Em alguns usos, quer dizer:) "Nem vai enfrentar" [ver verbete "governo moderado"]. (Renato Janine Ribeiro)

* Tradição - Designa uma prática ou saber herdado, repetido de geração em geração. Atribui-se à tradição uma origem ancestral e uma estabilidade de conteúdo. Mas, tais características não resistem à análise. Eric Hobsbawm sublinhou, em 1983, que o conteúdo de tradições populares ou nacionais era modificado, pois tal noção comporta uma parte ilusória. Mantida com finalidades simbólicas, a etiqueta "tradicional" pode ser colada à arte, objetos ou receitas de cozinha, camuflando o passado e instituindo símbolos aos quais se identificar. Ela é "um pedaço do passado talhado de acordo com o presente". (Mary del Priore)

* Transferência (escola kleiniana) [para uso dos analistas ] - Fundamenta interpretações incompreensíveis para o analisando. Provoca delírios de auto-referência em alguns profissionais: "Meu analista é meio paranóico, acha que tudo o que eu falo é sobre ele". (Maria Rita Kehl)

* Trauma [para uso dos clientes] - Primeira hipótese freudiana sobre a etiologia das neuroses; Freud a abandonou para que seus seguidores tentassem recuperá-la. Bom antídoto contra a descoberta do inconsciente, situa a causa do mal-estar em um acontecimento da infância: "Sou assim porque tive um trauma...". Serve para justificar algumas canalhices: "Ele é violento porque o pai o traumatizou"; "ela desvia dinheiro da firma porque tem trauma de pobreza". (Maria Rita Kehl)

* Trauma de infância - Causa de todos os problemas psíquicos, segundo o Manual da Psicanálise Popular. Ali está escrito: "Tudo é questão de levar o sujeito a rememorar núcleos traumáticos que não foram adequadamente simbolizados". Alfred Hitchcock, grande leitor do Manual, criou várias histórias a partir desse verbete, como a cleptomaníaca frígida assombrada pelo assassinato do pai ("Marnie, Confissões de uma Ladra") ou o médico incapaz de simbolizar o assassinato do irmão, que ele involuntariamente provocou quando criança ("Quando Fala o Coração"). (Vladimir Safatle)

* Tudo é relativo - Expressão que se diz ser consequência da teoria da relatividade de Albert Einstein, quando é justamente o oposto. A teoria é baseada em dois absolutos: as leis naturais e a velocidade da luz no vácuo são as mesmas para qualquer observador. Einstein eliminou o relativismo que existe quando observadores movimentando-se com velocidades diferentes analisam o mesmo fenômeno. (Marcelo Gleiser)

* Vanguarda - Batalhão que, antigamente, ia à frente da tropa (e morria primeiro). Hoje, aplica-se a indivíduo ou grupo bem azeitado que, segundo explicou certa vez Roberto Schwarz, raramente se perguntam de qual corrida estão à frente. (Francisco Alambert)


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