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"É impossível pensar a cidade apenas a partir do transporte público"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PARIS
Mais jovem entre os dez
arquitetos convidados para o projeto de
renovação urbana de Paris,
Djamel Klouche, 42, nasceu na
Argélia e desde os 18 vive na
França, onde é professor na Escola de Arquitetura Versailles.
Na semana que vem, embarca para o Brasil, onde desenvolve uma parceria com a PUC-Rio e a Universidade Federal
do Rio de Janeiro para a revitalização urbana da zona norte
da cidade. Ainda em Paris, conversou com a Folha sobre seu
projeto para a capital francesa.
FOLHA - Você é bastante jovem em
relação aos arquitetos selecionados.
Essa diferença se manifesta na hora
de repensar a Grande Paris?
DJAMEL KLOUCHE - Ser a equipe
mais jovem inclui uma certa
responsabilidade nesse processo de reflexão. A ideia de planejar a partir do zero, como muitos arquitetos dos anos 60, é
atualmente inviável.
O que me pareceu mais importante nesse processo foi
pensar a Paris que de fato já
existe, com métodos de reciclagem arquitetônica e rearticulação de territórios.
FOLHA - Quais foram suas principais influências?
KLOUCHE - Tenho uma relação
próxima com Tóquio e com alguns japoneses da equipe. Não
posso dizer que tomo essa cidade por modelo, mas ela me serve como referência para pensar
a relação centro/periferia.
A França, e mesmo a Europa,
costumam criticar os bairros
unicamente residenciais.
Eu, ao contrário, gosto de repensar a ideia da casa metropolitana e me inspiro em alguns
bairros da capital japonesa e no
relacionamento entre zonas
comerciais e residenciais.
FOLHA - Seu projeto foi criticado
por dar muita atenção aos carros...
KLOUCHE - Muitos arquitetos
gostam de pensar que a cidade
funcionará inteiramente baseada no transporte público. É
impossível.
Penso em carros elétricos,
menores e não poluentes. Articulados, sim, ao transporte público e às bicicletas.
FOLHA - Como lidar com o dilema
da modernização contra a preservação arquitetônica?
KLOUCHE - Gosto especialmente de pensar o centro de Paris.
Muitos falam na construção de
torres, mas não sou a favor. É
preciso criar maneiras de fazer
com que esse material histórico
desempenhe um papel contemporâneo, reformulando os
interiores e repensando o significado da arquitetura
FOLHA - Como você vê a nova rede
de trens proposta pelo secretário do
Desenvolvimento?
KLOUCHE - Não acho que seja
uma solução de todo ruim. É
evidente que prefiro trens de
superfície a trens subterrâneos,
não resta dúvida.
Mas ainda acredito que seja
possível conciliar as duas coisas
-trechos de superfície e trechos subterrâneos. Ele se propõem a construir 130 quilômetros de metrô em dez anos.
Se conseguir, é algo revolucionário. Não podemos pensar
como se se tratasse de um trem
para turistas da Disney.
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