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Papéis foram apreendidos em 1985
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os documentos e objetos que resgatam parte da obscura história de
Josef Mengele foram apreendidos
pela Polícia Federal em 1985 na residência do casal Bossert, no bairro do
Brooklin (SP), e na pequena casa onde viveu até 1979, na Estrada do Alvarenga, perto da represa Billings.
Pistas levantadas pela polícia alemã na época identificaram os Bossert como a referência de Mengele no
Brasil, do que surgiu a investida da
PF e o inquérito para apurar "a responsabilidade criminal de Liselotte
Bossert, Wolfram Bossert, Geza J.
Stammer e Gitta Stammer, em razão
de haverem dado apoio de homizio
[esconderijo] ao criminoso de guerra Josef Mengele".
O auto de instauração do inquérito, presidido pelo delegado da PF
Marco Antonio Veronezzi, também
atribui a Liselotte a prática dos crimes de falsidade ideológica e uso de
documento falso por ter registrado
na certidão de óbito de Mengele, em
1979, dados de Wolfgang Gerhard.
Austríaco, Gerhard, que saiu do Brasil em 1975, era um dos articuladores
da rede mundial de proteção aos nazistas. Ele entregou os próprios documentos (carteira de identidade, de
trabalho e motorista) a Mengele, que
apenas trocou as fotografias originais pelas suas, o que chamava a
atenção, pois ele era 14 anos mais velho que Gerhard.
Em 1979, quando morreu afogado
em Bertioga, Mengele foi enterrado
no jazigo da família Gerhard, no Embu. Segundo a polícia alemã, o verdadeiro dono dos documentos usados pelo nazista morreu em 16 de dezembro de 1978 e foi enterrado em
Graz, na Áustria.
O inquérito, que revelou o destino
do criminoso foragido desde 1945,
foi arquivado em 92, com a assinatura do juiz João Carlos da Rocha Mattos (hoje preso, acusado de corrupção e formação de quadrilha). "A investigação foi até fácil, [um trabalho]
mais de perícia. O que me impressionou foi a repercussão. Alguns pesquisadores estrangeiros chegaram a
contestar o fato", diz Veronezzi.
A polêmica em torno da descoberta histórica terminou com a realização de um exame de DNA feito pelo
filho de Mengele, Rolf, com o qual foi
possível comparar seus genes aos encontrados na ossada exumada em
1985. O teste confirmou existir 99%
de coincidência entre a composição
genética de Rolf e de Mengele.
Em regra, documentos e objetos
relacionados a um inquérito devem
ficar, assim como a papelada, sob a
custódia da Justiça. Se alguém os reclamar, podem ser devolvidos; se
não, viram cinza. No caso Mengele,
não aconteceu nem uma coisa nem
outra. Os pertences foram encontrados em outubro, guardados em duas
caixas de papelão no 10º andar da
Superintendência da PF em São Paulo, no Setec (Setor Técnico Científico), em bom estado de conservação.
O achado se deu durante um processo de correição -espécie de auditoria em cerca de 10.000 inquéritos- que está em curso em São Paulo. "Os cuidados que tomamos para
garantir as provas e elucidar possíveis dúvidas acabaram garantindo o
resgate de uma parte da história da
humanidade", afirma o perito criminal Luiz Alves, chefe do Setec.
(AM)
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